Capítulo 6

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A mágoa e a desilusão era algo crescente dentro de mim, eu que esperei tanto para que isso acontecesse e quando acontece vem acarretado com um sentimento que me desola o coração.
Não queria chegar em casa com o rosto inchado, nem meus olhos vermelhos por ter chorado durante todo o trajeto de carro da casa onde Ivan ocupava até a sede da fazenda, por essa razão preferi ficar um pouco no estábulo onde o Valente fez o papel de consolador, Valente é o nome que eu dei ao potrilzinho que ganhei quando completei dez anos e ele está comigo desde então, embora eu ame a minha família era momento como esse que eu preferia ficar com ele, talvez por ele não poder responder-me, sim eu amava a minha família, mas as vezes eles eram barulhentos demais quando se prefere a solidão, ou se está apenas querendo chorar.

Contudo, não tinha como adiar, não tinha como fugir e muito menos esconder, principalmente dos meus pais que me conheciam tão bem. Voltar para casa naquela noite foi um desafio que eu não  queria enfrentar. Por sorte meus irmãos já haviam ido para os quartos e meus avós também já tinham se recolhido, somente meus pais estavam sentados na varanda abraçados a olhar o luar, eles logo notaram que eu não estava bem:

_ Richard...

Eu evitei olhá-los, mas novamente meu pai Jordan me chamou:

_ Richard?

Meu olhar focalizou os dois e eu forcei um sorriso, meu pai Roger olhou para meu outro pai e disse:

_ Jordan, amor... porque não vai preparar um chá para nós enquanto eu converso com o nosso primogênito hein?

_ Tem certeza... não prefere que eu fique?

_ Depois eu te conto como foi a conversa, eu acho que preciso conversar com o nosso filho dessa vez sozinhos.

_ Tá... qualquer coisa me chama.

Meu pai selou os lábios de meu outro pai e depois colocou a mão no meu ombro e nos deixou a sós:

_ E então podemos conversar um pouco?

Sua voz suave, quebrou o silêncio e eu retribui como pude o sorriso que ele me ofereceu:

_ Se eu pedi para adiar essa conversa para amanhã vai ficar chateado pai?

_ Será que uma conversa com o seu pai vai ser tão enfadonha assim?

_ Ter uma conversa com o senhor nunca será enfadonha pai, mas... é que minha cabeça está explodindo.

_ Filho... eu nunca te vi tão triste, não pense que seu pai e eu estamos imune ao que acontece com você e seus irmãos, tudo o que diz respeito a vocês nos afeta também.

_ Está tudo bem pai, não precisa se preocupar.

_ Não quer mesmo conversar?

_ Hoje não, por favor, hoje eu só quero dormir.

_ Então tá... boa noite filho, mas não pense que escapará amanhã, eu quero saber o que aquele professorzinho fez para te deixar assim tristonho.

_ Amanhã pai, boa noite.

Consegui escapar de ter uma conversa difícil, mas sabia que meus pais estavam preocupados comigo, e não me deixaria escapar novamente, então eu tinha duas opções, primeira contar o que de fato aconteceu aquela noite e chorar no colo de ambos, ou simplesmente mentir a eles e fingir que nada aconteceu, porém, não gostava de mentir a eles e sabia que não os convenceria se tentasse, então de duas opções só me restava uma.

A noite não foi a mais fácil de se passar, rolei na cama praticamente durante horas, as lembranças de tudo o que tinha acontecido, a maneira como Ivan me fez chegar ao céu e me lançara ao inferno tudo em uma única noite me atordoava, e enfim adormeci.

Na manhã seguinte ao despertar ao me contemplar no espelho, lá estava a marca avermelhada em meu pescoço, marca essa feita na tórrida chupada que Ivan efetuara, a melancolia já tentava me dominar, quando resistir, tentando a todo custo colocar um sorriso no rosto para encarar minha família.

Tomei um banho, coloquei um pijama o que deixava em evidencia que eu voltaria para o meu quarto logo após o café da manhã e fui me juntar a todos á mesa, imediatamente quando me viu Julinho cochichou com Rafaela:

_ Ele tá de pijama... o encontro não foi bom.

Minha irmã Manuela deu um tapa no ombro de Julinho e todos incluindo minha avó Brenda foram cautelosos ao falar comigo. Ao término no café, todos deixaram a mesa e eu já estava me conduzindo ao meu quarto quando meu pai Roger me chamou:

_ Richard... não esqueceu que temos uma conversa pendente né?

_Não, não esqueci.

Permaneci parado e meu pai Jordan me abraçou sussurrando em meu ouvido:

_ Ninguém escapa de uma conversa séria com o seu pai.

Meu pai esperou que todos saísse, até que ficamos somente nós dois naquela sala, e ele fez sinal para que eu me sentasse no sofá de frente ao que ele ocupava, e sem delongas logo perguntou:

_ O que foi que o professor Ivan fez, ele te machucou de que maneira?

_ Ele não fez nada pai.

_ Richard, você e seus irmãos são transparente para seu pai e para mim, nós conhecemos cada traço do rosto de vocês e sabemos reconhecer quando estão felizes, quando estão tristes, quando choraram...

_ Tá...eu chorei um pouco mas e quem disse que o professor Ivan é o causador?

_ Ontem você saiu radiante pois tinha um encontro com ele, mais tarde voltou cabisbaixo, então é fácil deduzir que o encontro não saiu como o esperado.

_ Até certo modo saiu, mas depois degringolou-se.

_ E por que se degringolou, será que pode me explicar isso direito?

_ Nós transamos.

_ E não era isso o que você queria? _ Filho por acaso ele te forçou?

_ Não pai... claro que não forçou, isso era tudo o que eu mais queria, eu amo o professor Ivan, fazer amor com ele era o meu maior sonho desde quando eu o vi pela primeira vez.

_ Se era tudo o que você queria, e aconteceu, por qual razão chegou aqui tão triste?

_ Eu fiz amor com ele, ele transou comigo apenas.

_ Confesso está confuso diante dessa declaração filho.

_ Pai... nós fizemos sexo, de todas as formas possível e imaginárias, porém, em nenhum momento ele me beijou, e quando eu tentei beijá-lo, ele simplesmente disse "Não". Disse que não era gay e que não queria nenhuma intimidade, ele tinha acabado de me fazer seu... e não queria intimidade, que droga é essa pai?

Antes de dizer te amo (cont: O amor acontece devagar)Onde histórias criam vida. Descubra agora