Capítulo 20

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                Vanessa

   Quatro meses, parecia que o tempo estava voando! Gabriel já completara quatro meses e em algumas semanas eu precisaria voltar para o trabalho, mas toda vez que eu pensava em passar o dia todo longe do meu filho uma sensação de vazio tomava conta de mim. Por mais que eu soubesse que minha mãe cuidaria dele tão bem quanto eu, também sabia que morreria de saudade do meu bebê, que naquele momento, olhava-me fixamente, enquanto mamava. No seu olhar eu podia ver tanta pureza, tanta ternura e amor, que me perguntava: como alguém podia rejeitar um ser tão inocente?

   Ele continuou mamando, alheio aos meus pensamentos, mas sem desviar seu olhar.
— Como eu te amo Gabriel! — Falei baixinho, mas alto o suficiente para ele ouvir e em meu olhar, procurei transmitir-lhe toda a força do meu sentimento.

     
           Miguel

   Minha volta ao Brasil foi tranquila. Cheguei ao Rio de Janeiro no dia vinte e oito de abril, oito meses depois de ter largado tudo. Minha idéia inicial era voltar para casa, mas, nas semanas que demorei para tomar a decisão de comprar a passagem, cheguei à conclusão que ainda não era a hora. Eu não estava pronto para reencontrar Vanessa, por isso decidi voltar para o meu país, porém manter-me distante da minha família e, principalmente, da mulher que amava, por mais alguns meses. Nós dois precisávamos daquela distância, do contrário, sofreriamos mais.

             Leandro

   Em dois dias eu veria Vanessa outra vez... Meu coração bateu mais rápido só pela lembrança dela.
   O que estava havendo comigo?
   Por mais que eu quisesse e tentasse esquecê-la, ela não me saia da cabeça. Mas, apesar de saber que aquele sentimento deveria morrer, que jamais poderia deixar Vanessa descobrir que estava apaixonado por ela, como um dia estive apaixonado pela Catarina uma mulher que sabia exatamente o que fazer para seduzir e humilhar um homem... Não, o que eu sentia pela Vanessa era infinitamente maior do que o que eu senti pela Catarina.

   Saí da cama, aquela certamente seria mais uma noite insone. Ultimamente, os únicos momentos em que me sentia tranquilo era no trabalho, o resto do tempo passava lutando contra meu desejo de ver Vanessa, de contar tudo pra ela.
   Mas e depois? O que ela diria? O que faria se eu, o pediatra do seu filho, declarasse que a amava?

  

          Vanessa

   Gabriel acordou chorando. Coloquei-o para mamar e o choro parou. Desde a noite anterior que ele estava choroso e mal dormiu.
— Ele tá melhor filha? — Minha mãe perguntou entrando no quarto.
— Não. — Respondi tocando a testa de Gabriel para ver se ele estava com febre e agradecendo a Deus porque a temperatura estava normal — Está sem febre, mas a senhora acha que eu devo levá-lo ao pronto socorro?
— Não. Ele não tem febre e além disso, a consulta dele com o pediatra não é amanhã?
— É.
— Então filha, amanhã o médico vai examiná-lo. — ela tocou minha perna — Mas não se preocupe, os bebês são assim, às vezes uma mudança no tempo pode causar resfriados, — ela tocou a mãozinha de Gabriel — ainda mais em casos como o do nosso príncipe que nasceu um pouco antes da hora. Lembra que o médico explicou que ele é muito sensível?
— Lembro...
— Fique calma! Quando você era criança também se resfriava à cada mudança do tempo e todas vez que estava calor e esfriava ou o contrário, eu já abastecia a "farmacinha" —  Minha mãe chamava assim a caixa onde guardava medicamentos — com vitaminas, analgésicos...
— E a senhora ficava preocupada?
— Claro que ficava! Eu quase morria de preocupação toda vez que te via doente, mas aí você se recuperava e me mostrava que era muito mais forte do que eu pensava. E o Gabriel também é muito forte!
— Obrigada mãe! — Ela tinha razão, mas  eu tinha tanto medo que algo ruim acontecesse com meu filho.

Um amor maior que o teuOnde histórias criam vida. Descubra agora