Capítulo 3

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Já é noite. Aqui estou eu de novo tentando escrever algo no meu notebook. Mas nada. nenhuma ideia me vem à mente. Fico apenas lembrando a cena da vizinha com o seu namo­rado.

Por que ela me intriga tanto? Seria o seu jeito sombrio?

Vou me deitar. Está tarde e não quero ficar me forçando a escrever.

Olho a foto de Lorraine sobre o criado-mudo. Parece que quando ela se foi levou junto minha inspiração.

Mal fecho os olhos e o som do rock invade meus ouvidos. Que inferno! 

Como na outra noite, tento abafar o som colocando o traves­seiro na cabeça. É impossível dormir. Será que nenhum ou­tro vizinho escuta? Tenho que resolver isso hoje.

Levanto da cama e troco o pijama por camisa e calça. Desço as escadas. Me dirijo à casa dela. Paro em frente à porta. Respiro fundo para tomar coragem. Toco a campainha. Estou nervoso. Qual será a reação deles?

A porta se abre. Não há mais como voltar atrás. Um jovem fumando cigarro e com um copo de cerveja na mão é quem me atende.

-Boa noite. Sou o vizinho da casa ao lado... -ele joga fumaça no meu rosto.

-Heidi, tem um cara na porta querendo falar com você. - ele grita me interrompendo e a seguir se retira deixando a porta aberta.

Nada dela aparecer. Me atrevo a entrar na casa. A bagunça é geral. Parece uma sucursal do inferno. Jovens bêbados, se agarrando, fumando cigarros e outras coisas.

Enquanto avanço pela confusão, uma garota passa correndo por mim. Atrás dela um rapaz gritando o seu nome com uma garrafa de cerveja na mão esbarra em meu ombro.

Caminho por um corredor. Ali me dirijo a um casal que está conversando:

-Com licença, onde encontro a dona da casa?

-Ela está ali. - ele aponta na direção para onde estou indo.

-Obrigado. – continuo avançando e chego à cozinha. – ela está de costas. O cabelo, trançado, está para frente. Usa um short jeans escuro.

Mas o que mais me chama a atenção é a tatuagem que pratica­mente cobre suas costas. É uma fênix. Não dá para ver o que ela está fazendo, mas balança os quadris em movimen­tos rápidos, parecendo acompanhar o som da mú­sica pesada.

-Com licença. Eu sou o seu novo vizinho... - tento me dirigir a ela.

-O quê?- ela se volta para mim, surpresa.

-Eu sou o seu novo vizinho. - levanto a voz e aproximo a ca­beça na vã tentativa de ser ouvido.

-Fala mais alto. Não estou conseguindo te ouvir. – ela aponta para o seu ouvido.

Então eu grito. – Eu sou o seu novo vizinho. eu queria pedir para você diminuir um pouco o volume da música. Estou ten­tando dormir e o som está invadindo o meu quarto.

-A música está te incomodando?

-Está. Está muito alta. Não está me deixando dormir.

Ela vai até a sala, desliga o som e pede de maneira um pouco irônica:

-Galera, vamos. Já está na hora. Estamos incomodando os vizinhos.

Eles tentam resistir para que a festa continue. Mas ela in­siste.

-É sério. Vamos acabar com a festa- ela diz, obrigando-os a sair.

Depois que o último participante sai, encarando-me embur­rado, ela se volta para mim:

-Pronto! Está resolvido! A bagunça acabou.

Ela fez mesmo isso? Me expôs aos seus amigos dessa ma­neira, me fazendo parecer ridículo? Não posso acreditar.

-Eu não queria acabar com sua festa. Eu só queria...

-Tenha uma ótima noite- ela me interrompe enquanto segura a porta praticamente me expulsando de sua casa.

-Boa noite- saio desconcertado.

No curto caminho para casa sinto-me mal por ter acabado com a alegria dela. Nem a tentativa de pensar que estou certo e eles errados me demove do sentimento de culpa. E também há a lembrança da vergonha que passei diante da­quela gente, a qual começa a gerar uma certa raiva contra ela.

Por que ela fez aquilo? Será que foi uma forma de vingança por tê-la espiado naquela noite?

Que seja. Pelo menos vou conseguir dormir esta noite. E conse­guir isso foi mais fácil do que eu imaginei.

A EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora