Hoje é sábado, e é meu aniversário. Eu sempre amei esta data comemorativa, é um ano a menos na terra, certo? O restante da semana (quinta/sexta) eu não fui para escola, eu não pude sair de casa, ninguém foi me ver em casa, o que não é nenhuma surpresa. Augusto se diz ocupado demais com os treinos de futebol, Anne e Clara se quer dão desculpas, e Matheus se faz de desentendido, mas eu sei que todos ali gostam de mim. Minha mãe alugou um salão para festa, contrato buffet, garçons, fotógrafos, tudo para me agradar essa noite, mas nada me deixará feliz hoje. Eu não quero sair da cama.
Eu gostaria de ter ido na festa do garçom na noite passada, ver a carinha dele, e aquele sorriso bobo que ele da quando se empolga com algo. Eu nunca senti tanta necessidade de ter alguém por perto, é incrível.
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@caillyM_ofc
♡ 11, 739
@caillyM_ofc: "happy Bday to me 🥳"Eu estava no salão de festa recebendo os convidados, cada um entrava com uma sacola de presente, das lojas mais caras do Rio, tão fútil. O único presente que ganhei até hoje, e que eu sinceramente amo muito, é um escapulário, eu ganhei de uma enfermeira quando era Criança, tive uma crise de ansiedade e fui parar no hospital, ela me disse que era para proteção, e que nada de ruim me aconteceria depois daquele dia, e quando eu estivesse pronta, eu poderia dar aquilo para outra pessoa que eu quisesse proteger.
- oi Cailly- Augusto chegou com dois de seus amigos- seu presente- ele me entregou uma sacola da Pandora- é um anel, sei que você gosta desse tipo de coisa
- obrigada, aproveitem a festa- eu sorri sem mostrar os dentes
A quantidade de gente ali, me cumprimentando, me tocando, beijando meu rosto, era o como o fim do mundo para mim, mas sem a parte engraçada dos zumbis. Só tinha humanos, tóxicos, que provavelmente só estavam ali por minha mãe, o dinheiro compra tudo, inclusive as pessoas, os simplesmente, elas se dão de mão beijada, como se não fossem absolutamente nada. Eu resolvi sair dali, quem disse que a festa precisa do aniversariante? Em meio toda aquela gente eu fui andando até a entrada
- onde você vai Cailly?- minha mãe segurou meu braço
- só preciso de um pouco de ar- eu olhei ela- você sabe que muita gente no mesmo espaço que eu, é agonizante para mim
- tudo bem, não demore lá fora- ela me soltou e eu voltei a andar
Eu saí dali, sem olhar para trás, sem observar mais uma vez o salão, eu só saí andando. No meio da rua eu tirei meus saltos que incomodava meus pés e eu não sabia andar com aquilo. A noite estava fria, o vento estava relativamente forte, fazia meu corpo estremecer. Eu continuei a andar pelas ruas da cidade barulhenta, sem rumo algum, mas quando me deparei, estava na beira do mar. Era como se minha mente tivesse desligado e meu corpo tivesse me levado até ali. Olhei para os lados e então vi aquele maldito quiosque, que surpreendente ainda estava aberto, eu caminhei até lá, com calma e de certa forma bastante desengonçada, o vestido vermelho que ia até meus pés não foi feito para andar na areia. Eu entrei, me sentei no balcão e esperei ali por alguns minutos. É sábado, já passa das nove da noite, ele não deve estar trabalhando.
- o que você tá fazendo aqui?- ele surge do nada me assustando
- oi- eu sorri, mas na verdade tudo o que eu desejava era chorar- eu gostaria de me ex...
- já estamos fechando, por favor vá embora- ele me interrompeu
- deixe eu me explicar... Ou pelo menos tentar- coloquei a mão na testa- eu não sei...
- certo- ele jogou o pano de prato que estava em seu ombro em cima do balcão- fale logo e vá embora
- eu... Eu tenho TDI- olhei para baixo- é um
transtorno caracterizado pela presença de dois ou mais estados de personalidade distintos, dentro de mim. E eu também tenho Síndrome de Borderline, que é caracterizada pelas mudanças súbitas de humor, medo de ser abandonado pelos amigos e comportamentos impulsivos é um dos exemplos que acontece comigo- se você veio até aqui para mentir, já pode ir- ele resmungou
- você quer que eu te leve na minha casa? Para mostrar todos os atestados médicos, os remédios controlados... As notas das contas dos hospitais, a minha ficha na clínica psiquiatra?- eu encarei ele- tudo bem, vamos lá, eu não me importo de mostrar isso a você
- o que você veio fazer aqui?- ele perguntou, calmo, como se tudo o que eu tivesse acabado de dizer fosse algo simples
- eu vim te desejar feliz aniversário- eu sorri
- obrigada loirinha- ele pegou o pano de cima do balcão- desculpa...
- você não sabia de nada, e não tem a mínima obrigação de aceitar meus surtos- eu falei
- onde você estava? Não acho que seja comum alguém sair vestida assim para vir a praia- ele deu risada
- em nenhum lugar importante- realmente não era importante para mim
- espera ai- ele falou e logo virou de costas, pegou um prato, mexeu em mais algumas coisas e quando virou havia uma coxinha dentro do prato- feliz aniversário, não é o melhor presente que você vai receber hoje, mas é tudo o que esse garçom aqui pode te oferecer
- obrigada- eu sorri e peguei o prato- eu também tenho um presente
- o que? Não precisa- ele tentou recusar
- é falta de educação rejeitar presentes- eu falei enquanto tirava o escapulário do pescoço- toma, é pra sua proteção, já me protegeu durante muito tempo, agora é sua vez de ser protegido
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filha do tráfico - segundo livro
Fanfiction"Diretamente da boca do CL" 15 anos se passaram, Lívia agora uma mulher bem sucedida, se livrou de todos os traumas vividos anos atrás. Agora mãe, e dona da sua própria loja de roupas, vive feliz, sem preocupações, cuidando de sua filha. Caily nunca...