capítulo 51

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Hanna ainda dormia quando Jack desceu até o porão para observá-la. O cabelo longo estava esparramado sobre o rosto, tampando-o, mas Jack não precisava vê-lo, conhecia cada traço como se fosse o dele próprio. Jack moveu olhos do rosto dela para o corpo — ela tinha uma das pernas dobrada se projetando para fora do edredom que se amontoava na cintura, a blusa do pijama estava embolada na metade superior do corpo, deixando visível a barriga lisa. Os olhos dele prolongou-se na pele dourada exposta —alguns tons mais claro do que quando ela havia chegado—, uma herança do sangue latino do pai, ele acreditava. 

Estava ali algo que queimava no seu subconsciente, era como uma coceira intensa que te força a coçar até que um corte se forma sobre a pele, era irritante e o instigava a descobrir tudo sobre ela, mas para o desprazer de Clark, o pai biológico de Hanna era a única coisa que nunca viria descobrir. Um segredo que a genitora levou para o túmulo. 

Quando Hanna se moveu sobre o colchão, Jack se retirou silenciosamente do porão, não querendo estar presente caso ela despertasse. Desde a discussão que tiveram alguns dias atrás, preferiu evitá-la até que a raiva dela passasse.
Se estivessem em outras circunstâncias, Jack certamente já teria feito com que ela esquecesse as palavras dele, mas devido à possibilidade de precisarem se mover com urgência, era preciso que ela acreditasse ter algum poder ali, que ela de alguma maneira o havia mudado e que independente de onde fossem, as coisas seriam diferentes. 

E porra, ele ansiava que fosse diferente. 

Saindo do chalé, Jack levantou o rosto para cima, fechou os olhos por alguns segundos e sentiu a brisa da manhã tocando lhe a face. Passava tanto tempo com a máscara que por vezes se esquecia como era sentir o vento no rosto. Ao se recompor, olhou para o chalé uma última vez e tendo a cidade como destino, partiu.

Assim que chegou, Jackson se dirigiu para uma pequena lanchonete na qual costuma frequentar sempre que vai à cidade, por ser raro estar cheia em um horário tão cedo, ele conseguiu escolher uma mesa no fundo, mais escondida. Devida a pouca iluminação no canto em que estava sentado, ele se sentia um pouco mais confortável. Relaxado, ele tocava de leve e discretamente a cicatriz que cortava um lado de seu rosto enquanto olhava pelo vidro que terminava duas mesas a frente da sua os poucos carros que passavam daquele lado da cidade. 

— Devo trazer o de sempre, senhor? — a garçonete perguntou educadamente enquanto se aproximava e parava perto da mesa de Jack. Mantendo o rosto danificado na direção da parede e sem tirar os olhos dos carros que passavam do lado de fora, ele acenou com a cabeça. 

Clark não se envergonhava da cicatriz que decorava sua face, mas preferia mantê-la longe dos olhos de outras pessoas, era fácil ser identificado com uma distorção como aquela. 
Ele pegou o celular — alguns minutos após a garçonete colocar seu café sobre a mesa — e discou o número de Milla. 

— Pensando no diabo — os cantos da boca de Jack subiram com o cumprimento dela. 
— Já faz um tempo — ele respondeu enquanto abaixava os olhos para o café intocado. 
— Já faz um tempo? — ela repetiu secamente e continuou em um tom mais elevado do que teria coragem se tivessem no mesmo comado — Você está de brincadeira comigo? Tem ideia de como eu estive surtando por você não estar me contatando? Eu disse para você deixar essa garota em paz, que seria a porra de um problema de merda e adivinha só… EU. Estava. Certa. A polícia não vai parar de procurar ela até encontrar e…  

— Isso não vai acontecer. 

— Se não for a polícia será Josh. Ele está no seu encalce — ele ficou em silêncio — Você entendeu o que acabei de dizer? — ela perguntou mais devagar e calmamente, como se para ter certeza de que ele podia compreender suas palavras. 

Sequestrada por Jack, o assassino Onde histórias criam vida. Descubra agora