Capítulo 9

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   Pela pequena janela eu conseguia ver a escuridão da noite dando lugar a um tom cinza pálido, a noite fora chuvosa e provavelmente, o dia também seria.
— Amor? — Miguel não se mexeu, nem gemeu quando toquei a sua perna, mas sua pele continuava pegando fogo e ao encostar o ouvido junto à sua boca pude sentir sua respiração quente.

   Não ouvi nenhum barulho vindo de fora do quarto. Talvez os sequestradores tivessem ido pegar o resgate e logo alguém viesse nos tirar dali... a esperança que começava à surgir em meu coração acabou quando me arrastei até a porta e tentei ouvir alguma coisa e os roncos deles chegaram aos meus ouvidos. Decepcionada, voltei para perto de Miguel. Eu estava com muita sede. Minha garganta estava tão seca que ardia e meu estômago roncava sem parar. Até mesmo a dor em meu corpo dera lugar a uma estranha sensação de dormência.
Mas por pior que fosse o meu estado, não se comparava ao do Miguel. Mesmo sem ele gemer, a expressão de dor em seu rosto era de cortar meu coração. Sua pele estava pálida, suas roupas estavam sujas de sangue, poeira por ter sido arrastado no chão e pelo odor forte, ele havia urinado na calça. Eu mesma, no dia anterior, precisei urinar em um canto do quarto, porque tinha certeza que se chamasse os bandidos pedindo para ir até o banheiro, aquele desgraçado teria abusado de mim outra vez.
Tentei levantar, para caminhar um pouco, mas cai sentada. Acariciei o rosto do meu marido e um pensamento horrível passou pela minha cabeça. Quando ele acordasse, provavelmente não iria querer nem me ver. A vontade de chorar era enorme, mas não sei se por já ter chorado muito ou pela falta de líquidos, pois a última vez que eu havia bebido água fora na tarde seguinte ao sequestro e pelas minhas contas já estávamos ali há três dias, o fato era que apesar de querer chorar, as lágrimas não vinham.
— Eu não vou aguentar se você não quiser mais ser meu marido... — falei acariciando sua pele quente — mas tenho que me preparar para isso, afinal, que homem continuaria casado com uma mulher depois de ouvir...? — Era impossível terminar aquela frase.
   Deitando ao lado dele outra vez, adormeci.

                      Henrique

— Não tô gostando de todo esse silêncio Heitor. — falei enquanto olhava mais uma vez a rua deserta à nossa frente.
— Você dizia o mesmo quando ficávamos vigiando a casa dos Moura.

   Nos últimos dois dias nós passamos várias horas de olho na casa da família Moura, claro que de longe. Em todas essas vezes, fiquei nervoso, com medo que a polícia aparecesse e nos prendesse, o que não aconteceu, mas um pressentimento me dizia que eles também estavam de olho em nós. Eu só não entendia porque eles ainda não haviam feito nada.
— Eu não sei não mano. Você acha mesmo que eles vão pagar o resgate e nos deixar fugir assim, sem chamar a polícia?
— Se fosse seu filho, você chamaria a polícia e arriscaria a vida dele?
— Não.
— Então pare de encher meu saco com essas reclamações idiotas!
— Espero que você esteja certo. — Falei.
— Eu tô certo porra! — o celular dele vibrou — fala Geraldo. E eles já têm o dinheiro? Então vamos em frente. Já sabe o que fazer. Isso, depois de amanhã nos encontramos para dividir o nosso dinheiro.  — Ele desligou e me olhou rindo — Eu não disse? Eles já mandaram buscar o dinheiro!
— E...?
— Agora nós esperamos. Em alguns minutos teremos nosso dinheiro.
   Eu queria estar confiante como ele, mas o frio que sentia na barriga era um sinal, que tentei ignorar.


              Mirtes

— E se quando a polícia chegar eles fugirem e...? — Monique me olhou preocupada.
— Não filha, temos que ter fé. A polícia vai prender esses bandidos e encontrar o Miguel e a Vanessa.
— Sua mãe tem razão. — concordou Míriam, ela foi até minha filha e segurou suas mãos — Eu também estou com medo, mas a Vanessa é a pessoa que eu mais amo e não podemos confiar na palavra de bandidos. Quem nos garante que quando receberem o resgate eles nos devolverão os dois?
— Estou com tanto medo. Eu não quero que nada de ruim aconteça com eles... — Monique disse chorando.

Um amor maior que o teuOnde histórias criam vida. Descubra agora