Capítulo 15

2 0 0
                                    

Minha filha já se tornou mulher. Foi tudo tão rápido. Parece que foi ontem que eu via aquela menininha de cachinhos brincando de boneca. Pois é, nem a vi crescer direito. Não lhe dei a atenção mere­cida. E agora ela já tem sua própria família. E ainda assim se preocupa comigo, um pai que nunca lhe deu carinho. Ela é uma grande mulher. E isso não é mérito meu.

Enquanto divago nesses pensamentos, ela faz rapidamente meu lanche e me serve. Como bebendo café. Há muito tempo não me sentia assim, cuidado.

-Obrigado.

-De nada. – ela esboça um sorriso

-A maternidade está te fazendo bem. Você está radiante.

Sem jeito, ela abaixa a cabeça:

-Obrigada papai. Não esperava um elogio desses.

-Normal. Nunca expressei alguma admiração por você.

Ela fica sem saber como reagir à minhas palavras. O celular dela toca.

-Oi amor. - ela atende. – Ainda estou na casa do meu pai. Sim, ele está bem. -Faço cara de desdém para a falsa preocupação de meu genro por mim. -Pode deixar. Daqui a pouco eu estou indo, não vou demorar. Tá bom meu amor. Se cuida, tchau. - ela desliga

-Você já tem que ir embora, né filha?

-Posso ficar ainda alguns minutos. Se o senhor quiser.

-Claro que eu quero. Filha, eu preciso te dizer uma coisa... E nem sei por onde começar.

-O quê pai? Pode falar. Estou te ouvindo atentamente.

Abaixo a cabeça e cubro o rosto com a mão. Levanto procurando olhá-la nos olhos.

-Cat, eu nunca fui o pai que você mereceu. Você é uma filha maravi­lhosa. Fui um estúpido de não perceber isso.

-Pai...

-Talvez eu não merecesse ter uma filha como você. Ter uma famí­lia como a nossa. Deixei tudo escapar tão facilmente. -Ela abaixa a cabeça. -Você se lembra quando você tinha uma apresentação da escola? E você ficou me esperando e eu não fui? Você ficou muito chateada porque eu era o único pai que não estava lá.

Ela balança a cabeça positivamente.

-E a sua mãe? –continuo - Uma esposa maravilhosa. Uma mãe incrí­vel.

Ela levanta a cabeça. Com lágrimas nos olhos.

-Ela se dedicou tanto a mim e a você. E eu não consegui evitar que a perdêssemos. -Ela chora soluçando. -A culpa foi toda minha filha.

-Não pai. Ninguém poderia evitar aquilo. Ninguém teve culpa.

-Por mais que você diga que não, eu sempre carregarei essa culpa.

-Pai não adianta se culpar agora. Isso não vai mudar o passado. Só vai te fazer mal.

-Eu sei. Mas agora eu posso fazer diferente com você. Posso tentar compensar com você e com a Penelope.

-Claro papai! O senhor pode nos visitar quando quiser. E o Bob vai gostar de receber sua visita.

-Filha, de qualquer forma eu... Quero te pedir perdão. Me perdoe por não ter ido à sua apresentação, me perdoe por não ter feste­jado com você quando se formou. Me perdoe por eu não ter sido o pai que você merecia. –agora é eu quem está com lágrimas nos olhos.

-Pai –ela chora emocionada -Eu te perdoo. Eu te perdoo. – nos abraçamos. Sinto sua cabeça no meu peito. É o abraço mais reconfor­tante de toda a minha vida.

A EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora