Capítulo 19

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Ela fica na minha casa a tarde toda. Pedimos uma pizza.

-Vou botar algumas músicas para tocar. –ela me avisa enquanto saio do quarto para atender à porta.

-OK.

Pago o entregador.

Recebo a pizza e a levo para o quarto. Entrego a pizza nas mãos de Heidi. Ela se anima.

-Hummm. Cheirinho maravilhoso. – ela diz enquanto abre a caixa. -Deve estar ótima.

–Vou pegar as cervejas- ela concorda com a cabeça já mordendo a primeira fatia.

Desço até a cozinha, pego duas cervejas na geladeira e subo as escadas. Entrego-lhe uma garrafa. Ela abre imediatamente.

Sento-me na cama e abro minha cerveja. Ela pega mais um pedaço de pizza e o segura entre os dedos fazendo-me ver suas unhas pintadas com esmalte escuro. Posso ver também os seu anel, com asas abertas que se estendem sobre os outros dedos. Na outra mão está o anel com um pentagrama.

Apesar desse visual sombrio ela me parece uma criança. Eu fico admirando-a enquanto ela come com certa voracidade.

-Ai. Estava tão faminta. – ela saboreia a fatia.

-Hum. Está ótima mesmo. – eu mordo o meu pedaço.

Enquanto comemos e bebemos, o celular dela toca uma playlist.

-Ai! Eu amo essa música. – ela se entusiasma com uma das faixas. Ba­lança a cabeça de um lado para o outro curtindo o som. Para e comenta: - Ela parece que descreve você.

-Ah é?

-É. Ouça bem a letra.

Senhor escritor, por que você não conta como é? / Por que não conta como realmente é? /Antes de ir pra casa...

-Viu? Tem tudo a ver com você.

-É verdade.

-Já estou satisfeita- ela diz depois que comemos.

-Já estou legal também.

O celular dela vibra. Ela olha e o coloca de volta sobre a cama. Fico curioso e ela percebe.

-Era mensagem do meu pai.

-Ele está tentando se aproximar de você?

-Não sei se é isso. Mas se estiver, acho que já é tarde.

-Talvez agora com a doença de sua mãe, ele perceba o quanto vocês são importantes. Isso aconteceu comigo. Por que não pode aconte­cer com ele?

-Tenho minhas dúvidas. O senhor não fez com sua esposa o que o meu pai fez com minha mãe, fez?

-Ah... Não... É... Não. -Não sei o que dizer para ajudá-la.

-Eu não consigo mais acreditar que ele possa mudar.

-Heidi, todo mundo merece uma chance se estiver arrependido. E o fato dele ter feito o que fez não significa que ele não possa se arrepender e mudar.

-Pra mim agora tanto faz. –ela dá de ombros -Já não me importo. Só estou voltando para Amsterdã por causa da minha mãe. E, sinceramente, não acre­dito no caráter do meu pai. Ele é bem diferente de você. Você não pode compreender isso.

Acho que ela tem razão. Talvez eu realmente não compreenda.

-Já estou acostumada com a ausência dele. E agora eu acho que talvez seja melhor assim.

-Nossa. É duro ouvir você dizer isso.

-Mas essa é a verdade senhor Whitman. Tenho que lidar com ela.

Não toco mais no assunto. Passamos horas conversando sobre coisas banais e bebendo um pouco mais de cerveja. Heidi acaba adormecendo na minha cama, com a cabeça sobre meu travesseiro. Eu a cubro, desço as escadas e me deito no sofá para descansar um pouco.

***

Quando acordo, já é noite. Olho as horas no relógio de pulso que havia dei­xado na mesa de centro. Me assusto.

-Nossa! Dormi isso tudo!

Vou ver como Heidi está. Subo as escadas. Abro a porta do quarto. Ela não está lá. A cama está arrumada. Ela deve ter ido para casa e ficou com pena de me acordar do meu sono profundo, penso tentando me consolar do fato de não tê-la visto sair.

A EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora