Capítulo 18

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O dia não começou muito bem. Logo pela manhã tenho que resol­ver problemas da minha editora. Ainda de pijamas, ando para lá e para cá no meio da sala com o telefone sem fio na mão.

A campainha toca. Vou ver quem é.

-Heidi?- meu sorriso não esconde a satisfação em vê-la. Ela entra. -Preciso desligar agora. Mais tarde eu retorno–despacho o pessoal para falar com ela.

Sua expressão não está muito boa. - O que faz aqui tão cedo?- pergunto. Ela esboça um sorriso. Depois, repentinamente me abraça bem apertado. Fico surpreso, mas correspondo com a mesma intensi­dade. -O que foi? Está tudo bem?

-Posso ficar aqui com o senhor?

-Pode claro. - ela se dirige ao sofá. -Já tomou café?

-Já.

-Aconteceu alguma coisa? Quero dizer, algo além daquilo que aconteceu da ultima vez que estive em sua casa. – ela acena com a cabeça positivamente, en­quanto boto o café para preparar. -Vou me trocar e então conversamos.

Quando retorno à sala com a xícara de café na mão, Heidi está exatamente como a deixei, parada, quieta. A imagem me incomoda, porque ela não é assim.

-Você vai ficar em silêncio o dia todo? – tomo um gole do café.

-O senhor ainda está escrevendo aquela história? Aquela que o senhor me mostrou? –inesperadamente ela me pergunta.

-Sim. Você quer vê-la?

-Sim, quero.

Subimos as escadas até meu quarto. Enquanto eu abro meu note­book ela se senta na cama. Leio para ela.

-É. A história melhorou bastante. – ela apoia as mãos na cama e está com as pernas cruzadas.

-Foi você quem me ajudou. - ela sorri.

-E como vai sua filha senhor Whitman?

-Ela está muito feliz. Ainda mais agora que eu fiz as pazes com meu genro. - me levanto e encosto-me à mesa com os braços cruzados e olhando para ela.

-Que bom que as coisas estão dando certo para o senhor. - ela diz isso sem nenhuma empolgação, tirando os boots. Pega um pacotinho de maconha e papel do bolso.

-O senhor não se importa que eu fume aqui, não é?

-Não. Não me importo. – a única coisa com que me importo nesse momento é o que está acontecendo com ela.

Ela prepara, acende começa a fumar, com as pernas cruzadas em posição borboleta sobre a cama.

Me aproximo e sento-me ao lado dela. – Ainda está abalada com aquela história do seu pai?

-Também.

-O que mais te perturba?

Ela suspira:- Tenho que voltar para Amsterdã.

-O quê? – quase engasgo com a notícia repentina. –Por quê?

-Minha mãe está muito doente e precisa de mim.

-Eu sinto muito. E quando você vai?

-Eu ainda não sei. O mais rápido possível.

-E a vida que você tem aqui? O que vai fazer? Com a sua casa? Com seu trabalho?

-Vou vender a casa pelo preço que conseguir. E o estúdio a mesma coisa.

-E seu pai? Como ele está reagindo a tudo isso?

Heidi balança a cabeça e faz expressão de desdém: - Me pediu para não contar a ela o que eu vi para não agra­var o seu estado de saúde. Mas eu não iria contar mesmo, indepen­dente da doença.

-O caso dela é muito grave?

-Sim. É um câncer no pulmão.

-Nossa! Deve estar sendo difícil para você, não é?

-Sim está. Imagine a possibilidade de perder a única pessoa que te ama de verdade, que se im­porta com você.

-Sei bem o que você está passando. Você pode contar comigo. Para o que precisar.

-Muito obrigada senhor Whitman. Acho que a melhor coisa que me aconteceu aqui foi ter conhecido o senhor.

-Sentirei a sua falta. E... Nunca pensei que fosse dizer isso, mas... terei saudades do som alto que vinha da sua casa.

Ela ri.

***

A EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora