capítulo 5

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Eu acordei com os raios do sol sendo filtrados pela janela suja do porão. Sentia todo o meu corpo dolorido pela péssima qualidade da minha cama e principalmente sentia uma dor horrível no meu pescoço, era uma lembrança de onde eu estava, uma lembrança de que meu captor não era como os outros.

Ele tentou me matar!

Eu sabia que aquela não seria a única vez e de alguma forma eu sabia que a morte seria o melhor para mim.

Eu me sentei na cama assim que ouvi os passos pelo lado de fora, seguida pelo barulho da porta sendo destrancada e então o rangido, era o momento da minha falsa liberdade.

— Venha. —A ordem que ele pronunciou naquela única palavra me fez olhar para cima.

Meu captor estava no alto da escada vestido como no dia anterior: roupas pretas, luvas e máscara. Eu me perguntava o porquê ele a usava, poderia ser para esconder uma deformação ou para que eu não pudesse ver o seu rosto e decreve-lo para a polícia. Eu torcia para que fosse a primeira, mas de alguma forma sabia que não era. Todavia eu podia agradecer por essa máscara não ser tão horrível e assustadora quanto a que ele usava no dia que me sequestrou e "salvou" daqueles homens; essa máscara era bonita, como se ele pretendesse ir a um baile de máscara, um baile de máscaras assustador.

Ele me levou até a cozinha, mas não se retirou.

— Prepare o café da manhã. — outra ordem, percebi.

Eu não fiz nada, fiquei apenas ali parada, contemplando o lado de fora pela pequena janela da cozinha. Seria o suficiente para eu passar, se não houvesse barras de ferro.

Eu volto para a realidade quando sinto mãos fortes apertarem os meus braços e me girarem. O aperto era tão forte que não consegui não fazer uma careta e choramingar para que ele me deixasse. Quando ele me soltou eu estava olhando para um armário...bonito.

— O que quer comer? — forcei minha voz para sair quando percebi que ele não sairia até me ver fazendo alguma coisa. Percebi que até aquele momento não tinha levado a sério a parte onde eu seria sua empregada doméstica.

— Dessa vez pode ser qualquer coisa. — respondeu e eu quase suspirei de alívio.

Eu não sabia cozinhar e temia como ele reagiria ao saber disso. Ele poderia me espancar e me forçar a aprender na marra, ou simplesmente me matar.
Assim que ele saiu comecei a procurar coisas no armário, encontrei um pacote de torrada e o tirei, em seguida fui até a geladeira moderna —mas não tão moderna — e encontrei um pote de geleia de morango, o peguei. Contemplei em pegar água da torneira e da para ele: torrada, geleia e água, não muito diferente do que ele me deu. Mas de alguma forma eu sabia que ele provavelmente quebraria o copo na minha cabeça. Eu não sabia fazer café e não havia uma cafeteira, mas eu sabia fazer chá. Uma vez eu vi uma das minhas empregadas preparando um chá para mim, o único problema era acender o fogo. Não era fogão elétrico. Em que século meu captor vivia? Eu não sei quanto tempo levei para conseguir ascender o fogão, mas lembrava das tentativas patéticas enquanto tentava o fazer. Eu tinha um dedo na boca enquanto colocava uma leitera com um pouco de água no fogão, meu dedo ainda ardia por eu tê-lo queimado enquanto tentava ascender o fogo. Eu esperei a água ferver enquanto arrumava as torradas em um pote e pegava a caixinha com os saques de chá. O chá era de camomila. Camomila me acalmava, talvez fizesse o mesmo com ele.

— Por que está demorando? — ele perguntou enquanto descia as escadas.

Eu desejei que ele escorregasse  e morresse no processo, mas faltava apenas três degraus, seria impossível.

— Já está pronto. — retruquei enquanto colocava a caneca com o chá na bandeja.

Quando passei pela bancada da cozinha eu o vi sentado na mesa, ele se acahava o dono do lugar, bem, ele era, mas a inveja que me causou foi pelo fato de eu já ter me portado assim, e eu o odiei ainda mais naquela momento. Quando seus olhos frios recairam sobre mim, senti minhas pernas tremerem pela descarga de medo que o meu corpo me enviou e raiva queimou em meu interior. Cogitei a ideia de esfaquea-lo com a faca de manteiga, mas aquilo só acarretaria na minha morte, ou pior, penso enquanto me lembro da ameaça que ele me fez.

— O que é isso? — ele pergunta enquanto olha para a bandeja em sua frente.

— Seu café da manhã. — respondo o óbvio, ele arqueia uma sobrancelha com o meu tom. Olho para o chão em um falso ar de submissão.

— Torrada com geleia e... O que é isso? Chá? — ele parecia incrédulo enquanto listava e olhava as coisas. Eu o vi enfiar um dedo enluvada na caneca e um calafrio envolveu minha espinha. Ele poderia está com luvas, mas a água estava fervendo e ele não parecia estar preocupado com isso.
Quando ele levantou os olhos para mim, eu instintivamente dei um passo para trás, eu pude ver que ele cogitava a ideia de me jogar o chá, e o simples pensamento da água quente tocar minha pele, quase me fez fazer xixi nas calças.

— Você disse que eu podia preparar qualquer coisa. — relembro e em seguida abaixo a cabeça. Havia me esquecido qual era a minha posição ali e principalmente me esqueci de que ele tinha um copo de chá fervente.

— Só que você não preparou nada aqui, a não ser essa porcaria. — disse com a voz muito calma apontando para o chá.

Recentemente — ontem— eu descobri que o  temia ainda mais quando sua voz era calma demais.

Não respondo e ele acaba por não dizer mais nada. Eu não comi com ele, não por não estar com fome e sim, por medo de não poder e ele acabar me jogando o chá quente. Logo depois do café da manhã eu lavei as louças, não foi tão difícil quanto imaginei que seria, descobri logo em seguida que varrer casa não era tão simples e logo depois percebi que tirar o pó era a coisa mais insuportável e por isso resolvi passar o espanador apenas onde ele poderia passar o dedo. Naquele momento eu contemplava o banheiro de cima e me perguntava como eu iria limpa-lo, e me passou pela cabeça —pela décima vez — que eu devia dar mais valor para as minhas empregadas; e pela décima vez naquele dia, prometia a mim mesma que o faria quando fosse resgatada.

Eu olhei para o balde com os produtos de limpeza e um pensamento rebelde se instalou em minha mente.

Eu não limpei o banheiro.

Sequestrada por Jack, o assassino Onde histórias criam vida. Descubra agora