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Suspiro pesadamente em uma tentativa completamente falha de me acalmar, não importa o que eu faça nada consegue conter o tremor das minhas pernas e o meu batimento cardíaco acelerado. Não quero me sentir assim, mas também não consigo evitar, essas são as consequências de enfrentar uma situação como a que eu estou agora.

Não pode ser possível, né? Isso não pode está acontecendo comigo.

Mas está.

É irônico pensar que eu nunca tive facilidade em confiar em alguém, em me entregar para qualquer pessoa. Ter intimidade comigo não é algo simples, precisa de tempo, de memórias, de momentos juntos que moldam aos poucos a relação. Também é irônico pensar que não foi assim com o Noah, o meu "rival". Eu não deveria estar surpresa, não deveria estar decepcionada, mas eu estou. Minha vida virou uma ironia por culpa dos meus sentimentos imbecis, por culpa da minha necessidade de cuidar das pessoas e de dar todo o suporte que ninguém nunca me deu.

Chega a ser patético o fato de que eu sempre estive na defensiva com todo mundo menos com o meu rival, a pessoa menos confiável existente nessa droga de colégio. Eu pensei que o conhecia de verdade, que todas as coisas que passamos resultou em uma relação íntima e feliz.

"Todas as coisas que passamos"

Não acredito que eu — que me julgava forte e insensível — me convenci apenas porque observei o céu junto com ele e ouvi sua música particular, eu diria que isso é ridículo. Eu nunca precisei de ninguém, e não preciso agora, mas não deixa de ser desconfortável ter confiado tanto em alguém e no final quebrar a cara.

— Ei, no que você tá pensando aí? — Sina me tira dos meus devaneios e eu me levanto de sua cadeira a encarando enquanto ela mastiga seus biscoitos amanteigados.

— Não quero biscoitos. Eu quero vodka. — Digo sem rodeios e ignorando sua pergunta, revelar meus pensamentos no momento não é a melhor opção se eu quiser evitar um homicídio.

Em vez de um jarro, seria a cara de Noah quebrada no chão.

— Me conta o que aconteceu e eu te levo na festa do Lamar. — Sina sugere me fazendo reconsiderar o homicídio, talvez seja merecido. Volto a sentar na cadeira ficando de frente para ela, respiro profundamente com o objetivo de me preparar psicologicamente para aturar os surtos de Sina. Não tenho muitas opções além de contar tudo para ela, quando Sina percebe que há algo errado ninguém consegue tirar essa ideia da sua cabeça, ela tem a necessidade de resolver o problema e dar os melhores conselhos, principalmente quando se trata de mim.

Então em um piscar de olhos eu conto tudo para ela. Desde o dia em que eu saí da sua casa após ter dado PT até o momento atual. Contei sobre as estrelas, a música, até deixei escapar sobre Heyoon e Josh, mas pedi que ela guardasse segredo, e por fim, a minha breve investigação e as minhas suspeitas sobre o quanto Noah era confiável.

— Que filho da puta! — Sina exclama do jeito que eu esperava que ela faria, é estranho conhecer alguém tão bem ao ponto de saber quais serão as suas reações após cada situação.

— Quero bebeeeeeer. — Choramingo e vou para cima dela ansiando para que Sina me levasse logo para a festa e eu pudesse me encher de álcool evitando o momento de encarar Noah Urrea – no caso, hoje a noite.

— Any Gabrielly — Sina me chama e eu estremeço, sempre que ela fala meus dois nomes significa que vem sermão por aí.

Deus me ajude.

— Hum... — Respondo apreensiva e de cabeça baixa. Eu só queria ficar bêbada, qual é o problema?

— Escute bem o que eu vou te dizer. — Ela começa com a voz firme e eu suspiro me preparando mentalmente — Você vai se encontrar com Noah e Josh hoje de noite para ver o encontro do tal anônimo na lanchonete, você vai agir como se tudo estivesse bem e normal. Não deixe Noah saber que você desconfia dele! — ela fala apontando para mim e eu me limito em confirmar com a cabeça — E desista de investigar a Heyoon, não é ela. Também fala pro Josh que se ele quiser ajuda é só me pedir.

Eu sei que não tenho opção nenhuma de ir contra o que Sina fala, porque ela sempre está certa sobre tudo. Há muito tempo Sina foi a minha guia em situações difíceis como essa, felizmente ela nunca me deixa fazer besteira e me obriga a encarar a realidade. As vezes dói, mas algumas dores são necessárias.

— Mais alguma coisa Srta. Deinert?

— Ah, sim — Ela exclama quando se lembra de algo, segurando minhas mãos e olhando no fundo dos meus olhos — Não acabe tudo com o Noah tão rápido, pode ser só paranóia sua. O romance de vocês está sendo tão bonito... me sinto em uma série de romance coreana, sabe, passo muito tempo com a Heyoon assistindo essas coisas. Enfim, não quero que o relacionamento de vocês acabe assim. — Sina diz calma fazendo carinho na minha mão.

A questão é: que relacionamento?

Em nenhum momento me passou pela cabeça ter algo no sentido romântico com Noah, com ninguém, na verdade. Para mim o amor é um sentimento criado pelo cérebro humano com o objetivo de suprir a carência e a solidão, fazendo nós acreditarmos que temos uma alma gêmea ou destino, mas na verdade é só o resultado de um período de convivência com alguém. Apesar disso, o desejo é real, e eu aproveitei dele durante boa parte da minha vida, evitando qualquer outro tipo de sentimento além do tesão.

Para se relacionar com alguém romanticamente você precisa de duas coisas: paciência e calma. Adivinha só, eu não tenho nenhum desses.

— Eu não estou apaixonada pelo Noah, só gosto de estar com ele.

— E o que diabos você acha que isso é? — Sina pergunta indignada e eu reviro os olhos.

Não sei. Por que tudo precisa de rótulos? Não sei nem o que eu estou fazendo da minha vida.

Amizade colorida...? — Dou uma sugestão e minha amiga coloca um travesseiro na frente do rosto dando um grito que é abafado pelo objeto.

(...)

— Heyoon? — Chamo ao ver um movimento por trás do arbusto, mesmo no escuro eu reconheceria aquele chaveiro de sorvete na sua mochila em qualquer lugar. Só não faço a mínima ideia do motivo de ela estar escondida por entre as folhas plenas meia noite ao lado da lanchonete em que o anônimo iria se encontrar com o Bailey.

— Any? — Ouço sua voz e logo depois vejo uma cabeça subindo entre as plantas, a cena me faz soltar uma gargalhada — Que merda você tá fazendo? Vem pra cá antes que ela te veja.

Eu marquei com Noah e Josh para investigação na lanchonete e ter a confirmação de quem diabos é essa pessoa que se encontra com os alunos do Now United, qual relação tem com o anônimo — ou se é o anônimo. Eu esperava várias coisas desse encontro, mas nenhuma delas incluía encontrar Heyoon Jeong ajoelhada no meio de um arbusto ao lado da lanchonete. Nas minhas condições atuais, não acho que seja uma boa ideia recusar o seu pedido. Não demoro muito para me agachar ao lado de Heyoon.

— Ela quem? — Pergunto baixinho enquanto ela procura com o olhar alguém dentro da lanchonete.

— A anônima.

Mas que porra...?

— Do que você tá falando? — Questiono com as sobrancelhas franzidas.

—  Acho que ela não está vendo. — Heyoon morde o lábio inferior e segura na minha mão, voltando o olhar para mim pela primeira vez naquela noite — Vem comigo e eu te explico.

E eu fui.

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