Inflamável

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Notas iniciais do capítulo

"Não há nada tão inflamável quanto a imaginação." - Autoria própria.

–Matthew, por favor! Veja onde estamos! Não podemos nos desesperar!

Chang tem razão, sim ele tem. Ao olhar pra mim, vejo o que essa droga de cidade me tornou... No sentimental Matthew, aquele cara que eu matei, aquele rapaz que ficou para trás. O Matthew emocional deixou de existir a muito tempo e eu tenho que fazer jus a sua morte. Chang olha pra mim esperando alguma resposta ou reação, me fazendo enxugar as lágrimas.

–Você tem razão... Desculpe-me.

–Onde está aquele rapaz que eu conheço? Matt, você não era nem um pouco assim...

–Eu... eu sei.

Estamos agora subindo uma escadaria de metal, que provavelmente vai dar em alguma espécie de montanha russa. Chang parece preocupado com alguma coisa, desprezando completamente o que se passa em minha mente.

–Olha Matt, tem uma coisa que eu preciso te falar, mas não sei se vai ser seguro agora.

–Então é melhor não falar, Chang.

Ele assente com a cabeça e continuamos subindo as escadarias. Chegamos ao ponto mais alto e vejo uma pequena construção, pelo que parece é a sala de controle do brinquedo. Chang vai até a porta e verifica se está aberta: nada. Tiro o canivete do bolso e abro a porta com facilidade, girando a maçaneta ao ouvir o som de um “click”. O brinquedo parece que não foi usado há anos. Tem um pequeno recado pregado ao vidro da sala. Ilumino com a lanterna:

“Devido ao problema com os portões do parque, verifique se o brinquedo está desligado ao caminhar pelos trilhos. Josh”.

–Okay, então pra prosseguirmos teremos que andar pelos trilhos, certo?

–Sim, é o que parece. – Chang assente.

Damos mais uma olhada no local. A luz de “power” está vermelha, indicando que o equipamento está desligado. Saímos da sala e Chang pula as grades que separa a plataforma dos trilhos e eu faço o mesmo. Começamos a caminhar sobre os trilhos da montanha russa. É um pouco alto, então eu sinto um pouco de medo ao caminhar. Ele vai à frente, segurando agora a lanterna e olhando para baixo em alguns pontos procurando alguma espécie de escada. Eu apenas o sigo, evitando olhar pra baixo por meu medo de altura. O comum cheiro de podridão continua a invadir minha mente e o selo de Matatron bem guardado dentro da mochila. Continuamos caminhando por alguns minutos até que Chang para.

–Droga, o resto está quebrado. Não estava antes...

–Mas ein?

Antes? O que ele queria dizer com antes? Por acaso já esteve aqui em Silent Hill? Agora as coisas estão começando a piorar. Chang parece saber de alguma coisa sobre este lugar e talvez seja isso que ele quer me contar desde que me encontrou e me julgou “emocional” o suficiente para não contar. De fato, ele nunca tinha me visto expressar muitas emoções e sendo quem ele é (meu colega de quarto), provavelmente deveria ter visto alguma se eu demonstrasse, pois já são quase dois anos de curso. Mas de qualquer forma, o essa frase de Chang me deixa inquieto, além de quê, ele parece ter certa noção por onde anda. O rapaz olha pra mim ao ouvir minha fala de surpresa. Seu rosto forma uma expressão de uma criança que teve a sua traquinagem descoberta pelos pais.

–Er... Precisamos conversar, mas não agora. Preciso que você use o Selo de Metatron pra trazer esse lugar para a realidade normal e verificar o estado da montanha russa.

–Mas... – Começo tentando esquecer por um tempo do que ocorreu. – E se essa parte que nós estamos estiver quebrada?

Ele olha pra mim sem temor algum no rosto e parecendo desprezar tal argumento.

Silent Hill: O ArtefatoOnde histórias criam vida. Descubra agora