Capítulo 2

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Sempre me pareceu que ele brincava comigo, me instigava ao me olhar de forma incisiva, e me fazia crer que o impossível talvez fosse possível, porém, ao mesmo tempo me tirava toda a esperança ao recuar nos momentos em que incentivado por um impulso eu tentava me aproximar.

Assumidamente gay, nunca tive problema com a minha sexualidade, até porque dentro de casa esse assunto nunca foi tabu, já que meus pais são dois homens muito bem resolvidos, e sempre ensinaram a mim e aos meus irmãos a correr atrás da nossa felicidade, mas, o coração muitas vezes é traiçoeiro e me fez apaixonar-se pelo homem mais hétero que eu conhecia. Ivan chegou a fazenda como o mais novo contratado para dar aula de informática a mais ou menos quatro anos atrás, na época eu estava com dezesseis anos e de imediato surgiu um interesse por ele, sempre tão sério e compenetrado nos seus afazeres, eu o admirava de longe, mas lógico que isso não passou despercebido aos meus pais, certo dia ao chegar em casa, após uma aula de Ivan, meu pai Jordan me chamou em seu escritório:

_ Richard, podemos conversar filho?

_ Claro pai...

_ Roger quer se juntar a nós?

Meu pai perguntou ao meu outro pai, que logo o respondeu:

_ Deixarei que os dois conversem sozinhos.

Meu pai Roger se aproximou de mim e me deu um beijo em meu rosto, e eu segui com o meu pai Jordan para a tal conversa que parecia séria:

_ Sente-se filho, como você sabe eu não tenho muito tato com as palavras, não sou como o seu pai Roger que tem jeito para falar, eu sou mais direto, então não vou enrolar, o que quero perguntar é o que está acontecendo entre você e o professor Ivan?

_ Não está acontecendo nada pai...

_ Acho que eu fiz a pergunta errada, o que eu quero saber é... você está interessado no professor Ivan?

_ Eu tenho um certo interesse nele sim pai, mas ele não sabe.

_ É isso o que me preocupa filho, seu pai e eu estivemos observando você, e ele de certa forma também esteve em vigilância, e ao que parece ele não gosta de rapazes.

_ Eu sei pai, ele nem imagina que eu gosto dele.

_ Tudo o que queremos é que seus irmãos e você sejam felizes meu filho, mas deixar você embarcar em um barco furado é permitir que você sofra.

_ Pai... eu sei que ele não gosta de rapazes, eu sei que não tenho muitas esperanças, mas...

_ Mas, você vai insistir, eu te conheço bem para saber que é teimoso e lutará até o fim para conquista-lo.

_ É errado?

_ Não filho, não é errado, mas, não queremos que você sofra, mas eu sei que no coração não se manda e ele é quem dita as regras. Tudo o que queremos que você saiba é que seu pai e eu estamos sempre aqui para apoiá-lo, sorrindo ou chorando, entendeu...

_ Nunca duvidei disso pai... eu tive muita sorte em ser deixado naquele cestinho na porta de vocês, e que vocês resolveram me tornar filho dos dois, meus irmãos e eu tivemos muita sorte.

_ Nós quem tivemos sorte por cada um de vocês aparecerem em nossas vidas filho, você foi o primeiro que veio alegrar essa casa, depois foi a Rafa e enfim seus irmãos Manu e Julinho. Vocês são mais importantes do que qualquer outra coisa para seu pai e para mim. E tenho certeza de que se o Ivan te magoar, teu avô Douglas castra ele no mesmo instante.

_ Nem brinca com isso pai... Seria um verdadeiro desperdício.

Nós dois rimos do comentário e meu pai levantou-se para abraçar-me. Depois nos juntamos aos meus irmãos e meu pai na sala, meu pai Roger me olhou e sorriu, demonstrando assim que já sabia do que se tratava a conversa que eu acabara de ter com o pai Jordan:

_ E aí pestinhas o que querem para jantar?

_ Pai, quando vai perceber que nós crescemos e esse apelido já não faz justiça sobre nós?

_ Acho que seu pai nunca vai perceber isso Julinho, para nós vocês sempre serão os nossos bebês, aprendam isso e aceitem, quanto antes aceitarem mais fácil fica.

_ Pai Jordan, vocês têm que concordar conosco que para um engenheiro agrônomo ser chamado de pestinha é um pouco complicado.

Meus pais se entreolharam e sorriram, então meu Pai Roger olhou para a Manu e disse:

_ Tá certa Manuela, então não chamaremos mais o Richard de pestinha já que ele é o engenheiro agrônomo, mas, quanto a vocês três que ainda estão cursando eu posso.

_ Não pai...

Meu pai Jordan então finalizou a conversa com a frase:

_ Vocês só entenderão isso quando tiverem os próprios filhos, aí saberão que para qualquer pai um filho nunca cresce, ao contrário quanto mais velhos ficam, mas preocupação nos causam.

_ Ixi, começou o momento sentimental dos dois.

_ E o que a psicóloga da família diz a esse respeito?

Meu Pai Roger perguntou olhando para Rafaela:

_ Nada mais que um ataque de beijos nos dois.

E nesse momento nós quatro nos aproximamos dos dois e enchemos a ambos de beijos.

No final resolvemos ir a tenda da fazenda vizinha onde normalmente os outros fazendeiros da redondeza se reunia, como sempre fomos muito bem recebidos, porém, meus pais nos dizem que nem sempre foi assim, que no início muitos daqueles fazendeiros tinham o olhar atravessado sobre o relacionamento deles dois, mas aos poucos eles foram aceitando o fato de que meus pais estavam juntos independente da aceitação deles ou não.
O amor que ambos tinham um pelo outro foram quebrando paradigmas, isso se devia também ao fato do meu avô Douglas sempre os apoiar, mas eu imagino que quando os dois se assumiram apaixonados, não foi tão fácil para o meu avô, afinal os dois são seus filhos e aos olhos da sociedade os dois deveriam ser considerado como irmãos. Ainda que meus pais não tivessem laços sanguíneos ambos eram filho do meu avô, um legítimo, e o outro do coração.
Segundo o que sei e escuto desde criança era que meus pais se apaixonaram assim que meu pai Jordan veio a fazenda se apresentar ao meu avô para dizer-lhe que era seu filho, isso aconteceu a vinte e um ano atrás quando ele tinha seus vinte anos, ele e meu pai Roger iniciaram um romance as escondidas até que foram flagrados por minha avó Brenda, e isso provocou em uma separação entre os dois, e esse tempo afastados o fizeram enxergar que não conseguiriam mais viver separados, então estão juntos até hoje.
Meus irmãos e eu surgimos desse amor, quando eles resolveram assumirem o papel de pais, eu fui o primeiro, como já mencionei fui deixado na frente da porta deles em um cesto, não sei quem são meus pais biológicos, na verdade nem sinto falta deles, pois meus verdadeiros pais são Jordan e Roger, foram eles que me deram amor, e supriram as minhas necessidades que um dia meus pais biológicos me negaram.
Depois de mim, veio minha irmã Rafaela, e depois os gêmeos Manuela e Júlio que todos o chamam de Julinho.

Meus pais sempre nos ensinaram que o respeito se conquista respeitando, então não era tentando fazer as pessoas engolirem goela abaixo o relacionamento deles que eles iriam fazer as pessoas os aceitarem, mas impor limites as vezes era necessário.
Meus pais eram um verdadeiro exemplo para nós quatro.

Antes de dizer te amo (cont: O amor acontece devagar)Onde histórias criam vida. Descubra agora