Capítulo 7

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-Pode se sentar- eu aponto para o sofá da sala. – Quer beber alguma coisa?

-O senhor tem cerveja?- ela se acomoda no sofá.

-Você tem idade para beber?

-Sim. Já sou maior de 18. Se quiser mostro a carteira- ela põe a mão no bolso de trás dos shorts.

-Não precisa. Vou ver na geladeira. Só um minuto- trago as duas garrafas que estavam guardadas lá há algum tempo. Atualmente quase não bebo, exceto quando necessito muito me acalmar. E tenho estado calmo nos últimos dias. Acho que até demais.

-Obrigada. - pega a garrafa da minha mão- Eu estou atrapa­lhando o senhor?

-Não. De maneira alguma- eu me sento na minha poltrona lateral ao sofá. E fico olhando para ela esperando o que tem a dizer.

-Sua decoração é bonita. – ela bebe um gole.

-Obrigado.

-E o senhor vive aqui sozinho...

-É. Vivo sim. Vim para cá buscar inspiração longe da agita­ção de Chicago.

-E conseguiu?

-Ainda não.

-Mesmo observando a vida de outras pessoas?

-O que disse?- pigarreio.

-O senhor é voyeur senhor Whitman?

-Hã?!- as perguntas repentinas me deixam embaraçado.

-Gostou de me espiar?- ela se inclina na minha direção com aqueles olhos azuis colocando-me contra a parede.

-Eu... Não... -Antes de conseguir digerir a situação, o toque do meu celular me salva.- Acho que é meu celular tocando. Me dá licença só um minuto?

O som vem do quarto e subo as escadas rapidamente. Ainda dá tempo de atender a chamada.

-Alô?

-Oi papai! Tudo bem?

-Tudo bem filha...

-Finalmente consegui falar com o senhor. Seu telefone parece que está sempre desligado. Estava preocupada.

-Desculpe. É que eu deixo o celular desligado enquanto estou tentando escrever. Mas você já pode ligar para o fixo. Já insta­lei.

-Posso ir aí essa semana?

-Essa semana não dá filha. Ainda está uma bagunça aqui.

-Eu posso te ajudar a organizar, pai.

-Não quero que você venha aqui para trabalhar. Quando você vier vai ser apenas para me visitar.

-Então quando eu posso te visitar pai?

-Talvez semana que vem. - escuto batidas na porta aberta do quarto. Heidi está ali, fazendo gestos indicando que vai em­bora. Gesticulo com a mão esquerda para que ela espere.

-Tá bom pai... -posso sentir o tom de decepção na voz de mi­nha filha.

Observo enquanto Heidi entra no quarto. Espero que ela vá se sentar na poltrona e aguardar eu terminar a ligação. Mas ela segue até a janela, pega meu binóculo que estava ali na mesinha, coloca-o nos olhos e mira a sua casa.

Fico perplexo.

-Alô pai! Ainda está aí?- minha filha estranha meu silêncio ao telefone.

-Ah... Filha, desculpa, eu preciso desligar agora. Se cuida. - meus olhos fixos em Heidi, que está de costas para mim, dei­xando a tatuagem da fênix bem visível.

-Tá bom pai, o senhor também.

-Então é daqui que o senhor me espiona?- Heidi continua mirando a própria casa com o binóculo.

-Não! Eu uso os binóculos para observar pássaros.

Ela se vira para mim. Coloca o binóculo de volta onde estava.

-E eu pareço um pássaro?- ela vem em minha direção de ma­neira imponente olhando diretamente nos meus olhos.

-Não! Você...

Num lance rápido, ela me surpreende envolvendo meu pes­coço com seus braços e me beijando na boca. Por segundos fico sem reação. Sentir os lábios macios dela tocando nos meus é uma ótima sensação e a proximidade de seu corpo ao meu desperta meus instintos masculinos um tanto adormeci­dos. Não me lembrava como era me sentir assim.

A EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora