Capítulo 14

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Tudo em Heitor era contraditório, parecia que ele andava na contramão, exatamente para me confundir. Ele mexia comigo eu tinha que admitir, mas, isso ao mesmo tempo me assustava, era confuso aquele sentimento que nascia sendo que eu era apaixonado por Ivan, como administrar dois sentimentos ao mesmo tempo, como imaginar apaixonado por um e atraído por outro, tudo aquilo era muito novo para mim e eu estava completamente aturdido.

Ivan era o temporal em meio ao deserto, ele vinha e arrebatava-me, Heitor era a calmaria que me trazia o equilíbrio, eu só não sabia dizer o que eu preferia mais se o temporal ou a calmaria.

Depois daquele banho de rio, voltamos ao estábulo, e para minha surpresa Ivan estava ali a minha espera, eu me aproximei dele, enquanto Heitor ficou alguns passos atrás:

_ Ivan o que faz aqui?

_ O que ele faz aqui?

_ Ele trabalha aqui. Mas, o que você faz aqui?

_ Precisamos conversar, vem comigo.

_ Eu não posso, tenho uma égua prenha para cuidar.

_ Tenho certeza de que o rapaz pode fazer isso por você, vem...

Ivan saiu me puxando e eu o fiz parar:

_ Hei... me solta Ivan, eu já disse que não posso ir, eu estou no meu horário de trabalho, não é porque sou filho dos donos que não tenho obrigações. O que de tão importante tem a me dizer que não possa falar aqui mesmo?

_ Eu não vou dizer aqui, não na frente daquele rapaz que não tira os olhos de nós.

_ Tudo bem, eu irei com você.

Virei-me para Heitor:

_ Heitor... eu vou sair uns minutos, será que pode ficar de olho na égua?

_ Eu... sinto muito, tenho outras coisas a fazer.

Enfurecido Ivan resmungou:

_ Um absurdo.

Heitor o encarou e perguntou:

_ O que é um absurdo?

_ Você não passa de um empregado aqui, é um absurdo desacatar as ordens do filho dos seus patrões, se ele falou que você tem que cuidar da égua o que tinha que dizer era "Tudo bem". E não fazer questionamento.

Heitor ficou em silêncio, e eu me senti na obrigação a interromper:

_ Vocês dois querem parar com isso, Heitor eu já volto, não irei demorar, e quanto a você...

Antes que eu conseguisse dizer alguma coisa, Ivan saiu andando e somente quando estávamos a uma distância considerável de Heitor foi que ele disse:

_ Já dormiu com ele?

_ O que... do que está falando?

_ Eu estou te perguntando se já dormiu com o pangaré ali para ele se incomodar tanto.

_ Acho que isso não lhe diz respeito, o que faço da minha vida, com quem durmo ou deixo de dormir não há razão de você saber.

Ivan mudou a sua expressão e ele me puxou pelo quadril juntando meu corpo ao dele:

_ Você faz isso para me provocar não é?

Me esquivei dos seus braços:

_ O que te incomoda tanto Ivan... o fato do Heitor se aproximar de mim, ou o fato de não querer admitir que sente algo por mim?

_ Eu não me incomodo com o pangaré, me incomodo com você.

_ O que exatamente você quer?

_ Eu quem te pergunto isso, o que exatamente você quer provar ficando andando de um lado a outro com esse pangaré, você sabe que é de mim que você gosta.

_ Você só pensa em você, é egoísta e egocêntrico, me magoa cada vez que nos aproximamos, e vem me cobrar como se eu fosse sua propriedade, que direito você tem de fazer isso?

_ Tenho... tenho todo o direito pois sei que é de mim que você gosta, que é para provocar ciúmes que anda por aí com esse cara.

Eu já estava me afastando quando ele me puxou e me beijou, quando nossos lábios se separaram eu o olhei e ele disse:

_ Pronto, não era isso o que queria, um beijo, tá aí o que queria.

