O Vórtice

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Notas iniciais do capítulo

"Das habilidades que o mundo sabe, essa é a que ele ainda faz melhor: dar voltas!" - José Saramago

–Chaaang!!

Nada. O silêncio prevalece enquanto sou envolvido por um frio descomunal. Começo a achar que Chang morreu no corredor do laser e eu não fiz absolutamente nada para tentar salvá-lo, pelo contrário. Se Chang estiver morto, então terei que encontrar Anette sozinho além de ter mais um peso na consciência, já que deixei Mateus morrer e Angela se matar. Agora, Chang talvez esteja morto e Anette para morrer, se é que já não está morta. Me sinto um idiota, um grande e imbecil idiota. Já fazem vinte minutos que Chang não saiu, e eu aqui fora. Mas não vou entrar novamente ali, de forma alguma. Seria pior se eu entrasse e o encontrasse morto, sendo morto logo em seguida pelo laser. Talvez ele preferisse que eu salvasse Anette, não ele... Anette. Porque fui deixa-la sozinha com aquele outro imbecil do Don? Ser subornado para sacrificar a vida dela? Ah, isso me enoja. Anette... Queria estar com ela agora, protegendo-a... – Anette... – penso enquanto minha mente é preenchida pela imagem da garota loira. Talvez não devesse ter dito aquelas coisas, a última impressão que ela teve de mim, a de um idiota que é capaz de qualquer coisa pra realizar seus desejos egoístas... Eu não quero que ela pense assim, não quero que me veja assim, eu quero que...

–Matt... – ouço uma voz chamando meu nome. Olho para frente e vejo um vulto, um vulto baixo e que talvez eu desse praticamente tudo pra revê-lo... Mateus

–Mateus! Você... Você está aqui...

A garoto está em pé diante de mim. Não consigo entender se é uma visão ou se é real. Ele se aproxima mais de mim, seu sorriso parece radiante diante da baixa iluminação de um dos postes do parque que se acende fracamente próximo a ele. Seu rosto parece um pouco arranhado, como se ele estivesse lutando contra algo. Ele continua sorrindo.

–Matt... Sou eu, Mateus!

Meu coração é tomado por uma velocidade descomunal. Me sinto feliz ao vê-lo, me sinto feliz ao ver que sua morte não aconteceu, que ele está vivo. Ele continua andando até mim, mas parece nunca chegar. Fico me perguntando se ele realmente está andando em minha direção.

–Mateus?

–Venha me buscar, Matthew! Ou vai me deixar morrer também?

–O quê?

Ele começa a correr em minha direção, mas não sai do lugar. Começo a correr em direção a ele, mas ele não chega até mim. Quanto mais eu corro, mas ele vai ficando distante. Vejo um forte brilho vermelho iluminar tudo de repente, Mateus está sendo puxado em direção a ele.

–Mateus!!!

Começo a correr ainda mais rápido enquanto o garoto corre em minha direção, mas de alguma forma muito estranha é puxado de costas para o sentido oposto. Ele começa a gritar, gritar como nunca e seus gritos invadem minha mente, me deixando atordoado.

–Mateeeeeeuuus!!!

Quando mais corro, mas a distância entre nós aumenta. Sinto coimo se estivesse em alguma espécie de túnel, vendo como única claridade alguma luz vermelha atrás dele. Eu corro, mas não saio do lugar. Meu coração está a mil, mas meus pés não me movem pra frente...

–Mateeeeuuus!

–Matt... Você vai me deixar morrer de novo?

De repente todo o tempo para como se alguém estivesse apertando o botão de pause em um vídeo de tv. Então, todo o lugar começa a se distorcer e a luz vermelha, agora um pouco mais enegrecida forma uma espécie de vórtice atrás de Mateus. O garoto desaparece em meio a ela e aquela coisa começa a sugar tudo pra dentro, sinto-me puxado na direção dela e não sei o que devo fazer, a não ser correr. Penso em Mateus, mas uma hora dessas já nem sei mais o que fazer a não ser correr. A coisa começa a me seguir ganhando um pouco de velocidade e consigo sentir a força com que aquilo tenta me puxar pra dentro, junto com tudo mais ao redor. Começo a correr, enquanto a luz vermelha parece iluminar tudo enquanto atrai as coisas para dentro de si. Consigo ouvir gritos vindos de dentro dela, gritos de uma criança, de uma mulher de um homem, todos ao mesmo tempo. Começo a ficar desesperado. Entro em um beco feito por paredes de madeira e continuo correndo enquanto a coisa me persegue. Quanto mais corro, mas minha mente me engana me mostrando flashes do dia em que meu pai me jogou da escada. Os gritos eram meus, eram de minha mãe e do meu pai, todos ao mesmo tempo.

Silent Hill: O ArtefatoOnde histórias criam vida. Descubra agora