Capítulo 15.

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                   Miguel

   Acordei com uma forte dor de cabeça, um gosto amargo na boca e quando sentei, uma tontura fez tudo à minha volta girar e cai na cama. Foram necessários alguns segundos para o mal estar diminuir e só então pude levantar.

   Aos poucos, os acontecimentos do dia anterior me voltaram à mente e além da lembrança da minha primeira bebedeira, veio também a lembrança do motivo pelo qual perdi o controle e bebi até... na verdade eu não sabia nem até que horas estive bebendo e também não me lembrava de como cheguei em casa ou melhor, na casa da minha mãe.
   Devagar, porque além da tontura eu estava sentindo muita dor no joelho, fui para o banheiro, tomei um banho e após vestir uma das minhas roupas que ficaram na casa da minha mãe, sai do quarto.

— Bom dia Miguel! — Cumprimentou-me Rubéns quando entrei na sala de jantar onde ele, minha mãe e Monique tomavam café da manhã.
— Bom dia a todos... — falei sentando ao lado da minha mãe e ouvindo a resposta seca dela e de Monique.
— Como se sente? — Perguntou minha mãe fitando-me com um olhar no qual pude identificar dor, mágoa e principalmente decepção.
— Péssimo! — Respondi fechando os olhos em decorrência de mais uma pontada na fronte.
— E o que você pretende fazer Miguel? — A pergunta de Monique me fez esquecer a dor por um instante, afinal, precisava falar com minha esposa.
— Vou para casa.
— Mas primeiro, você vai tomar o seu café! — Disse minha mãe em um tom que não deixava margem para protestos e a contragosto, comecei à comer.
— Até porque a Vanessa não está em casa. — disse Monique passando geléia em uma torrada — Eu dormi na sua casa ontem e hoje cedo ela foi para a casa dos pais.
— Então irei buscá-la! — Falei antes de tomar um pouco de café que foi a única coisa que meu estômago aceitou naquele momento.
— Ela foi contar para os pais sobre... — Monique não terminou a frase.
— Ela vai contar pra eles? — Eu não podia acreditar que ela ia fazer isso.
— Ela já decidiu mano. Ela vai ter o bebê...
— Não Monique, ela não pode fazer isso! — gritei levantando — Ela não pode ter esse filho!
— Miguel... — minha mãe tentou tocar meu braço e me afastei.
— Não mãe. Eu amo a Vanessa, sou marido dela e não aceito que ela leve essa situação adiante!
— Miguel... — Monique me olhou triste — mano, ela não vai abrir mão do filho e se você não aceitar... vai acabar perdendo ela.
— O quê?

   Não esperei pela resposta, sai de lá como louco. Vanessa e eu nos amávamos, quase morremos e depois de tudo pelo que passamos e principalmente, pelo que ela passou, ela não podia desistir de nós dois para ter aquele filho. Ela fora abusada e nesses casos a lei garantia à vítima o direito de interromper a gravidez. No instante em que pensei nisso senti-me horrível. Vanessa jamais faria um aborto, mas tinha que haver outra solução e eu à encontraria.

   Na casa dos meus sogros, bati na porta e dona Míriam atendeu.
— Bom dia dona Míriam!
— Bom dia Miguel!
— A Vanessa ainda está aqui? — Perguntei tentando controlar minha ansiedade. Precisava vê-la, falar com a minha mulher.
— Ela está no quarto... quando chegou ela estava tão triste...
— Eu preciso falar com ela dona Míriam. Ontem nós mal conseguimos conversar...
— Tá bem, mas tenha cuidado com o que vai dizer, minha filha está muito frágil.
— Eu terei!

   Entrei no quarto sem fazer barulho. Vanessa dormia, me aproximei da cama, fiquei olhando para ela por um tempo e toquei seu ombro.
— Vanessa? — Mexendo-se, abriu os olhos e fitou-me como se não acreditasse no que estava vendo. Sua aparência frágil e triste rasgou meu coração, afinal, grande parte daquela tristeza era porque eu não estava lhe dando todo o apoio que ela precisava.
— Miguel...? — Sentou-se na cama e sentei ao seu lado.
— Estou aqui amor. — envolvendo-a em braços, permanecemos assim até que senti suas lágrimas no meu pescoço — Não meu amor, — sequei uma lágrima com meu polegar e ergui-lhe o rosto — não chore. Nós vamos resolver isso juntos. — Garanti e quando tentei abraçá-la outra vez, ela se afastou.
— Como assim resolver...? — Perguntou me olhando desconfiada — Não vou tirar meu filho Miguel!
— Sei que não e nem estou lhe pedindo que faça isso.
— Você vai assum... — balançando a cabeça neguei antes que ela terminasse a pergunta — Então o que sugere que eu faça? — Sua desconfiança aumentou e doeu ouvi-la falar na primeira pessoa, era horrível pensar que já não fazia mais parte dos seus planos.
— Apesar de saber que você seria amparada pela lei caso decidisse interromper a gestação, sei que jamais faria isso, mas também sei que não podemos ficar com essa criança e... — tentei tocar sua mão, mas ela não permitiu — vou te apoiar, te dar toda assistência para que esse bebê nasça saudável... — respirei fundo.
— E depois que meu filho nascer? — Seus lábios tremeram ao pronunciar a pergunta.
— Nós o entregamos para a adoção. — Levantando-se, ela se afastou de mim, fui até ela e tentei tocá-la, mas ela se esquivou do meu toque mais uma vez — Amor...
— Não me chame de amor, porque eu não sou mais seu amor. — Ela praticamente cuspiu as palavras, a desconfiança em seu olhar dando lugar à raiva.

Um amor maior que o teuOnde histórias criam vida. Descubra agora