Capítulo 31

171 9 2
                                    

Inclinado a cuidar e proteger o Richard eu havia conseguido o consentimento de seus pais a permanecer ao lado dele o tempo todo até que a cremação findasse e depois seguiria com ele para a delegacia para que ele prestasse o depoimento, eu também prestaria o meu, mas logicamente ele como a maior vítima tudo o que tinha a dizer teria uma relevância ainda superior.
Enquanto o Valente estava sendo cremado, as lágrimas molhavam a face de Richard, no silêncio da dor, ele segurava firme a minha mão, deslizei a mão pela pele de seu pescoço, trazendo seu rosto próximo ao meu e o beijei, deixando minha testa encostada a dele por alguns instantes:

_ Obrigado por estar comigo nesse momento.

_ Não há razão de agradecimento, eu sempre vou estar com você.

A cerimônia foi bem emotiva, e embora Valente fosse apenas um potro, era como um amigo para o Richard, ele havia ganho o animal de seu pai Jordan quando ele tinha dez anos e perde-lo era o mesmo que perder alguém de sua família, ele recebeu as cinzas de Valente em uma urna de ouro que ficaria guardado no escritório de seus pais na sede da fazenda.
Richard chamou sua irmã Rafaela e disse a ela:

_ Rafa... eu peço que leve essa urna para mim e a guarde no lugar onde deverá ficar por favor, eu vou sair daqui direto para a delegacia, os nossos pais, o vovô Douglas e o Heitor irá comigo, você pode me fazer esse favor?

_ Claro que sim meu irmão, vou guardar as cinzas do Valente no lugar onde você separou para guarda-las.

Um a um dos irmãos do Richard vieram o abraçar, a primeira foi Rafaela, seguida de Julinho e por fim Manuela, até mesmo a dona Brenda veio prestar as últimas homenagens ao potro.

Do crematório fomos direto a delegacia, quando o carro estacionou, seu Jordan e seu Roger deram as mãos e seguiram com seu Douglas um pouco a frente, Richard e eu estávamos um pouco atrás, mas ele não parecia querer retroceder, ao contrário parecia obstinado a manter o Ivan encarcerado:

_ Estou aqui seu delegado, vim para prestar o meu depoimento.

_ Muito bem, vamos entrar na minha sala, lá você poderá detalhar o que aconteceu.

Fomos a sala do delegado e ele fez sinal para o escrivão que se posicionou no seu lugar:

_ Então Richard, pronto para dizer tudo o que houve?

_ Sim, estou pronto.

O delegado fez sinal para que ele começasse:

_ Eu estava trabalhando, uma das éguas da fazenda acabou de dar cria a um potro, e o Heitor estava tosquiando uma das ovelhas, havíamos acabado o dia de serviço e nos preparávamos para ir embora, eu senti que estava sendo observado, porém achei que fosse coisa da minha cabeça e nem comentei nada com o Heitor... nós dois estávamos combinando de nos encontrar mais tarde para ficarmos juntos.

Ele me olhou e fez um carinho na minha mão que ele não soltou desde que chegamos ali:

_ O Heitor todos os dias me leva para casa, mas ontem eu pedi a ele que não me levasse.

_ Por qual motivo você pediu isso Richard?

_ Nós iriamos nos encontrar para passarmos a nossa primeira noite no motel, e eu pedi que ele fosse rápido para casa afim de se aprontar o mais rápido possível e ir me encontrar, se ele fosse me levar iria levar mais tempo para vir me buscar, eu estava ansioso para passarmos a nossa primeira noite juntos.

_ Entendo... continue.

_ Eu estava indo para casa, quando o Ivan apareceu, ele queria que eu fosse a casa dele, eu me neguei a ir, e de repente eu fui golpeado na cabeça, não sei com o que foi, talvez tenha sido pedra, talvez o cano de um revolver, eu não sei exatamente o que me atingiu, o que sei é que caí, estava tonto, desorientado, e depois disso eu não lembro mais nada, eu perdi os sentidos, quando acordei já estava no estábulo, na baía do Valente, minhas mãos estavam amarradas, de início eu me senti muito tonto, minha cabeça girava, foi quando eu vi o Ivan a minha frente, ele estava armado:

_ Ivan o que pensa que está fazendo, me solta... me solta Ivan, por que está fazendo isso?

As lágrimas corriam pelo seu rosto:

_ Eu gritei com ele, pedi para que me soltasse, mas ele parecia se divertir com tudo aquilo.

_ Você pensa que eu não ouvi o que você e aquele rapaz estava combinando, eu não vou permitir que você vá no motel com ele, você é meu, e se não for meu não será de ninguém.

_ Para que isso Ivan... eu não sou uma propriedade sua.

_ Até uns dias atrás você gostava de mim.

_ Sim eu gostava, mas você não, você sempre deixou claro que era hétero, que gostava de mulher, então eu fui procurar alguém que sentisse o mesmo que eu.

_ Isso não é verdade, os seus sentimentos não podem ser tão solúveis assim, um dia gosta de mim e no outro já não gosta.

_ Eu simplesmente me dei conta de que você nunca corresponderia por um sentimento que eu acreditava sentir por você.

_ Mas eu gosto de você Richard.

_ Não, não gosta, o que você gosta é o que eu sentia por você, o que eu fazia você se sentir ao gostar de você, no fundo você gostava de se sentir especial para alguém, mas isso é porque você não se aceita, você prefere viver uma mentira, você é aquele tipo que se casaria com uma mulher para esconder o fato de gostar de homens.

_ É isso o que você deseja não é... que eu seja apaixonado por você e te assuma, é por isso que você está tentando me fazer ciúmes com aquele rapaz não é?

Richard, enxugou as lágrimas e continuou o seu relato:

_ Ele estava armado e descontrolado, eu tentei ganhar tempo, mas tive medo dele fazer algo pior, o tempo todo ele ameaçava a vida das minhas irmãs, dizia que se não fosse dele não seria de mais ninguém. Então eu resolvi mudar a estratégica e dizer que ele tinha razão, que eu estava com o Heitor apenas para fazer ciúmes a ele.

_ E foi nessa hora em que o Heitor acertou com a pá a cabeça do professor?

_ Sim, foi nesse momento em que ele acertou o Ivan e me soltou seu delegado. O Heitor se arriscou para me salvar do Ivan.

Ele apertou a minha mão me olhando com um sorriso no rosto:

Antes de dizer te amo (cont: O amor acontece devagar)Onde histórias criam vida. Descubra agora