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O terceiro e consecutivo dia dentro daquela biblioteca. Tentando me concentrar no meu trabalho mesmo com meus olhos me traindo e me obrigando a observar as garotas sorridentes à minha frente que para a felicidade de alguns e tristeza de outros, só uma delas estava lá aquela noite.

Billie é capitã do time de futebol americano, é claro que vocês sabiam disso. Como capitã ela precisa estar no último treino de seu time antes do primeiro jogo pelo campeonato estadual. Pelo que eu entendi um dos jogadores se machucou e ela vai jogar pelo número da camisa do garoto.

Eilish tinha me convidado no dia anterior para ir assisti-la jogar, falei que ia pensar, mas agora não tem o que pensar. Estou presa nessa escola mesmo, quando terminarmos o trabalho provavelmente o jogo vai estar começando. Não tenho muita opção, certo?

Aimée iria ficar mas algo aconteceu em sua casa e a mesma foi embora assim que terminamos. Respiro fundo aborrecida enquanto guardo meus materiais na mochila. Antes de sair da biblioteca e me dirigir a um banheiro próximo devolvo os livros antigos.

[...]

Saio de um dos boxes disponíveis no local e ando sem pressa até a pia lavando as mãos, como pessoas normais e higiênicas deviam fazer.

— Que coincidência. — Ouço a voz de Danielle em uma falsa surpresa, saindo do último box.

— Coincidência? — Indago fechando a torneira buscando um papel toalha.

— Desde que entrei nessa escola só vejo você e Billie o tempo inteiro. — Ri abrindo a torneira da pia ao meu lado.

— Ah, deve ser coincidência mesmo. — Sorrio sem mostrar os dentes.

A coincidência que você força para ficar sempre se esfregando na Billie.

Vai ver o jogo hoje? — Pergunta curiosa.

— É vou sim. — Confirmo pegando a minha mochila andando em direção a porta.

— Tomara que o time da Bill ganhe, quero muito ir 'pra festa de comemoração. — Comenta.

— Festa? — Paro me virando para olha-la.

— Os comentários sobre essas festas da Billie são incríveis. Dizem que diferente das de início do ano ela sempre leva garotas 'pra cama em festa do time. — Sorri de lado. — E pelo o que ouvi ela é ótima na cama, espero que fique comigo. — Fala.

— Se é o que você quer, boa sorte. — Dou de ombros.

— Não se faça de desentendida Gwendoline. — Se aproxima de mim rapidamente. — Ouvi vocês duas. Queria muito entender o que ela vê em você, mas não consigo. Ainda irei provar que eu estou a altura de uma mulher como ela. — Fala e passa por mim esbarrando, propositalmente, em meu ombro.

Danielle achava mesmo que ia brigar por mulher? Pois não ia. Apesar de me doer muito pensar na possibilidade de Billie gostar ou se apaixonar por ela. Mas ainda poderíamos ser amigas, acredito que estar com ela é além de beijos na boca.

[...]

As arquibancadas estavam lotadas, mas acho um lugar vago depois de tanto procurar. Logo o jogo se iniciou, jogo esse tenso e acirrado. Quase tinha um ataque cardíaco quando marcavam ponto em cima de nossa escola.

Eram os últimos minutos de partida, os dois times estavam empatados. Não sei se sou a única que pensa assim, tudo bem perder todos perdemos diante de várias coisas, mas perder um jogo dentro do próprio campus, ou melhor, em "casa" como se diz, é uma humilhação.

Um minuto. Sessenta segundos para virar, nada. Cinquenta segundos, nada. Quarenta segundos, nada. Trinta segundos, nada. Vinte segundos, nada.

E como as Meninas Super Poderosas, Billie aos últimos dez segundos de partida salvou o jogo com um lance feito espetacularmente. Queria muito ver em câmera lenta como mostram na TV a cada pondo marcado.

Enquanto a arquibancada que estava vibrou enlouquecida a mesma em nossa frente, ao outro lado do campo, ficou visível e compreensivelmente cabisbaixa. Estavam desclassificados do campeonato.

Visualizei Billie ser abraçada pelo seu time, o sorriso dela estava especialmente radiante aquela noite e nem preciso explicar o motivo.

Vejo um rabo de cavalo muito bem feito e ruivo correr na direção da de cabelos azulados a abraçando. Eilish retribuiu sorridente, após o contato ser finalizado vi todos gritarem em um coro, elas estavam se beijando. Sinceramente.

Saio da arquibancada andando para dentro da escola em busca do vestiário. Hoje em especial por conta do jogo os vestiários estavam abertos tanto masculinos quanto femininos. É difícil admitir mas a luz lá em casa foi cortada, tenho tomado banho frio, e como devem saber estamos no inverno. Sinto me prestes a congelar.

Adentro no mesmo e me tranco em um box tomando um longo e quente banho. Coloco a mesma roupa trocando apenas de calcinha e substituindo a blusa de moletom branco por um casaco, no mesmo tecido, em preto.

Abro a porta de vidro e coloco meu par de tênis deixados ali fora. Me dirijo a pia organizando as roupas no fundo de minha mochila, retiro os resquícios borrados de rímel na parte de baixo dos meus olhos, causado pela água quente no chuveiro. Desembaraço meus cabelos molhados e uso o secador disponível ali para secá-los. Assim que acabei, estava prestes a sair dali e ir para casa.

— Gwendoline, te vi na arquibancada mas depois sumiu. — Ouço a voz de Billie e olho em sua direção.

Enrolada na toalha tendo outra em suas mãos enxugando seus cabelos azulados.

— Viraram refrigerante no meu cabelo. — Minto dando de ombros. — Parabéns pela vitória. — A parabenizo jogando minha mochila sobre um dos meus ombros.

— Quer vir 'pra festa? — Pergunta.

— Obrigada, mas não, está tarde preciso voltar 'pra casa. — Recuso.

— Quer carona? Hoje 'tá frio 'pra caralho. — Oferece.

— Deixa 'pra uma próxima. — Sorrio de lado. — Se tiver próxima. — Sussurro para mim mesma.

— Por que está me afastando? — Indaga de supetão.

— Não estou te afastando. — A olho franzido as sobrancelhas.

— Essa é a parte que mais odeio em você, sabia? Esse seu cinismo. — Fala brava. — Desde que Danielle chegou, ou melhor, desde essa droga de trabalho você me afasta. Gosto de sair da escola e te encontrar, gosto de matar aulas com você no banheiro. — Assume.

— Gosta da Danielle também. Não tem como gostar de duas coisas iguais ao mesmo tempo. — Rebato.

— Então é isso? — Diz indignada. — Ela me beijou e eu retribui sim, porquê não somos nada uma da outra, nunca fomos. Achei que soubesse disso. — Afirma.

— Eu também achei. — Falo por fim e saio do local em passos rápidos para fora da escola.

College • Billie Eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora