capítulo 17

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Está quente. Não, não é a estação, e não, não é o ambiente, sou eu. Estou quente porque estou fazendo esforço. Estou quente porque durante esses três dias estou tentando empurrar esses malditos pregos. Estou quente porque passei quase o dia todo batendo com um espremedor de alho estúpido que encontrei contra o maldito prego. Estou quente porque ainda falta um e já está escurecendo. Estou quente porque estou ansiosa. Estou quente porque estou com medo.

Se tudo ocorrer como aconteceu antes, Jack volta apenas amanhã, mas eu não posso confiar totalmente nisso, já que isso ocorreu apenas uma vez. Eu deveria esperar mais, foi o que eu disse que faria, mas eu não podia, não podia esperar mais e por isso estou correndo o risco de ser pega. Não importa mais, só isso importa agora, minha chance, minha única chance.

Eu bato outra vez, e como da outra vez, o som se propaga pela casa silenciosa como se estivesse zombando de mim, e eu estremeço. Bato outra vez e outra e mais outra. Eu grito com o prego e eu o xingo, e então eu bato outra vez e xingo novamente, e isso se tornar uma repetição.

Bater, xingar, bater, xingar, olhar a hora no relógio que se encontra na cozinha, xingar, bater, xingar, bater, olhar a hora.

Eu me levanto e me viro, e então eu olho para o relógio na parede da cozinha em frente à janela da sala, já são quase 18 horas e ainda faltava um maldito prego, eu me viro novamente, tão brava comigo mesmo que bato com toda a minha força no prego, e então acontece... O prego se desprende e estou livre.

Com a mão direita eu empurro a tábua e ela se abre, é o suficiente para eu passar espremida e eu sorrio.

—Eu consegui isso... Droga! Eu consegui isso e eu consegui isso sozinha! — digo quase aos gritos enquanto olho para a minha liberdade.

Eu me levanto e corro para o banheiro e então eu tomo um banho. Eu sei que pode parecer estranho, mas o banho era quase como um rito. Eu tomo muitos banhos quando Jack sai, é uma forma de eu me recompensar por não ser capaz de me banhar com Jack aqui, mas eu não me demoro dessa vez, eu sou rápida, pois não quero perder muito tempo. Eu corro para o porão e então me visto com minhas roupas: minha calça preto e minha blusa de seda arruinada. Eu me viro para a parede logo a baixo da janela e me ajoelho.

Eu pego o giz que fica no cantinho da parede próximo a escada. Eu encontrei o giz entre uma tábua e a outra e desde então, comecei a marcar os dias em que eu estava ali. Na verdade comecei a marcar desde o dia que Jack havia me dito quanto tempo estou ali. Sobre os oito pauzinhos está escrito a quantidade de tempo em que estou ali: Meu captor diz que estou aqui a mais de um mês, mas menos que dois. É estúpido eu sei, mas estava com tanto medo de perder a noção do tempo novamente. Eu estava com medo de perder a lucidez e não ter nada, então eu comecei a anotar, para caso eu ficasse louca e assim eu saber que já fui lúcida. Logo abaixo eu me explico que comecei a anotar depois do dia em que ele me diz quanto tempo estou ali.

Às vezes eu penso que talvez tenha existido outras antes de mim, penso que  talvez já tenham feito o mesmo, e que ele tirou todos os vestígios delas, que ele fará o mesmo comigo, caso eu permaneça, e então eu me lembro que sou Hanna Cooper e que não vou ficar aqui para que isso aconteça, que não vou permitir que ele me apague e então eu me agarro a isso, como um bote salva vidas.

Eu estou na cozinha e eu pego uma garrafinha d'água e é tudo o que encontro e então eu caminho para a janela. Eu estou descalço, pois não tenho sapatos, não era como se eu precisasse aqui. Eu queria meus sapatos e então eu me lembro que eles era saltos e seria uma merda correr pela floresta de salto, eu estava melhor descalço. Estremesso ao pensar que andarei descalço. Eu só fui capaz de despregar os pregos do lado esquerdo da janela — jamais teria tempo de tirar todos os pregos —, por isso ela mal se abre. Ela aparece menor do que antes, percebo. Eu me espremo ali.

Sequestrada por Jack, o assassino Onde histórias criam vida. Descubra agora