Minha filha já se tornou mulher. Foi tudo tão rápido. Parece que foi ontem que eu via aquela menininha de cachinhos brincando de boneca. Pois é, nem a vi crescer direito. Não lhe dei a atenção merecida. E agora ela já tem sua própria família. E ainda assim se preocupa comigo, um pai que nunca lhe deu carinho. Ela é uma grande mulher. E isso não é mérito meu.
Enquanto divago nesses pensamentos, ela faz rapidamente meu lanche e me serve. Como bebendo café. Há muito tempo não me sentia assim, cuidado.
-Obrigado.
-De nada. – ela esboça um sorriso
-A maternidade está te fazendo bem. Você está radiante.
Sem jeito, ela abaixa a cabeça:
-Obrigada papai. Não esperava um elogio desses.
-Normal. Nunca expressei alguma admiração por você.
Ela fica sem saber como reagir à minhas palavras. O celular dela toca.
-Oi amor. - ela atende. – Ainda estou na casa do meu pai. Sim, ele está bem. -Faço cara de desdém para a falsa preocupação de meu genro por mim. -Pode deixar. Daqui a pouco eu estou indo, não vou demorar. Tá bom meu amor. Se cuida, tchau. - ela desliga
-Você já tem que ir embora, né filha?
-Posso ficar ainda alguns minutos. Se o senhor quiser.
-Claro que eu quero. Filha, eu preciso te dizer uma coisa... E nem sei por onde começar.
-O quê pai? Pode falar. Estou te ouvindo atentamente.
Abaixo a cabeça e cubro o rosto com a mão. Levanto procurando olhá-la nos olhos.
-Cat, eu nunca fui o pai que você mereceu. Você é uma filha maravilhosa. Fui um estúpido de não perceber isso.
-Pai...
-Talvez eu não merecesse ter uma filha como você. Ter uma família como a nossa. Deixei tudo escapar tão facilmente. -Ela abaixa a cabeça. -Você se lembra quando você tinha uma apresentação da escola? E você ficou me esperando e eu não fui? Você ficou muito chateada porque eu era o único pai que não estava lá.
Ela balança a cabeça positivamente.
-E a sua mãe? –continuo - Uma esposa maravilhosa. Uma mãe incrível.
Ela levanta a cabeça. Com lágrimas nos olhos.
-Ela se dedicou tanto a mim e a você. E eu não consegui evitar que a perdêssemos. -Ela chora soluçando. -A culpa foi toda minha filha.
-Não pai. Ninguém poderia evitar aquilo. Ninguém teve culpa.
-Por mais que você diga que não, eu sempre carregarei essa culpa.
-Pai não adianta se culpar agora. Isso não vai mudar o passado. Só vai te fazer mal.
-Eu sei. Mas agora eu posso fazer diferente com você. Posso tentar compensar com você e com a Penelope.
-Claro papai! O senhor pode nos visitar quando quiser. E o Bob vai gostar de receber sua visita.
-Filha, de qualquer forma eu... Quero te pedir perdão. Me perdoe por não ter ido à sua apresentação, me perdoe por não ter festejado com você quando se formou. Me perdoe por eu não ter sido o pai que você merecia. –agora é eu quem está com lágrimas nos olhos.
-Pai –ela chora emocionada -Eu te perdoo. Eu te perdoo. – nos abraçamos. Sinto sua cabeça no meu peito. É o abraço mais reconfortante de toda a minha vida.
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A Estrangeira
RomanceUma misteriosa jovem transforma a vida de um escritor mais velho que acabou de perder a esposa.