Sr. Orosco

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Notas iniciais do capítulo

"O que o pai calou aparece na boca do filho, e muitas vezes descobri que o filho era o segredo revelado do pai." - Friedrich Nietzsche

–Matt... Não podemos continuar sem que eu te diga isto.

Olho pra Chang. Meus olhos continuam cheios de lágrimas que não consigo conter. Faz apenas alguns minutos que vi o garoto a quem tinha prometido encontrar o pai morrer diante dos meus olhos mordido pela droga de um lobo que o imbecil aqui não conseguiu conter do lado de fora. Mais uma vez, eu havia sido o culpado de tudo.

–Eu... Eu não quero saber agora, Chang! Aquele garoto, eu... Eu havia prometido encontrar o pai dele ou então arrancar ele dessa droga de cidade e agora ele está morto! Eu o deixei morrer.

–Você não está compreendendo nada mesmo, não é Matthew? Não sabe no que nos envolvemos vindo pra cá. No que se envolveu...

–NÃO ME IMPORTO! Eu queria salvá-lo, tirá-lo daqui... Eu causei a morte dele.

Ele revira os olhos.

–Okay. Vamos atrás de Anette então. Encontremo-la e saiamos daqui logo, assim salvaremos mais gente. Não temos muito tempo.

–Como assim não temos muito tempo?

Eu o puxo pelo braço, impedindo-o de abrir um portão verde de madeira que provavelmente nos levaria a outro compartimento do parque. Não sei como Chang conhece esse lugar, mas pelo visto ele está tão informado quanto eu.

–Ah, Matthew... Você não quer saber, lembra? E pensando melhor, é bom que não saiba mesmo. Está cheio de emoções... Se souber vai estragar tudo, faça apenas o que eu lhe disser e tudo ficará bem.

Emoções? Como assim emoções? De fato, a cidade está me mudando. Está me deixando emocional de novo... Eu chorei a morte de Mateus, eu me desesperei e agora estou gritando com Chang. De fato, essas emoções podem atrapalhar, mas não consigo contê-las. Foi muito doloroso quando tive que contê-las uma vez, por causa do meu pai... Mas... Porque ele quer assumir o controle? Estou aqui a mais tempo, estou com o Selo de Metatron! Eu deveria ter o controle da situação, mas sou o mais descontrolado por aqui. Talvez Chang deva ser melhor com isso... Ele se solta e tenta forçar o portão, mas nada consegue.

–Er... Chang?

–Sim?

Reviro na mochila e retiro o Selo de Metatron, entregando a ele.

–Tome isto. Ele controla as duas realidades de Silent Hill... Eu estou “emocional” de mais para usá-lo, então você pode alternar as realidades com ele. Talvez na outra, essa porta esteja aberta.

–O QUÊ?! Então todas as vezes que a cidade muda é você com essa... “Coisa”?

–Provavelmente.

Ele respira fundo como se soubesse que a culpa de tudo fosse minha e pega o objeto com a mão.

–Como funciona?

–Bem... Você imagina essa cidade diferente, simples...

–Simples... Legal. – Ele tranca a cara.

Ele fecha os olhos com o Selo e tenta abrir a porta. Nada acontece. Percebo um esforço da parte dele em imaginar tudo, mas absolutamente nada acontece mais uma vez.

–Essa droga não funciona, toma!

–Vou tentar...

Seguro o objeto em minha mão direita e toco a maçaneta com a outra mão. Fecho os olhos e imagino a cidade no lado escuro, aquele lugar se deteriorando. Sinto a familiar sensação e abro os olhos, conseguindo ver tudo ficando escuro mais uma vez, o chão caindo deixando apenas grades enferrujadas. Os muros do lugar começam a aparentar um estado horrível, como se estivessem sido banhados por sangue fresco. O cheiro de enxofre e carne podre invade meu nariz e sinto náuseas. Meus sentidos se confundem e tenho a impressão de que meus pés estão enraizados no chão. Chang me olha como se eu tivesse descoberto a maior invenção do mundo.

Silent Hill: O ArtefatoOnde histórias criam vida. Descubra agora