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As aulas acabaram e eu fui direto para o consultório da Monica, minha cabeça estava explodindo, parecia que estava esperando ser atendida a duas horas e eu cheguei aqui faz uns quinze minutos. A porta foi aberta e um paciente saiu, logo ela me encarou e me chamou com o dedo indicador

- finalmente- disse fechando a porta- pensei que iria demorar mais cinco horas

- boa tarde para você também Cailly, como você está?- ela se sentou na mesma poltrona branca de anos

- entediada como sempre- disse me aproximando dos brinquedos espalhados pelo chão- brinquedos novos?

- sim, gostou?- ela ajeitava o cabelo

- hm, talvez- eu abaixei e peguei o mesmo ursinho de sempre, voltei e me sentei no sofá

- como você está se sentindo? Tirando o fato de estar entediada

- sinceramente, eu não sei- eu bocejei- com um pouco de fome e sono

- quer me contar o que aconteceu na escola? Sua mãe me ligou e me contou o que aconteceu- ela anotou algo

- se você sabe o que aconteceu, por que insiste em perguntar?- perguntei já sabendo sua resposta

- gostaria de ouvir as suas palavras

- você não pode trocar esse bordão?- perguntei e ela sorriu- não foi nada demais, aquela garota só me irritou, e eu não estava bem

- você pediu desculpa a ela? Ao professor? Pois você atrapalhou a aula dele querendo ou não

- não pedi desculpas a ninguém, e não vou pedir- joguei a cabeça para trás- eu estou triste

- então de entediada e com fome, você mudou para triste- ela perguntou sarcástica- você não consegue esconder as coisas de mim Cailly, você sabe disso. Mas enfim, o que aconteceu?

- eu não sei, só estou triste- voltei a olhar para frente pois o teto branco estava me dando tontura- eu quero sair sexta feira, mas minha mãe não quer deixar, pelo o que aconteceu na escola

- e você acha que ela está errada?- ela não parava de escrever naquela caderneta

- não, mas não sei o que fazer para mudar isso

- já pensou em pedir desculpas? Pelo menos pra sua mãe, você sabe que deve isso, ela se esforça tanto, trabalha todos os dias, aposto que ela não tem tempo para si mesma, e, mesmo assim que trás aqui duas vezes por semana- ela me encarou- se você quer as coisas, deveria "lutar" para conseguir, e não ter tudo de mão beijada

°°°

Eu sai do consultório com o que a Monica me disse em mente, eu deveria começar a pedir desculpas? Eu sempre peço desculpas, Mas sinceramente não é com uma verdadeira sinceridade, eu só peço pois normalmente acreditam e eu no final das contas saio como uma boa pessoa, a Monica já me disse várias vezes que sou controladora e sempre consigo inverter os papéis fazendo os outros se sentirem mal por um problema que eu causei.

- mãe- chamei ela

- o que?- seu olhar estava focado no trânsito

- eu queria te pedir desculpas- falei baixinho

- pelo o que?- ela continuou sem me olhar

- por tudo, por causar tantos problemas- olhei pela janela do carro- eu não sou uma boa filha

- você é a filha que eu mereço- pude ouvir ela rir- se fosse o contrário o universo teria me dado outra

- talvez seja um gênio do Caio?- brinquei

- provavelmente, ele é babaca

- você está me chamando de babaca dona Lívia?- cruzei os braços

- você quem está dizendo- ela sorriu

filha do tráfico - segundo livroOnde histórias criam vida. Descubra agora