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Já faz alguns dias desde o que aconteceu com Josh, ao longo desse tempo eu venho percebendo que a culpa não é minha mesmo que seja difícil acreditar as vezes. Noah é quem sempre está comigo, e agora eu não me sinto mais culpada por estar com ele, porque Josh precisa mais de Heyoon do que de mim agora, é ela que me fala praticamente todos os dias como ele está.

Em resumo: ele está péssimo. Nunca quer falar porquê ou como exatamente ele se sente, e Heyoon não cobra isso dele porque sabe que não é fácil. Josh está despedaçando aos poucos e a cada dia que passa uma parte do meu melhor amigo vai embora. Heyoon diz que ele passa o dia olhando para a parede ou para a janela e as vezes deita na cama, ele não faz nada além disso, nem ao menos chora. Eu acho que esse é o pior tipo de dor: a dor do vazio.

Sentir tristeza é ruim, mas não sentir absolutamente nada é pior ainda. Ser apenas um monte de pele e osso andando por aí e só, sem emoções ou sentimentos.

As vezes ele diz coisas sobre mim quando está dormindo e normalmente chora durante esses sonhos. Queria estar lá com ele, mas agora ele não precisa de mim, e sim de ajuda psicológica.

Ele faz consultas toda a semana com uma psicóloga, mas não sei se ele a escuta. Heyoon sempre me diz que ele apenas vê o rosto dela, mas não presta atenção no que ela fala. A mãe dele vai começar a tentar passar remédios amanhã para ver se tem algum progresso.

As vezes ele parece um garoto normal, as vezes conversa com Heyoon daquele jeito de sempre, acho que nessas horas a parte dele que ainda está ali fala mais alto.

Meu celular toca e eu rapidamente atendo pensando que pode ser Heyoon com alguma novidade, talvez um mínimo progresso, ou pra me contar se ele sorriu hoje. Quando virei a tela pra cima percebi que era Noah e não fiquei nem de longe decepcionada, ele está me fazendo muito bem ultimamente.

— Boa tarde, cachinhos. Como foi sua aula hoje? — Ele perguntou, como fez nas últimas duas semanas todos os dias.

— Foi legal, e a sua? — Eu respondi, como respondi nas últimas duas semanas todos os dias.

— Também, sabe, to pensando em sair do time de futebol. — Ele diz e eu arregalo os olhos.

— O que?

— Eu tenho notas boas o suficiente para a faculdade, não se preocupe. Só acho que isso não é pra mim. — Sorrio com sua resposta, sinto que isso é importante pra ele. Quebrar os padrões e tacar o foda-se para as regras, todos nós precisamos disso as vezes.

— Música é pra você. — Comento, e posso sentir sua expressão ficando cada vez mais seria.

— Any, eu não acho que... — Quando percebi que Noah iria começar um discurso falando sobre como o mundo da música é difícil e blá blá blá eu o interrompi.

— Canta pra mim. — Pedi, assim como no dia que dançamos juntos no parque de diversões.

— Qual música? — Ele perguntou, sem hesitar nem um segundo.

— Good Intentions.

— Você ainda lembra disso? — Ele da uma risada e eu sorrio junto.

— Só do nome e de uma parte do refrão, canta por favor. — Insisto até ouvir o som do violão com aquela melodia que me fez tão bem naquele dia.

Noah canta sua música por bastante tempo, eu sempre peço para ele repetir e repetir até meus ouvidos cansarem. Não sei o que vou fazer se ele for o anônimo, talvez eu nem esteja mais acreditando nisso.

(...)

Arrumo meu quarto o mais rápido que eu posso para não ter que aturar minha mãe gritando comigo novamente, minha cabeça dói e eu só quero ficar deitada o dia inteiro. Dobro o último lençol  e o coloco em cima da mesa pegando o celular e me deitando na cama, hoje o dia está passando lentamente e eu preciso de algo para ocupar meu tempo.

yoon

Acabei de sair da casa do Josh, posso te ligar?

pode, algo de diferente?

Te falo por ligação.

— Alô? — Pergunto ao encostar o celular na orelha, estou ansiosa para saber das novidades.

— Oi, Any — Ela começa, e então vem o de sempre.

Heyoon diz o que eu já esperava: Josh comeu normalmente hoje, tomou água e dormiu o dia inteiro. Obviamente fiquei feliz por ele estar pelo menos se alimentando direito, antes nem isso ele fazia.

— Isso é bom. — Digo, animada com a possibilidade dele estar melhorando.

— Agora vou te contar uma coisa muito importante, acho que você deve prestar bastante atenção.

— Hum, tudo bem. — Respondo com a testa franzida, não vejo como o dia a dia do Josh tenha algo de importante, pelo menos não agora. A menos que ele tenha feito algo tipo desenho, ou jogar futebol, talvez saído de casa. Isso seria incrível.

— Quando ele acordou começou a chorar, o que não é novidade. Como sempre eu consolei ele, mas em vez de não me falar nada ele me disse uma coisa. — Heyoon diz e eu automaticamente fico em alerta.

— O que ele disse?

— Ele disse que não era culpa sua e que não iria se perdoar se você se culpasse por isso. Acho que daqui há algum tempo você vai poder ver ele.

Meus olhos automaticamente se enchem de lágrimas e eu desligo a ligação agradecendo a Heyoon por ter me contado isso. Mesmo com outros milhões de problemas, ele se preocupou em me dizer que eu não era culpada pelo que ele estava passando.

E agora eu sei que não sou, tem coisas sobre ele que eu não compreendo assim como tem coisas sobre mim que ele não compreende e tudo bem, o importante é que agora eu nunca mais vou abandona-lo e que mesmo sem entender os problemas dele eu vou ajudar de verdade para que ele fique bem. Agora começa a minha busca mais séria pelo anônimo.

E eu vou descobrir quem é por Josh, por Heyoon e até mesmo por mim.

Mesmo sabendo que talvez seja Noah por trás disso tudo.

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⏰ Última atualização: Jun 09, 2020 ⏰

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