capítulo 29

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Eu havia terminado de por a mesa quando Jack desceu as escadas. Seus olhos verdes percorreram meu corpo até pousarem sobre o jantar que eu havia preparado. Havia algo de diferente no Jack hoje, na forma que ele andava e olhava, era quase como se ele tivesse planejando algo.

Uma risada interna sobe pela minha garganta e eu tenho que colocar a mão na boca para impedir que ela saia.

É ridículo que eu perceba isso, penso enquanto o vejo se sentar.

— Pontualmente — ele murmurar enquanto começa a arrumar o próprio prato.

Eu assisto a forma que seus cabelos loiros caem sobre a máscara quando ele abaixa a cabeça.

Eu limpo a garganta.

—Acontece.

A resposta o faz olhar para mim. O canto de seus lábios direito sobem, em um evidente gesto de que minha resposta o agradava.

—Sente-se.— Ordena em sua típica voz inexpressiva.

Troco meu peso para a perna esquerda. Inclino levemente meu corpo para frente e minha cabeça para o lado. Eu lhe dou um sorriso de lábios fechados e murmuro:

— Seria um convite?

Ele se inclina de volta, encostando novamente no encosto da cadeira. Seus dedos tamborilam sobre a mesa preguiçosamente.

—É o que gostaria?— rebate em um tom conspirador.

Era impressão minha, ou a voz de Jack tinha humor genuíno pela primeira vez?

—É o que está pedindo?— pressiono um pouco.

Jack me observa. Mais de cinco segundos passam e ele não responde.

15 segundos se passam e nada. Sei disso porque estou contando. O ar começa a ficar um pouco tenso enquanto nos encaramos sem falar nada.

Eu normalmente gosto de ter a última palavra, mas este não é um destes momentos.
Estou quase desistindo quando ouço sua voz baixa e fria chegarem ao meus ouvidos.

—Sim.

Nenhum som se ouve depois disso.

Ali está a resposta que eu queria, mas certamente, não era a que eu esperava. Eu não esperava que Jack respondesse, tão pouco esperava que assumisse o que ele realmente queria, por tanto, minha única resposta foi piscar, abri e fechar a boca como um peixe fora d’água.

—E então?— pressiona impacientemente por uma resposta.

Eu poderia dizer que Jack estava inseguro com minha resposta, mas esse era o Jack, e ele não parecia o tipo de cara que ficava inseguro com algo assim.

Minha resposta deveria ser curta, um simples não. Eu não deveria me sentar e jantar de livre e espontânea vontade com meu sequestrado e agressor, mas no momento era tudo o que eu mais queria. Não porque aquele era meu sequestrado, mas sim pela forma que ele estava me olhando, pelo momento e o clima que havia acabado de ser criado entre nós. No momento, Jack podia ser qualquer um; um desconhecido, e eu ainda aceitaria me jantar com ele.

Eu sorrio, teria que ser um desconhecido bonito, penso.

—Qual o motivo do sorriso?— pergunta quando me sento.

Eu dou de ombros.

— Apenas a circunstância — minto.

— As circunstâncias, provocam muitas emoções genuínas.

Eu o olho surpresa com a frase. Não era o que esperava de Jack.

Nós comemos em um silêncio confortável, apenas o barulho dos talheres ressoavam pelo ambiente.

— Espere um minuto — ele diz assim que terminamos de comer.

— Ok — respondo enquanto o vejo se levantar e caminhar em direção às escadas.
Quando ele começa a subir, me levanto e cuido da louça.

— Jack?— Chamo assim que termino a louça e percebo que ele ainda não voltou.

Meus passos são silenciosos enquanto caminho em direção às escadas. Minha mão toca no corrimão de madeira e eu levanto o rosto.

— Jack? — chamo novamente.

— Eu pedi um minuto — ele reclama aparecendo no alto das escadas.

—Bem, já se passaram de um minuto— retruco sem olhá-lo.

—Vamos, me espere no sofá.

Esta bem, né, penso enquanto caminho em direção ao sofá. Eu sento cruzando os braços e espero ele terminar de descer as escadas.

— E então?— pergunto impaciente.

Jack se senta, com as mãos para trás e me olha.

— Para você — murmura tirando as mãos de trás das costas com uma sacola simples. 

— Oh! — exclamo surpresa.

Estou lhe dizendo que não posso aceitar, e que não quero o presente;  quando me dou conta de que já peguei a sacola.

Eu abro a sacola e mordo os lábios.

— Você disse hoje mais cedo que precisava de roupas, então pensei, “por que não?"

Eu não esperava que Jack trouxesse nada quando voltasse da cidade, por isso brinquei que desejava roupas mais que tudo. 
Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu me recusava a deixar que elas caíssem. Parecia ter várias nós na minha garganta, então apenas assenti.

Eu queria agradecer Jack, mas dizer essas palavras em voz alta, era como aceitar toda essa situação e eu não poderia fazer isso, não podia dizer obrigada, porque não era certo. Eu não estaria nessa situação se Jack não tivesse me sequestrado, não estaria fazendo todos esses trabalhos por ele, e tão pouco estaria usando essas roupas de baixa qualidade. Tudo o que estava me acontecendo era culpa dele, agradecer era ridículo. Era acreditar que Jack estava fazendo isso por bondade, era me conformar com o que quer que seja que ele tenha planejado para mim.

—Algum problema?— sua voz fria me traz de volta a realidade.

Eu balanço a cabeça quando percebo que Jack não está gostando da minha reação.

— Só estou surpresa — murmuro negando com a cabeça.

—Entendo.

Eu o olho nos olhos e me inclino pra frente. Meus lábios roçam levemente seu maxilar em um beijo de “agradecimento”. Deveria ser na bochecha, mas sua marca atrapalhava e como um pedido verbal não sairia de minha boca, esse beijo era tudo o que eu podia lhe oferecer.
Os dedos dele se enrolam em meu pulso quando tento me afasta.  Meus olhos caem sobre sua mão em meu pulso e depois voltam para seus olhos. Jack está me encarando tão intensamente que meus lábios se entre abrem de surpresa.

Por um segundo eu não sei o que está acontecendo, por um segundo fico tão surpresa que não sou capaz de reagir.
Seus lábios esmagam o meu em um beijo tão ardente que não consigo me manter firme. Meus lábios se abrem lhe permitindo passagem.

Um único pensamento me vem à mente:

Estou totalmente perdida.

Sequestrada por Jack, o assassino Onde histórias criam vida. Descubra agora