Desenho

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Notas iniciais do capítulo

"O futuro é como o papel em branco em que podemos escrever e desenhar o que queremos." - Marquês de Maricá

Abro a porta vasculhando toda a área da escadaria que pode ser iluminada pela lanterna. Pelo menos não vejo mais a presença daquela coisa, mas de qualquer modo continuo sentindo o cheiro fétido de putrefação e o enorme calor emanado de dentro daquele lugar. Começo a subir devagar o próximo lance de escadas, uma subida que a cada segundo parece mais uma ida para o inferno. As paredes pulsam constantemente e ouço o barulho de gritos e gemidos. Minhas mãos suam freneticamente e meus olhos não conseguem parar em suas órbitas, seguindo cada movimento que a minha mão faz com a lanterna. Os degraus rangem a cada pisada, fazendo com que eu sinta a cada segundo que irei morrer por fazer barulho demais. Finalmente consigo terminar os dois lances de escadas e paro diante de uma porta com um enorme “3”, indicando o terceiro piso provavelmente. Tento abrir: nada. Pego a pequena chave que encontrei dentro da maleta e introduzo na fechadura dando três voltas no sentido anti-horário: a porta abre me revelando um lugar quase que idêntico ao segundo andar. Vejo uma mulher de costas com um vestido bem curto. Ela parece uma enfermeira.

–Er... Moça, tudo bem?

–Aaaahhhh!

O gemido entra na minha mente junto com o cheiro de carne podre no meu nariz. A mulher se vira na minha direção e então vejo o seu rosto completamente deformado e enegrecido por algum tipo de líquido estranho, provavelmente sangue. Essa mulher me lembra quando voltei doente da casa da minha tia em Silent Hill...

Não dá mais tempo de pensar e ela tenta me atacar com uma seringa. Ela erra. Puxo a chave inglesa e uso toda a força que tenho em movimentos repetitivos, investindo contra a coisa. Sinto um arrepio quando o sangue dela começa a jorrar e a me sujar. Ela tenta uma nova investida, mas eu sou mais rápido e acerto o rosto deformado com a chave inglesa derrubando a criatura no chão que ainda grita e esperneia. Vou até ela reunindo todas as minhas forças na minha perna direita e piso no rosto, fazendo com que a criatura pare de se debater e de gritar. Coloco as mãos nos joelhos respirando fundo. Perco a consciência por alguns instantes.

[–Mas tia... Eu tô bem.

–Bem, bem... Até parece. Vamos levar você ao Alchemilla. Você parece acometido de alguma doença muito grave.

–Não, não!! Eu não quero ir ao hospital! Lá tem aquelas mulheres dão injeção... Vai doer muito!

–Ah, mas tenha calma. É apenas uma picadinha... E sua febre está muito alta.

–Mas... Elas são feias.]

Recobro a consciência. Agora realmente me lembro, eu já vim em Silent Hill outras vezes. Minha tia morava aqui, então deve ser por isso que sempre sonhei com a realidade dessa cidade. De algum modo, parece que o meu passado e o meu ser está profundamente interligado com essa cidade e tudo isso que estou vivenciando. As enfermeiras, os manequins... Essas coisas são fruto dos meus medos.

Caminho até a porta dupla, ainda ofegante. Abro-a e encontro um corredor bem semelhante ao que havia no andar de baixo. Começo a abrir porta por porta tentando encontrar Mateus.

–Mateus... – grito no corredor.

Vejo leitos manchados de sangue. Ainda há mais quatro portas a serem abertas além dos dois banheiros. Decido ir até o banheiro masculino na esperança de encontrar algum objeto que me ajude aqui, mas não encontro nada além de um banheiro limpo, iluminado e com um espelho que mostra a minha camisa completamente suja de sangue. Decido trocar de roupa e coloco uma camisa manga longa listrada de preto e marrom junto com uma calça jeans azul, colocando a roupa suja de sangue dentro da mochila. Dou uma ultima olhada no espelho revendo a minha aparência e saio.

Silent Hill: O ArtefatoOnde histórias criam vida. Descubra agora