Cubro minha boca com a mão trêmula e me deixo soluçar, minhas pernas tremem e eu não consigo impedir as lágrimas de descerem pela minha bochecha cada vez mais, meus olhos e meu nariz ardem, mas mesmo assim continuo a chorar abraçando meus joelhos.
Ele poderia estar morto agora e eu não poderia dizer que fiz alguma coisa para ajudá-lo.
Eu sou uma pessoa horrível, uma filha horrível, uma amiga horrível, eu nunca consigo fazer nada certo nem mesmo com as pessoas que eu amo. Eu sou totalmente egoísta, não penso em nada além de mim.
Fecho os olhos com força assim que vem na minha cabeça a imagem de Josh se drogando até ficar inconsciente, ou ele no hospital correndo risco de vida. Agora parecia óbvio que ele nunca precisou de uma "mãe" para cuidar das coisas dele, e sim de uma irmã para estar com ele sempre que precisasse.
Mas nem isso eu consegui ser, eu sou péssima em tudo que eu faço.
Seguro o celular com as mãos tremendo e mesmo com os olhos embaçados consigo ver minha agenda de contatos e ligar para o número certo. Me sinto cada vez mais culpada por me lembrar de que eu estou fazendo exatamente o que Josh disse, porque eu sei que é verdade.
— Alô? — A voz de Noah sai do meu telefone, e eu o coloco na orelha.
— Você acha que eu sou uma pessoa ruim? — Pergunto com a voz embargada e ofegante devido a minha falta de ar.
— Any, o que? São três da manhã.
— Você acha que eu sou horrível? Porque eu acho que sim, eu nunca faço nada certo e ele estava contando comigo e...
— Preciso que você se acalme, onde você está? — Comecei a ouvir o som de chaves em atrito, mas ignorei.
— No meu quarto.
— Tudo bem, o que aconteceu?
— Josh quase morreu, Noah. Ele estava na porra de um hospital e eu não fiz nada, absolutamente nada. Eu considerava ele um irmão mas não mandei uma mensagem, uma ligação, só esqueci da existência dele. Eu sou tão inútil! — Desabafo, soluçando cada vez mais.
— O que?
— Ele provavelmente teve uma recaída ou algo do tipo, e só me contou hoje. — Começo a chorar mais ainda e me encolho na cama.
— Vá para o seu jardim. — Noah diz, e eu levanto sem questionar. Mesmo com as minhas pernas trêmulas, ando até a parte de fora da casa, me deparando com Noah na frente da minha porta. Sem esperar mais nem um minuto eu o abraço com toda a força que consigo, me deixando desabar ali mesmo.
— Você não é uma pessoa horrível, nunca mais diga isso. — Ele sussurra no meu ouvido enquanto eu molho a camisa dele com lágrimas.
— Eu sou a porra de uma egoísta.
— Você sempre se preocupa mais com os outros do que com você, sempre. Nunca vi você se preocupando com si mesma. — Noah diz, me segurando como se eu fosse cair a qualquer momento, e provavelmente eu iria.
— Então eu deveria ter feito algo.
— Não adianta pensar no que poderia ser feito, pense no que pode fazer agora. — Ele acaricia meu cabelo e eu fecho os olhos, pensando nas suas palavras.
(...)
Abraço meu próprio corpo para conter o frio, a brisa da madrugada é congelante, principalmente quando se está fora de casa. Por sorte Noah me deu seu casaco que ajuda bastante mesmo ficando muito grande em mim. Já parei de chorar faz algum tempo, então estamos apenas sentados no banco de mármore que existe no meu jardim e sentindo a presença um do outro, eu sei que ele entende como eu me sinto, afinal, ele é melhor amigo de Josh também.
Eu só queria saber mais do que aconteceu e como aconteceu, mas certamente ligar para Josh e perguntar seria uma má ideia já que provavelmente ele está com raiva de mim, com razão.
— Ele deveria ter contado para nós dois. — Noah diz após algum tempo de silêncio e eu apenas o encaro.
— Sabe o que é pior? Eu sei que se eu tivesse ligado para ele ou mandado uma mensagem ele teria me falado.
— Não se culpe por isso. — Ele suspira. Meu celular vibra constantemente e eu o pego sem nenhum interesse, mas quando me deparo com o contato de Heyoon na tela atendo quase que automaticamente.
— Any? Meu Deus, eu sinto muito. — Coloco o celular no viva voz para que Noah consiga ouvir — Josh me contou o que aconteceu, ele chorou bastante e queria voltar a usar drogas, obviamente eu impedi. Any, eu sinto muito por não ter te contado antes, não deveria ter sido assim.
— Tudo bem, pode me contar o que aconteceu.
— Eu te contaria se eu soubesse, é claro. — Ela suspira — Josh me ligou logo após sairmos da casa de Noah dizendo que estava mal e logo após disso a ligação caiu, depois eu procurei em cada canto dessa cidade e o encontrei em uma festa, caído no chão do banheiro.
— Mas isso foi há pouco tempo atrás, ele me disse que foi sério. Ele não deveria estar internado?
— Sim, ele deveria, mas convenceu o médico de que ele estava ótimo. — Ela diz e eu reviro os olhos, essa atitude é típica do Josh.
— Meu Deus.
— Me desculpa por não ter te falado antes, ele disse que iria te falar se você ligasse para ele pelo menos uma vez, mas isso não aconteceu. Eu entendo seus motivos, mas ele ficou bem chateado, eu não quis contar porque era uma coisa pessoal dele, entende? — Heyoon fala com a voz exalando tristeza e eu apenas suspiro, Noah passa os braços pela minha cintura e eu deito minha cabeça em seu ombro.
— Tudo bem, Yoon. Obrigada por me contar agora.
Assim que desligo o celular continuo encarando o ambiente ao meu redor, a grama embaixo dos meus pés e a cidade iluminada apenas pelas luzes fracas dos postes. Me aconchego em Noah e fico apenas pensando no que poderia ter acontecido se eu tivesse feito isso do jeito certo, mas automaticamente me repreendo por estar fazendo algo que o próprio Noah mandou eu não fazer.
Eu não posso me prender ao passado, eu preciso mudar o meu futuro.
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Rivals and Lovers
Science FictionAny Gabrielly é lider de torcida do colégio Fuller. A mais popular de todas, a mais inteligente e a mais bonita; ela gosta de brincar com fogo e está longe de ser certinha, só dorme com os caras mais bonitos do colégio sem ligar no dia seguinte, sab...