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Jogada na cama do Hotel tão conhecido por mim olhando para o teto bege e pensando em tudo o que aconteceu e no que me transformei. Esses pensamentos perdidos e aleatórios me fizeram pensar que Aimée desistiu da gente, quero dizer, da nossa amizade.

Entendo que ela tenha ficado chateada comigo por ter levado Jake também como meu acompanhante no Baile, mas essa chateação aconteceu, pelo menos a maior parte dela foi culpa das suas expectativas. As que ela criou sobre mim, sobre a gente.

Nós nos beijamos sim e ficamos um pouco mais afetivas e preocupadas uma com a outra. Mas não viramos um casal, sendo sincera nem sequer pensei numa possibilidade de sermos um casal ou algo semelhante, pode ser que tenha errado e deveria na época ter conversado sobre o que erámos e/ou aonde queríamos chegar com tudo aquilo.

Honestamente não cogitei a ideia de conversar sobre isso pois na minha cabeça não existia o termo "a gente", ainda mais juntas.

Talvez deva ir conversar com ela, talvez não. Eu não sei. Sou interrompida pelo interfone tocando. Ofego alto e sem muita vontade levando da cama andando em passos rápidos até o mesmo.

— Senhorita Gwendoline, boa tarde. Uma moça chamada Billie deseja subir, autorizo? — Indaga o recepcionista educadamente me deixando surpresa.

— Boa tarde. Pode deixar ela subir. — Autorizo.

— Okay. Obrigado. — Diz e apenas desligo.

Ando rapidamente ao closet abrindo o mesmo e pegando uma muda de roupas descente. A visto rapidamente e solto os meus cabelos, foi tempo que tive já que ouvi batidas na porta. Sem muita demora abro a porta dando de cara com uma Billie de cabelos cinzas escuros, um conjunto de camisa e bermuda na mesma cor tendo a Sailor Moon estampada na mesma e sacolas de papel em suas mãos.

— Fui comer tacos e lembrei de você. Por mais que não estejamos mais juntas pensei: "Por que não comprá-los e ir comer com a Gwen?" Você ainda é a minha amiga, certo? — Segue uma linha de raciocínio e acaba ficando confusa no final me fazendo sorrir de lado.

— Sim, sou sua amiga. Entra. — Dou espaço para a mesma.

[...]

— Como descobriu aonde eu estou? — Pergunto curiosa dando uma última mordida no tacos que comia.

— Meu irmão. De alguma forma ele sabe de tudo e de todos nessa cidade. — Responde dando de ombros após mastigar e engolir com calma.

— Meu Deus? — Dou risada. — Ele é tipo um agente secreto que cuida da vida de todos? — Rebato ainda rindo abrindo a latinha de refrigerante.

— Tipo isso só que do lado oposto do agente secreto. — Fala me fazendo franzir a sobrancelhas.

— Ele é o vilão então? — Questiono.

— Da onde você acha que a gente tem tanto dinheiro?— Sorri de lado, sacana.

— Seu pai é empresário e a sua mãe é a melhor advogada de Los Angeles. — Respondo óbvia.

— Claro, claro. Advogada e empresário depois de passarem vinte reencarnações trabalhando. — Diz irônica.

— Você 'tá dando um nó na minha mente. — Falo por fim me deitando na cama, a observando comer.

Tão linda. Como fui capaz de perdê-la.

— Imagina eu sabendo que a minha vida inteira foi uma mentira e por um tempo também acabei sendo. — Fala dando de ombros.

— Tem alguma coisa que queira me contar? — Pergunto a encarando firme.

— Confio em você e de verdade não deveria estar fazendo isso. Por favor, não importa o que aconteça, não conta 'pra ninguém. — Suspira nervosa desistindo de comer.

— Tudo bem, não vou contar, pode confiar em mim e ficar tranquila. — Asseguro.

Que merda estava me enfiando. Puta que pariu.

— Quando pude finalmente ser quem eu realmente era, quando pude me afastar das pessoas más sem que fosse ser chantageada, pude estudar, recuperar o tempo perdido, treinar o meu Time, jogar com e por eles. Percebi como era bom ser verdadeira viver a verdade, sentir a verdade. — Suspira. — Como é bom deitar no travesseiro e dormir sem pensar que tudo é uma mentira e terá que fingir aquilo, sustentar aquela merda inexistente. — Desvia o olhar do meu. — Quando meu irmão era pequeno e eu nem havia nascido nós tínhamos uma vida honesta em San Diego. Meu tio, irmão do meu pai, seguiu o negócio do pai dele, meu avô paterno, lá em Vegas. Sabe como é né? O que se faz em Vegas, fica em Vegas. — Sorri de lado. — Lá ele coordenava todo um tráfico de drogas. Todas as drogas, do melhor tipo, caras. Aquela cidade é uma perdição jovens no auge da maior idade levando a sério que tudo que fariam lá seria pertencente apenas a aquele lugar. Fazendo coisas sem pensar nas consequências. Até que um dia, uma merdinha decidiu que trabalharia 'pra ele, mas cagou nas calças com a pressão da polícia e contou tudo. Pegaram meu tio, ele morreu em um tiroteio. — Suspira nervosa dando uma pausa para dar longos goles em meu refrigerante me arrancando um riso baixo.

— Enfim tudo acabou, mas ainda tinham chefes 'pra pagar e "funcionários" para receber. Nossa vidinha humilde era uma bosta, cada vez mais no fundo do poço. Nós nos mudamos para Los Angeles depois do meu pai pagar todos com nossas últimas economias tentando acabar com aquilo de uma vez por todas, isso até minha mãe contar que estava grávida. Eles mal mantinham o Finneas, passavam fome para dar tudo a ele. Outro bebê não era uma coisa boa. E acredite eu agradeceria se eles fizessem um aborto, mas não, meu pai resolveu desenterrar tudo e virou o chefe de toda aquela merda. Por muito tempo era ele que comandava, mas Finn resolveu assumir tudo 'pra que se um dia algo der errado, ele seja o culpado. — Diz limpando uma lágrima solitária. — Nossos pais assumiram isso e fizeram essa mentira por amor, por mim, e ele quer carregar essa cruz 'pra que ninguém seja culpado disso. Ele é o melhor irmão do mundo e se o pegarem um dia, não vou conseguir viver. — Soluça.

— 'Tá tudo bem Billie. — Me aproximo a abraçando. — São riscos que todas as pessoas que assumiram correram, mas tenho certeza que Finneas é inteligente e vai dar um jeito. Vai dar tudo certo. — Acaricio os seus cabelos.

Somos interrompidas pelo meu celular. Era Jake. Tinham muitas mensagens do mesmo, mas não havia visto. Atendo imediatamente preocupada.

— Aconteceu alguma coisa? — Indago assim que deslizo o dedo pelo ícon verde brilhando na tela.

— G, você 'tá sozinha? — Pergunta nervoso me ignorando.

— Com uma colega do Colegial. Por que? — Questiono confusa.

— Eu preciso falar com você, é urgente. É sobre a Billie. — Conta.

College • Billie Eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora