capítulo 28

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Jack estava sentado com um sorriso colado no rosto enquanto ouvia Hanna contar sobre sua tentativa patética de arrumar um emprego. Ele não achava graça, ou sequer se importava, mas Hanna queria que ele se importasse, ela queria que ele sorrisse e dissesse coisas que aumentasse seu ego e alta-estima, ela queria que ela fosse a única coisa que ele conseguisse pensar enquanto conversavam, e Jack daria isso a ela, pois não estava disposto a jogar fora três semanas de bajulação e tentativas de fazer com que ela voltasse a confiar nele.

Para ele, não foi difícil fazer com que ela voltasse a confiar e olhá-lo de forma diferente, pois afinal, ela não era muito diferente de qualquer outra prisioneira, por mais que acreditasse  que sim. Mas Jack admitia que Hanna era esperta e inteligente, e que se recusava a se submeter, talvez fosse por isso que ele a queria, pelo fogo que queimava em seus olhos azuis claros. Ele esperava que o fogo apagasse tão rápido como o das outras garotas, mas isso não aconteceu com ela, parecia estar sempre mais forte e ardente e quando ele acreditava que finalmente havia se apagado, ela mostrava todos os sentimentos que queimavam em seu interior.

—... então minha mãe resolveu voltar atrás e devolver minha mesada.— Ela sorri como se isso fosse uma boa lembrança. —Sabe...tentar trabalhar naquela lanchonete foi uma das coisas mais divertidas que eu já fiz, é claro, tirando a parte da chacota, é uma boa lembrança. Não vá dizer isso para ninguém, pois eu vou negar até a morte.— Ela se vira para ele é lhe dá um sorriso de lado, ambos sabiam que isso não iria acontecer.

— Você gosta da sua mãe?— Ele perguntou apoiando o cotovelo no balcão e focando toda a sua atenção nela.

— Sim, ela tem seus defeitos é claro , mas quem não tem?— perguntou dando de ombros enquanto colocava cacau na vasilha de vidro. — Bem, sua vez agora.

Jack balançou a cabeça sorrindo.

—Você nunca esquece.

— Não, é claro que não.

Eles haviam feito um acordo, ela lhe daria lembranças do seu passado e ele lhe diria algo sobre o seu, qualquer coisa. Nunca era o que ela esperava, mas estava disposta a tentar sempre e a aceitar qualquer coisa que ele dissesse.

—Eu vivi com minha tia por sete anos.

—Uau! Como foi?— perguntou mordendo os lábios.

Os olhos de Jack desceram acompanhando a forma que ela passava a língua pelos lábios e depois mordia o lábio inferior.

— O quê? — Perguntou enquanto franzia a testa com o repentino desconforto.

—Viver com sua tia, é claro.

Viver com sua tia, é claro, as palavras  ecoaram na cabeça de Jack enquanto lembranças de seu passado inundavam sua cabeça.

Jack foi capaz de sentir o eco fantasma da fome, o medo. O medo que sempre vinha quando ele era jogado dentro do porão, ou do quartinho de vassouras, o cheiro fantasma de urina preencheu suas lembranças, até mesmo a dor das costelas quebradas. Ele podia ver aquelas lembranças passarem como um filme em sua mente. O rosto inchado e roxo, o dente faltando depois de ter sido empurrado por sua tia, as costas ardendo depois de uma surra com o cinto de Matt. Todos aqueles sentimentos pareciam reais: a raiva, a fome, o medo, o ódio. Ele até mesmo podia sentir a dor dos cortes...

Não é real!

—...Jack, Jack...— O eco de seu nome sendo chamado o fez focar o rosto de Hanna pairando sobre o dele. — Você está aí? Parece ter ficado fora do ar — riu se voltando para o que estava  fazendo.

—Intenso.

—O quê?— Ela se abaixou para pegar o tabuleiro e então se virou. —Morar com sua tia?

Ele não respondeu, e ela levou isso como um sim.

—Você...

—O quê?

Perguntou um pouco irritado pelas lembranças que veio a tona.

—Você disse que viveu com sua tia por uns sete anos... Não deveria ter sido por mais tempo?

— Ela morreu — declarou passando a mão pelos cabelos loiros.

—Ai meu Deus! Eu sinto muito! — Jack quase sorriu com a expressão de horror de Hanna. — Deve ter sido muito difícil, eu sei o quanto você   a amava...

—Sabe? — Perguntou sarcasticamente ao ouvi-la dizer aquilo.

—É claro, é sua tia. Todo mundo ama as tias, elas são as melhores.

—É claro.

— Ela estava doente?— sussurrou se aproximando dele e pondo sua mão pequena sobre a de Jack em forma de apoio e consolo.

— Não.— Ele levantou os olhos para ela e deslizou o seu dedo indicador ao longo de seu ante braço. —Ela teve uma morte prematura...— sua voz fria e inexpressiva deslizou de seus lábios como melodia, fazendo o ar encher com tensão. Hanna realmente acreditava que Jack sofria pela morte de uma tia querida, incapaz de perceber a falta de tristeza e dor nos olhos dele. —...Ela era jovem, tinha tantos anos pela frente, tanta coisa que não viveu, por descuido de terceiros...

—Oh... — começou enquanto se movia para ficar em pé entre as pernas dele. Ela enrolou os braços envolta do pescoço dele lhe dando um abraço reconfortante. — Eu sinto muito, eu não devia ter perguntado. Reviver tudo isso...deve lhe trazer tantos sentimentos.

Jack enrolou os braços envolta da cintura dela e apoiou a cabeça na curva de seu pescoço.
Ele fechou os olhos e sorriu sabendo que ela não veria.

O som de uma sirene veio distante enquanto imagens  daquele dia vinha a mente. O barulho ensurdecedor, o calor, as mãos de sua babá apoiada em seus ombros. Os vizinhos em volta, então o homem ruivo dizendo que tudo ficará bem, que ele não precisava chorar, mas Jack não chorava, ele só ficava ali parado, olhando para todos aqueles rostos.

E então Jack abriu os olhos de repente e os focou no relógio que marcava quinze horas.

— Sim, são muitos sentimentos.— Murmurou sorrindo com os lábios fechados enquanto sentia os braços de Hanna o apertando ainda mais.

—Eu estou aqui agora.— Sussurrou inconsciente do que estava dizendo. 

O sorriso de Jack cresceu ainda mais.

Sim ela estava ali e ele não pretendia deixá-la partir.

Sequestrada por Jack, o assassino Onde histórias criam vida. Descubra agora