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Eu não consegui dormir essa noite, quando eu fecho os olhos aquela cena de repete em minha mente, minha cabeça está doendo muito. Assim como minha mãe eu só consigo ouvir meus pensamentos, o problema é que eles me incomodam. Minha mãe pediu transferência da minha escola, aparentemente ela vai processar lá, pois o que aconteceu não foi normal e não tem como as pessoas não terem visto nada.

- tem visita pra você Cailly- minha mãe apareceu na porta do quarto com um sorriso

- não quero levantar, manda entrar- falei me cobrindo até a cabeça

- eu te tiro da cama sem problema nenhum- quando ouvi a voz do Bernardo sentei rapidamente na cama e ajeitei meu cabelo colocando atrás da orelha- boa tarde loirinha- pude ver ele sorrir

- o que você estava? Qual é o seu problema? Por que me evitou?- perguntei irritada

- tô bem também, e você?- ele disse sarcástico- você já escovou os dentes? E esse seu cabelo? Tá na hora de pentear né queridinha- ele puxou meu edredom fazendo cair no chão- levanta, vai

- você não manda em mim idiota- revirei os olhos

- por favorzinho?- ele fez um biquinho

- o que tu quer aqui?- encarei ele- me animar? Tentar fazer eu esquecer o que aconteceu? Me poupe né

- ok, já entendi que você não tá legal- ele colocou as mãos no bolso do moletom- só queria ajudar, desculpa por ter ignorado suas mensagens e ligações, mas eu estava meio ocupado

- que clima pesado- minha mãe disse- tô na cozinha qualquer coisa- ela saiu do meu quarto

- senta aí- falei apontando para a beira na cama onde ele se sentou- onde você estava? O que estava fazendo?

- eu estava em São Paulo, fazendo um trabalho, desculpa por ter te deixado aqui, mas eu precisava fazer isso- ele passou a mão na nuca

- você sabe o que aconteceu com o Augusto não é?- perguntei e ele afirmou com a cabeça- você fez aquilo?

- não- ele disse calmo

- você sabe quem fez?- ele me encarou por alguns segundos

- não- ele tornou a repetir- você se sente incomodada com a morte dele por acaso?

- não é isso- esfreguei meus olhos- eu só fiquei em dúvida, pois você saiu do hospital meio alterado

- eu não fiz nada- ele deu risada- você está com fome?- ele perguntou mudando de assunto

- não muita- deitei novamente- tô cansada

- dorme um pouquinho aí loirinha

- eu não consigo- olhei para o teto branco com algumas estrelinhas fluorescentes- eu tô com medo

- eu vou ficar aqui, pode dormir que eu cuido de você- ele sorriu de lado

°°°

Acordei com o Barulho da chuva, já passava das sete da noite e já estava bastante escuto lá fora. Olhei para o lado e vi o Bernardo dormindo na poltrona no canto da parede, ele parecia estar tão calmo. Ele realmente ficou comigo durante todas as horas que dormi. Na televisão passava algum desenho do Cartoon network.

- Bê- eu chamei- Bernardo

- hm- ele resmungou e logo abriu os olhos

- sua coluna não tá doendo?- eu sorri

- um pouquinho só- ele estica os braços para se "espreguiçar" - acho melhor eu ir embora

- dorme aqui- eu olhei para as minhas mãos- eu não ocupo muito espaço na cama

filha do tráfico - segundo livroOnde histórias criam vida. Descubra agora