1.8

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Mais um dia ouvindo aquela musiquinha de comercial de manteiga. Mas estou muito feliz de passar as minhas tardes, por hora, até o fim do verão servindo pipoca e entregando as pessoas copos gigantes de algum refrigerante específico e guloseimas.

Uma boa notícia que veio depois desse emprego? Consigo me bancar sozinha. Isso me fazia feliz. Sabe, estou me aproximando ainda mais de Jake. Ele vem me buscar todos os dias e as vezes quando não está envolvido no seu trampo saímos para nos divertimos, comer e transar é claro. Por que as coisas não podiam ter sido diferentes?

O ruivo me ensinou a tocar violão e Billie apenas me deu de brinde um coração partido irreparável. É uma comparação idiota mas a ex azulada não me ensinou nada além disso. Mas agora posso tocar músicas tristes pelo menos.

O lado negativo disso tudo? Danielle e Billie sempre vinham assistir filmes. E tinha que a atender, sempre pedia a mesma coisa e fazia as mesmas perguntas e claro, tinha as mesmas respostas.

Os cabelos não mais azuis agora em um cinza escuro quase em preto, mexiam comigo. Me senti ainda mais culpada, era como estar traindo Jake, porém não tínhamos nada erámos bons amigos coloridos.

O tanto que desejava Eilish chegava a ser crime. Era incontrolável, não conseguia parar de encará-la até que saísse da onde meus olhos alcançavam. O jeito que andava, as expressões, os sorrisos mesmo que estivessem meio perdidos. Desejava que ela andasse em minha direção para realmente falar comigo, que os seus sorrisos fossem meus. Nunca irei superar.

Sei que querem saber o que aconteceu naquela noite. Também quero, podem acreditar.

— Tudo bem? — Ouço a voz rouca mas suave de Billie.

Não digo nada apenas concordo com a cabeça entre meus soluços.

— Algo me diz que não. — Retruca se sentando ao meu lado. — Batizei tão mal a bebida? — Indaga divertida.

Okay, fui uma estúpida.

— Por que fez isso? — Pergunto limpando minhas lágrimas.

— Não sei, tenho dezessete anos, quero fazer coisas. Sentir coisas. — Dá de ombros.

— Sinto muito por te fazer sentir coisas ruins. Só queria dizer que você não sabe muitas coisas sobre mim então não entende meus motivos. Me desculpa. — Desabafo sentindo meu lábio inferior tremer.

Sim. Estava disposta a deixá-la partir.

— Se essa é a sua justificativa você tem tempo de arranjar outra. Não torne a sua culpa de não me fazer entender os seus motivos como minha, não sou vidente, não tenho uma bola de Cristal e muito menos leio mentes Gwendoline. Se torna injusto você tirar um peso das suas costas e jogar para as minhas. — Suspira. — Eu posso ser errada, e sou, em muitas coisas. Mas minha negligencia não foi o suficiente 'pra terminar com a gente.

— Até os meus quatro anos minha vida era perfeita, bom pelo menos era o que via e sentia. Meu pai foi um homem incrível, o único homem descente que conheci na vida e a única pessoa que me inspiro 'pra um dia ser com os meus filhos. Isso se eu de fato ter filhos. — Sorrio de lado. — Ele segurou as pontas tão bem que quando tudo deu errado estávamos na boca de um vulcão em erupção. Tudo desabou tão rápido que a felicidade parecia uma piada de mau gosto. — Encaro fixamente a arquibancada, do outro lado do campo, a minha frente. — Meus pais se separaram porquê minha mãe virou usuária de drogas, e o Estado concedeu minha guarda para ela e deu ordem protetiva contra o meu pai. Ela deu 'pro Juiz e ele fez o que a mesma queria. Foi uma bela mãe. — Conto.

— Foi? — Indaga confusa.

— O que importa é que dentro de tudo o que pude fazer e de todas as coisas que ela me causou cuidei dela e a amei mesmo assim, porquê o que via dentro dos seus olhos era a mulher justa e carinhosa que cuidava de mim e não aquela que me deixou ser violentada aos doze e me lançou a toca dos leões aos quatorze. Leão esse que é o meu melhor amigo que além de cuidar de mim até hoje me mantém longe de drogas e qualquer coisa que possa terminar de arruinar a minha vida. — Revelo finalizando.

— Sinto muito. — Responde baixo, praticamente sussurrando.

— Não sinta, já senti sozinha. Acabou. Ela morreu faz uma semana e por mais triste que possa ser, é como se pudesse respirar novamente. — Desabafo sentindo uma lágrima solitária escorrer.

— Você é a pessoa mais corajosa que conheci. Obrigada por ser tão durona. — Ouço Billie falar.

— Preferia nunca ter passado por isso e ser fraca. Pessoas fracas não afastam pessoas e não perdem amores. — Rebato.

— Você não quer ser eu, nunca repita isso de novo. — Empurra meu ombro com o seu me fazendo rir baixo. — Me desculpa por ser fraca e te deixar escorregar por entre os meus dedos. Acabei de perder o maior amor que já tive um dia. Me perdoa. — Assume me deixando surpresa.

— Viu? Não somos feitas uma para a outra. — Digo a fazendo me encarar firme. — Precisamos de pessoas que nos confortem que tirem a culpa que temos, precisamos estar completas. Estarmos juntas por mais que pareça algo completo é suicídio. Uma bomba relógio. — Conto.

— Antes de deixar que outras pessoas tentem desarmar nossas bombas, me deixa alarmar a sua? — Pergunta.

— Como? — Indago confusa.

— Me deixa te ter. Quero me lembrar de você, desse jeito, 'pra sempre. — Diz.

Sorrio antes de selar nossos lábios. Se eu nunca transei embaixo de uma arquibancada, para tudo se tem uma primeira vez. Nunca esqueceria dos seus beijos, as mãos passando pelo meu corpo, os dedos dedilhando minha roupas para então se livrarem dela. Como seus lábios deixaram marcas em meu pescoço ou como a sua língua fazia um ótimo trabalho. Cabelos suados, bochechas avermelhadas, apertos firmes, boca vermelha entreaberta, gemidos. Seus dedos fazendo pressão em um aperto em meu pescoço. Nem a última vez que minha língua passeou pelo seu corpo ou meus dentes se fecharam sobre a sua pele. Naquele momento queria que seu gosto ficasse no meu paladar para sempre. A última vez que vi seus olhos claros e intensos revirarem nunca irá sair da minha mente.

— G? Hey! 'Tô falando com você! — Sou tirada das minhas lembranças pela voz de Jake que estalava os dedos em minha frente, já que estávamos separados pela bancada.

— Oi. Desculpa estava pensando nos boletos. — Sorrio doce o arrancando uma risada.

— Seu turno fechou. — Avisa a minha colega.

— Valeu, Claudia. Até amanhã. — Me despeço tirando o meu avental a atirando o mesmo.

— Até Gwen. Boa noite. — Fala pegando a peça.

— Pode apostar que vai ser. — Diz Jake me fazendo rir.

— Idiota. — Reviro os olhos. — Vamos embora. Boa noite. — O puxo.

{···}

avocada_aaa

College • Billie Eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora