Notas iniciais do capítulo
"O abandono é tão traiçoeiro quanto à morte, porém a morte ainda é compreensível." - Alison Santini
–Matthew, olha pra mim! – Anette me olha firmemente ainda com um pouco de lágrimas nos olhos.
Estamos sentados em uma das fontes que ficam no jardim do hotel, um pouco à frente da entrada principal. Eu havia decidido continuar, mas ela se recusou a dar qualquer passo sem ter um pouco mais de explicações. Mateus pareceu não se importar muito em falar dos acontecimentos, mas nos deixou um pouco “a sós” e foi sentar no cais, observando o lago enevoado. Ambos sabíamos que provavelmente a garota não fazia ideia do que estava acontecendo ali e ainda por cima havia perdido o seu pai de uma forma que ninguém gostaria de perder. A única coisa que sinto dela é um pouco de compaixão, já imaginando no que ela terá de enfrentar quando as coisas começarem a aparecer.
–O que você quer? – Pergunto automaticamente.
Ela me olha fazendo uma careta. Provavelmente fui frio de mais no modo em como falei, mas sinceramente, já sei o que ela vai dizer. Vai dizer que perdeu o pai, que não sabe se vai suportar toda a dor que sentiu por ele e que não faz ideia do que está acontecendo nessa cidade. Sinceramente, eu pretendo dar crédito apenas a ultima parte.
–Matt... – ela começa colocando a mão na barriga – O professor Thompsom... Como pode fazer aquilo? – Seus olhos voltam a encher-se de lágrimas.
–Bem...
Tento começar, mas imediatamente penso que poderia não ter sido exatamente o professor. Primeiro porque essa cidade entrou em minha mente arrancando as coisas que havia até na mais profunda região e trouxe à tona. Depois, a percepção da cidade provavelmente varia entre cada pessoa que está presente, uma vez que eu via os manequins, o professor apareceu e não viu absolutamente nada de estranho e Mateus viu um pouco mais além, achando até mesmo que eu era uma das coisas, fugindo e se trancando dentro de uma daqueles prédios. Mas como explicar isso pra ela?
–Você... não vai dizer nada?
Volto a olhar pra ela. Seus olhos agora encharcados em lágrimas me observam como se pedissem uma palavra de consolo, como se me visse como alguma espécie de ombro amigo. O que eu poderia fazer? Estudei com Anette desde que comecei a cursar a faculdade, pois todo semestre sempre caía em uma turma que ela também havia se matriculado. Acabei criando certo laço com ela e de fato, fazia sentido que ela realmente esperasse alguma coisa de mim, como se fosse responsável por ela. Além do mais, se eu não tivesse tido a brilhante ideia de ter vindo a Silent Hill, ela não teria vindo parar aqui. Penso em dizer qualquer coisa.
–Você já teve a impressão de que já esteve aqui?
A expressão de surpresa dela é evidente. Ela não esperava por isso.
–Sim... Mas porque eu já estive aqui... – ela fala entre soluços – Eu nasci nessa droga de cidade, Matt. Meu pai na verdade me adotou. Ele me encontrou junto com uma carta que dizia de onde eu era e que um dia eu deveria voltar pra cá... Eu sempre pensei em um dia pisar em Silent Hill novamente, mas soube dos rumores que rondavam sobre o lugar e desisti. Afinal, cidades abandonadas não são meu forte. Mas... esse foi mais um motivo pra que eu viesse aqui junto com aquele... aquele... Canalha! – Ela recomeça a chorar e deita a cabeça no meu ombro.
–Engraçado... Eu nunca estive aqui, mas tenho lembranças de que, quando criança, frequentemente vinha aqui na casa de alguma tia. O que não faz sentido, já que naquela época essa cidade já estava abandonada...
Ficamos em silêncio por um momento. Anette provavelmente devia estar tendo uma confusão mental, uma vez que se a cidade já era abandonada, ela não tinha como ter nascido aqui e tão pouco eu ter tido lembranças desse lugar quando criança. Meus flashes me mostravam aqui, ou tendo alguma relação com essa cidade, mas ainda sim eu não conseguia dizer se realmente aquelas lembranças eram totalmente minhas... Mais pareciam ser de uma outra pessoa que se misturavam com meus pensamentos. Isso não faz sentido, já que me lembro claramente do meu pai que tinha problemas com álcool, mas não consigo me lembrar de vir a Silent Hill periodicamente por causa disso. Na verdade, as coisas aqui parecem comuns, familiares. Mas mesmo assim não consigo me lembrar de nada tão claro que me mostre dentro dessa cidade antes dos eventos recentes.
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Silent Hill: O Artefato
HorrorEU achei que ERA apenas mais um aluno de história; EU achei que estava apenas buscando por mais uma LENDA; EU achei que não tinha nada a ver com o que estava acontecendo nessa CIDADE; EU achei que o SELO DE METATRON fosse apenas um artefato arqueoló...