Capítulo 10

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             Vanessa

O quarto do hospital era completamente diferente do quarto escuro em que ficamos no cativeiro, mas sempre que olhava para as paredes claras eu não conseguia evitar de lembrar daquela escuridão, daquela humidade e principalmente, da sensação de ter Miguel desacordado ao meu lado. Nunca na vida senti tanto medo.
Virei para o outro lado na cama e fiquei observando minha mãe dormir, mas eu não conseguia dormir, até pensei em pedir algum medicamento que me ajudasse à dormir, mas desisti. Não queria tornar-me dependente de medicações, por mais que aqueles momentos horríveis não saíssem da minha mente, eu tinha que ser forte e lutar para superar.
- Dá-me forças senhor! - Pedi em um sussurro e tinha fé que ele me ajudaria. Em outra ala daquele hospital, meu marido estava lutando pela vida e para mim, era inimaginável, viver sem ele. Miguel tentou me defender, levou aqueles tiros por mim e a sensação de incapicidade que tomava conta de mim me sufocava.
- Filha, o que foi? - Minha mãe acordou e veio até a cama - Está sentindo dor?
- Não mãe. - Não queria mentir para ela, mas também não queria precupá-la e sentia dores por todo o meu corpo.
- Tente dormir um pouco meu amor.
- Não consigo mãe. Eu quero ver o Miguel, saber se ele está bem.
- Ele vai ficar bem filha e você precisa descansar. Quando ele  sair da UTI você vai poder vê-lo.
Minha mãe jamais entenderia como eu me sentia, ninguém entenderia. Era um misto de dor, revolta, tristeza e esperança. Não queria sentir-me assim, mas era impossível sentir-me de outro jeito. E só me restava esperar.

      No dia seguinte...
 

   Monique veio me visitar.
- Como está o Miguel? - Foi a primeira coisa que falei ao vê-la.
- Melhor. E você como se sente? - Perguntou sentando ao lado da cama e segurando minha mão.
- Eu... - Olhei para a minha amiga e não pude manter a mesma atitude que tive quando o meu pai veio me visitar e não contei para ele o que aconteceu. Ele sofreria muito e ao contrário da minha mãe, apesar de todo aquele tamanho e força física, meu pai era muito sensível e não suportaria saber do mal que me fizeram - ...Não consigo esquecer tudo o que aconteceu...
- Oh minha amiga! Sei que o terror pelo qual você e meu irmão passaram ainda está muito vívido em sua mente mas...
- Eu fui violentada... - Contei interrompendo-a.
- O quê? - Perguntou ela chocada - Eu não sabia...
- Pedi a minha mãe e a médica para que não contassem à ninguém.
- O meu irmão...
- Ele sabe. Foi por isso que atiraram nele... - O choro voltou - ...Ele tentou me proteger...
- Oh Vanessa! - Ela levantou-se, me abraçou e mais uma vez deixei que as lágrimas lavassem a minha dor.
- Desculpa dividir algo horrível assim com você amiga, mas essa dor está me sufocando. - Falei tentando conter um soluço.
- Não peça desculpa, ao contrário, eu é que devo me desculpar por não ter vindo te ver antes. - Pediu triste.
- Eu não estava sozinha e sei que você estava preocupada com o Miguel e eu também estou.
- O médico disse que correu tudo bem na cirurgia e agora temos que esperar a recuperação.
- Ele já acordou?
- Não. A minha mãe não sai do lado dele.
- Ele saiu da UTI?
- Não, mas você conhece a dona Mirtes, ela convenceu o médico e disse que não sairá do lado do meu irmão até que ele acorde.
- Ele só queria me defender... - O choro voltou.
- Ele te ama.
- Eu também o amo Monique, mas tenho medo que o nosso casamento acabe.
- Não, isso não vai acontecer.
- Depois do aconteceu, talvez o Miguel não... - Ela não me deixou terminar.
- O meu irmão nunca vai te deixar. A minha mãe disse que ele não pára de chamar seu nome e quando ele acordar e você puder falar com ele, verá que eu estou certa e o amor de vocês vai superar tudo.
Eu não tinha tanta certeza quanto ela. Não sabia nem como faria para encarar meu marido depois de tudo o que aconteceu.

             Míriam

Monique estava com Vanessa e aproveitei para visitar Miguel. Não pude entrar na UTI, mas pelo vidro, vi Mirtes sentada ao lado da cama do filho, que dormia. Ao me ver, ela foi até mim.
- Bom dia Míriam! - Disse fechando a porta atrás de sí.
- Bom dia Mirtes! Como ele está? - Perguntei notando seu cansaço.
- Bem. O médico disse que a cirurgia foi um sucesso e que com repouso e fisioterapia ele voltará à andar normalmente.
- Que boa notícia!
- E a Vanessa?
- Ela está... - Olhei para Mirtes, sua preocupação parecia verdadeira, mas Vanessa pedira que não contasse a ninguém sobre o que aconteceu - ...Ela está se recuperando. É difícil esquecer os momentos dolorosos que eles viveram, mas minha filha é forte e assim como o Miguel, com o tempo ela vai conseguir.
- Sim, os dois vão minha amiga. - Olhei para Mirtes como se aquela fosse a primeira vez que nos víamos - O que foi? Você não quer ser minha amiga? - Perguntou diante do meu olhar incrédulo.
- Não... quer dizer sim... - Falei confusa - ...Apenas pensei que você...
- Que eu não quizesse? Acha mesmo que depois de toda a dor pela qual passamos juntas rezando por nossos filhos eu te consideraria de outra forma além de uma verdadeira amiga? - Ela sorriu.
- Não. - Eu também sorri - Claro que eu quero ser sua amiga. - Respondi.

Um amor maior que o teuOnde histórias criam vida. Descubra agora