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Any Gabrielly

Ficar presa em minha mente confusa é realmente uma das piores coisas que podem acontecer comigo e uma das coisas que eu mais odeio, confusão é algo que não pode fazer parte de mim, algo que desafia a minha imagem segura e confiante. Estar confusa me torna humana demais, e com isso, sentimental demais.

Hoje eu estou confusa, o tipo de confusão que embaralha a minha mente e faz com que meus pensamentos fiquem fora de ordem, eu entendo tudo que está acontecendo em minha volta, mas simplesmente não consigo achar uma lógica e nem uma solução para isso, o que me deixa muito frustrada.

Tudo que está acontecendo comigo no último mês não se encaixa, não tem nenhum sentido. As coisas que eu venho sentindo não se intercalam com quem eu sou ou com quem eu deveria ser de acordo com toda a escola ou com os meus pais. E eu seguia todas essas regras que moldam Any Gabrielly, mas agora eu não sei se eu sou eu mesma ou apenas uma consequência das exigências de todos ao meu redor.

Eu estou descobrindo uma parte nova de mim mesma, uma parte verdadeira e sem nenhuma interferência de outras pessoas.

Respiro fundo e balanço a cabeça para tirar isso dos meus pensamentos, não tenho tempo para reflexões sobre mim mesma e sobre o que eu estou me tornando, os jogos estão muito próximos então eu tenho um longo trabalho pela frente, principalmente agora que Hina chegou no time e que as Hatala estão fazendo uma seleção para a nova garota de lá também. Ninguém se importa tanto com nós, somos apenas um enfeite para o jogo real, mas para mim isso significa mais. Eu sei exatamente como vai ser minha vida: depois do ensino médio eu vou fazer uma faculdade, me casar com alguém da cidade e dedicar todos o meu tempo para a minha família, deixando para o esquecimento os tempos em que eu dançava.

Não é isso que eu quero, é claro, mas essa é a historia da maioria das mulheres que passaram pelo time. Na verdade, eu quero muito mais, eu sempre treinei para ser cheer – que participam de competições – mas eu nunca pude entrar em um time, estou presa nessa cidade pacata e condenada a passar o resto da minha vida pensando do que eu poderia ter sido.

Ah, droga, estou refletindo sobre a minha vida de novo. Prendo meu cabelo e lavo meu rosto para despertar, passo meu hidratante labial e pego minha bolsa.

– Tchau, mãe – Digo quando passo pela porta, não conseguindo ouvir sua resposta.

Ando um pouco rápido para chegar cedo, mas não deixo de aproveitar a brisa das 5 da manhã batendo no meu rosto enquanto eu ando, caminhar é definitivamente algo relaxante mesmo que seja só para a escola. Dobro a esquina e vejo algumas pessoas conhecidas, com um sorriso radiante vou até elas.

– Olá senhoras – Cumprimento as mulheres que sempre estão lá vendendo de tudo na sua lojinha.

– Bom dia, criança – Ela fala e eu sorrio com o apelido – Você não quer um café?

– Desculpe hoje eu estou sem dinheiro, mas amanha pode deixar que eu compro.

– Ah, não – Ela responde e eu tombo a cabeça para o lado, confusa – Pode levar como um presente, eu sei que você está muito cansada.

Bem, a minha aparência não deve estar tão boa mesmo.

– Obrigada, até amanha! – Mando um beijo para ela e recebo um sorriso de volta, daqueles que seus olhos ficam enrugados.

Hoje eu estou de bom humor e totalmente disposta para fazer todas as minhas obrigações, rever a coreografia com o time, falar com Noah para resolver qual vai ser o próximo passo da nossa investigação, conversar com Shivani e estudar para francês no meu intervalo.

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