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— VOCÊ É UMA FILHA INGRATA ISSO SIM! TE COLOQUEI NO MUNDO E NÃO SERVE NEM 'PRA FAZER O QUE MANDO! — Grita mais uma vez.

Minha cabeça doía cada vez que ouvia seus gritos atrás da porta trancada do meu quarto.

Respiro fundo me agachando rente a cama e levantando o colchão. Procuro por um tempo, e quando estava prestes a surtar, vejo os meus únicos e últimos quarenta dólares.

Os coloco no bolso da minha calça jeans e levanto pegando um moletom quente. O visto com pressa e destranco a porta, passando pela mulher que biologicamente sou obrigada a chamar de mãe.

— ERA O QUE VOCÊ QUERIA, NÃO ERA? VOU BUSCAR A MERDA DAS SUAS DROGAS. — Grito desviando do seu toque e bato a porta de entrada.

[...]

Caminho devagar nas ruas escuras e desertas. Era tarde da noite, tão frio que via o ar sair da minha boca.

Não acreditava que estava sendo tão fracote a ponto de estar refazendo aquele caminho mais uma vez. Só estava cansada de ouvir gritos e insultos. E essa nem era a pior parte.

A pior parte eram os hematomas doloridos pelo meu corpo.

[...]

Adentro a rua tão conhecida por mim.

— E aí G, quanto tempo, o que andou fazendo? — Diz Jake sorridente.

Ele mata pessoas. Okay, não diretamente, mas fornece o que elas precisam para que isso aconteça algum dia.

— Hey Jake. Desentoxicando minha mãe. Tentando, na verdade. Mas acho que já sabe a resposta. — Dou de ombros com os olhos cheios de lágrimas.

— Minha menina, sinto muito. — Lamenta me abraçando e me permito chorar entre seus braços.

Por mais que ele fosse um filha da puta ordinário, me cuidou e protegeu em meus piores dias. E o melhor disso? Nunca sequer me forneceu uma droga, me fez prometer que nunca iria ingerir nenhuma delas.

Era um choro magoado, fazia minha garganta queimar. Queria gritar para tentar aliviar a dor. E foi o que fiz. Foi agonizante. Lamento a todos que ouviram meu pedido de socorro por meio de expressão linguística.

Após um tempo saio de seu abraço enxugando as lágrimas com a manga do meu casaco.

— Tem certeza? — Pergunta e confirmo com a cabeça. — O de sempre? — Indaga.

— Por favor. — Afirmo.

— Sessenta dólares. — Diz e tira o saquinho de drogas do bolso.

— Só tenho quarenta. Não tem nada mais barato? — Questiono.

Quando foi que essa porra ficou tão cara?

— Ter tem, mas não vai adiantar a longo prazo. Você sequer tem dinheiro sobrando 'pra passar a semana? — Fala preocupado.

— 'Tá tudo bem, me alimento na escola. — Dou de ombros.

— Não G, isso é péssimo. Seguinte, me dá quarenta e leva isso. Toma. — Me entraga as drogas e um maço não tão grande de dinheiro.

— O quê? Não Jake, não posso aceitar, nunca vou conseguir te pagar. — Recuso o entregando o maço e coloco as drogas no bolso do jeans.

— Não precisa me pagar, é de coração. São trezentos dólares, compra comida e remédios, sua mão 'tá horrível. — Insiste e enfia o dinheiro dentro da minha blusa.

— Já me disseram isso hoje. — Sorrio de lado lembrando da azulada.

— Se meteu em brigas na escola? — Pergunta risonho.

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