Abri e fechei a minha boca sem saber o que dizer, então ele mantendo a mão estática na minha nuca prosseguiu:

_ Nunca mais quero te ver perto daquele rapaz.

Ele dizia com tanta autoridade como se eu fosse uma propriedade que ele estava tomando posse, mas eu concordei com um balançar de cabeça, e ele se afastou:

_ Vai mais tarde lá em casa.

Eu ensaiava um sorriso para oferecer-lhe mas parece que a surpresa pelo beijo fez com que o sorriso falhasse:

_ E então o que ele queria?

Heitor perguntou-me assim que retornei ao piquete:

_ Eu sinto muito pelo que houve aqui.

_ É... eu também sinto, mas não me respondeu o que ele queria?

_ Conversar.

_ Está evitando me dizer que vocês se entenderam porquê?

_ Não estou evitando... apenas eu ainda não sei o que vai acontecer, saberei hoje a noite quando for a casa dele.

_ Boa sorte hoje então.

Heitor foi caminhando para o estábulo quando eu o chamei:

_ Heitor...

Ainda de costa ele respondeu:

_ Não se preocupa, eu entendo.

Eu não queria magoa-lo, mas, nunca fiz nenhuma promessa a ele, então tentava amenizar a culpa que sentia.

Terminamos o dia e eu fui direto para a fazenda, encontrei meu pai Jordan na sala sozinho:

_ Pai... podemos ter uma conversa?

_ Claro filho, senta-se aí.

_ Pai é possível estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo?

_ Olha filho, eu nunca passei por algo assim, mas acredito que sim, o sentimento nasce sem que a gente perceba.

_ Pai, eu sou apaixonado pelo Ivan, desde que ele chegou aqui eu tenho alimentado esse sentimento, acreditava que nunca iria consegui ficar com ele, e aconteceu, nós transamos e ele me magoou muito sabe.

Eu parei de falar, meu pai permaneceu em silêncio:

_ Aí o Heitor apareceu, e ele é um homem ideal para qualquer situação, é amoroso, é carinhoso, ele chegou devagarinho mais foi me conquistando, hoje nós quase transamos.

_ Você e o Heitor quase transaram, e o que os impediu?

_ Ele... quer dizer, ele disse que não queria transar, mas queria fazer amor comigo, eu fiquei tão envaidecido, ele me respeita né...

Meu pai balançou a cabeça afirmando:

_ Mas aí o Ivan apareceu... e ele me beijou e tudo ficou tão confuso na minha cabeça, eu gosto do Ivan mas me sinto atraído pelo Heitor, isso não é normal pai.

_ Richard... a vida tá te dando duas opções, se eu fosse lhe dar a minha opinião eu diria que o Heitor é a escolha certa para você, mas só o seu coração poderá te dar essa resposta.

_ O Ivan quer que eu vá na casa dele hoje a noite.

_ E você vai?

_ Ele me beijou. Mas...

_ Mas?

_ Pai... é loucura da minha cabeça pensar que ele só me beijou por que se sente ameaçado pelo Heitor, é errado pensar que ele não quer perder o que acredita que pertence a ele?

_ Filho... o Heitor parece que gosta de verdade de você, mas o Ivan já deu demonstração demais de que só sabe te magoar, por várias e várias vezes você chegou aqui com os olhos vermelhos por ter chorado por algo que ele lhe fez, seu pai e eu já pensamos até em demiti-lo mas sabemos que isso iria deixar você triste e desistimos, mas nem seu pai e nem eu temos o direito de impedir de tentar, você tem esse direito de tentativa, mas eu confesso que me preocupo com essa tentativa pois na minha opinião o sentimento que o Ivan tem sobre você é doentio e não fará bem a nenhum dos dois.

_ Mesmo a sua opinião sendo tão contrária ainda acha que devo tentar?

_ Não foi isso o que eu disse, o que eu quis dizer foi que eu e nem seu pai temos o direito de impedi-lo de tentar.


Antes de dizer te amo (cont: O amor acontece devagar)Onde histórias criam vida. Descubra agora