Em poucos minutos estamos de volta à minha casa.
-Estou faminto. – Já tinha ouvido falar que fumar erva dava fome, mas não imaginava que fosse tanta. Abro a porta que dá acesso da garagem à casa. -Vou fazer um sanduíche. Você quer um?- me dirijo à cozinha.
-Não. Estou bem.
-Tem certeza?
-Tenho sim. -Enquanto preparo o lanche na cozinha, ela fica por perto, sentada à bancada me observando. Quando fica pronto, parto e ofereço metade a ela.
-Não precisa. Estou bem.
-Você é quem sabe. - dou de ombros.
Abro uma lata de refrigerante e bebo um gole.
-Aceita pelo menos um refrigerante?- estendo a lata em direção a ela.
-É. Um refrigerante vai bem- ela pega a bebida da minha mão.
Ainda é possível ouvir os barulhos que vêm da festa na casa dela.
-Sua festa ainda está animada. - falo enquanto mastigo.
-É. Está. Me mostra o livro que o senhor está escrevendo.
-Não tenho muito o que mostrar.
-Me mostre senhor Whitman. –ela faz charme. -Quem sabe eu possa te ajudar.
Subimos as escadas e entramos no meu quarto. Abro meu notebook e mostro-lhe o manuscrito. Ela coloca sobre a escrivaninha um anel que acabou de tirar do dedo. Senta-se e lê bem concentrada.
-Eu gostei da história. –ela opina - Mas o senhor poderia botar um pouco mais de adrenalina. Talvez se a personagem engravidasse do amante.
-Não ficaria muito dramático?
-Emoção senhor Whitman. É o que a sua história precisa. Assim é que são os romances proibidos. - ela diz isso com toda segurança.
-Talvez precise mesmo. - odeio admitir, mas parece que ela entende do assunto.
-Mas na verdade eu acho que o senhor não deveria forçar tanto a barra para escrever. Relaxe um pouco que a inspiração vem. Talvez seja isso que o senhor esteja precisando no momento.
Ela se levanta.
Balanço a cabeça positivamente: -Você entende bem de literatura.
-Entendo um pouco de todas as artes. - ela me encara apoiando as mãos na escrivaninha me deixando sem jeito.
-Por que você está me olhando desse jeito?- eu a questiono.
-De que jeito?
-Provocativo.
-Estou deixando o senhor sem graça?
-Sim. Um pouco.
Ela lança um sorriso provocador e se aproxima. Olhando direto nos meus olhos me beija.
Eu a envolvo com os meus braços. Quando me dou conta estamos na cama nos beijando, ela por cima de mim. Ela se levanta e tira a blusa apressadamente. Eu peço:
-Deixe eu ver a sua tatuagem das costas. A fênix.
-Tá. -Ela se vira. Acaricio suas costas seguindo os contornos do desenho.
-É linda-Beijo suas costas de baixo para cima. Ela sente um arrepio e se contorce levemente. Isso me excita. Continuo subindo, beijando o pescoço e mordisco a orelha. Ela se volta para mim. Nos beijamos com fervor. Deslizo as mãos para baixo pelos seus quadris e aperto o seu bumbum. Ela começa a abrir o cinto da minha calça e a desabotoá-la.
-Espere!- eu seguro as suas mãos quando ela começa a abrir o zíper.
-O que foi?
-Acho melhor pararmos.
-Por quê? Algum problema comigo?
-Não. Nenhum problema com você. Você é absolutamente linda. – acaricio o seu rosto.
-Então qual é o problema?
-Não posso continuar com isso. Sinto como se estivesse com a minha filha.
-Mas eu não sou sua filha.- ela aproxima seu rosto.
-Eu sei. Mas eu... Eu não consigo continuar. Me desculpe.
Ela veste a blusa com visível frustração.
-Heidi, por favor. Não é culpa sua. -Ela me ignora, sai do quarto bruscamente e desce as escadas. Vou atrás dela fechando as calças e o cinto, o que atrasa o meu passo.
-Heidi, volte aqui. Heidi!- eu grito. Ela não para. Sai batendo a porta da frente.
Quando finalmente eu chego até a porta e a abro, ela já se foi.
Fecho a porta consternado. Mulheres odeiam ser rejeitadas. Não sei como será minha relação com ela de agora em diante. Se é que teremos algum contato.
Subo as escadas de volta ao meu quarto. Fecho o notebook. Quando estou me afastando, noto o anel dela ali em cima da escrivaninha. Pego-o. É prateado, com uma caveira incrustada. Talvez seja a única coisa que restará dela na minha vida.

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A Estrangeira
RomanceUma misteriosa jovem transforma a vida de um escritor mais velho que acabou de perder a esposa.