A Casa Mal Assombrada Parte 2

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Notas iniciais do capítulo

"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente." - Mário Quintana

A sala é apenas mais um cenário de brinquedo. Há um corredor delimitado pela parede e grades, envolvendo uma espécie de escritório com o que parece ser um corpo balançando em uma cadeira atrás da escrivaninha. Essa coisa me dá arrepios porque parece muito de verdade. Chang prossegue com cuidado, dando um passo de cada vez enquanto eu apenas o sigo mais lento ainda, tentando vencer o cansaço das pernas e o cheiro completamente podre de tudo, que vem de qualquer lugar. O mais estranho é que esse lugar não parecer ter sido afetado pela mudança da cidade. Ainda bem, porque esse lugar já é assustador por si só. O silêncio predomina até o momento em que Chang dá o passo seguinte em direção à porta. De repente, um corpo amarrado por correntes cai diante dele fazendo com que o rapaz pule dando um grito, o que me assusta. Imediatamente, a voz familiar do brinquedo começa a falar.

–Bem, esse é o Danny!

Olho para o corpo balançando diante de mim e que a um segundo atrás estava parado. A cabeça dele começa a se mexer freneticamente e sinto um arrepio subir pela espinha. Mas o que diabos seria aquilo e porque Chang não esboça nenhuma reação? De repente, o corpo cai diante de Chang abrindo um enorme buraco no chão e começo a ver as coisas se alterarem à minha volta. Tento recuar, mas não vejo porta alguma. O chão começa a cair, deixando apenas as conhecidas grades sujas de sangue. Vejo as paredes se descascarem, revelando gigantescos blocos de vidro ao meu redor e me fechando em uma sala enorme de quatro paredes repletas de espelhos que partem do chão até o teto, um teto infinito ou invisível. Percebo minha visão ficar um pouco turva e não demoro pra me dar conta de que tudo ao meu redor está encobrido por uma névoa, a conhecida névoa de Silent Hill. Mas onde eu estou agora? Em que parte desse maldito lugar? Meu coração está mais acelerado do que nunca esteve em minha vida. Chang não está aqui e não sei para onde ir... Todo o lugar envolto por névoa, nenhuma porta, nenhuma janela... Espelhos gigantescos me prendendo e nada mais além do que isso. Não sei o que fazer.

–Chaaang!! – Grito desesperadamente.

Não há mais nada além dos meus reflexos sendo mostrados pra mim. Mas por quê? Como vim parar aqui?

–Chaaaang!! Não, não pode ser... Drogaaa!!! Socorrooooo!! Socorrooo!!

Sei que é em vão, ninguém vai me ouvir e começo a me desesperar... Tenho que correr, que sair daqui. Mas pra onde? Meus olhos começam a formar lágrimas. Corro por todo o lugar, mas acabo tendo a mesma certeza de antes: estou preso. Sinto medo e sento no chão colocando as mãos nos ouvidos. Eu não quero ouvir esse silêncio, esse silêncio horrível que só pode ser produzido pela morte. Eu começo a gritar com as mãos nos ouvidos, gritar como se nunca houvesse feito. Esse lugar só pode estar brincando comigo!

–Chaaanngggg!!!

Minha voz está embargada e não consigo parar de deixar as lágrimas rolarem por meu rosto abaixo. Estou sozinho, estou perdido. Não sei o que fazer, não sei para onde ir... A última vez que senti tais coisas foi quando mamãe morreu. Mamãe... Por culpa do papai, que até na sua morte não nos deixou em paz. Eu o odeio, odeio! Se não fosse ele, hoje eu não teria vindo pra essa droga de cidade! Teria ido parar em outra faculdade, feito outro curso talvez... Teria um futuro diferente, um que eu pudesse pagar! Tiro as mãos dos ouvidos e olho os gigantescos espelhos. Talvez se eu conseguisse quebrá-los... Mas e se houver uma sólida parede por trás deles? O que eu faço? Talvez seja melhor tentar, melhor tentar do que nada. Sinto o peso da mochila às minhas costas e a puxo, vasculhando cada milímetro quadrado dela, encontrando a chave inglesa, a chave que me ajudou a matar os manequins. Se conseguir quebrar essas coisas, talvez ache uma saída daqui. Mas uma coisa ainda me intriga... Como eu vim parar nesse lugar?

Silent Hill: O ArtefatoOnde histórias criam vida. Descubra agora