A Casa Mal Assombrada Parte 1

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Notas iniciais do capítulo

"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente." - Mário Quintana

Estamos em um pequeno corredor delimitado por grades. Há uma espécie de grama sintética ao lado e algumas luzes em forma de abóbora posicionadas no chão que estão estranhamente acesas, iluminando um pouco o lugar. Ainda sim, Chang usa a lanterna.

–Estamos mais perto agora. Essa é a mansão assombrada, nada que precisemos nos preocupar.

Ótimo, uma mansão assombrada dentro de uma cidade assombrada... Na teoria, nada que tivesse aí dentro poderia ser tão assustador quanto esse lugar. Se tivéssemos sorte, isso seria apenas um brinquedo.

Chegamos ao final do corredor e Chang entra no outro, que dá em uma porta, o que provavelmente é a entrada do brinquedo. Posicionamo-nos na frente e Chang tenta abrir o lugar: trancado. Retiro o canivete do bolso e abro a porta sem mais problemas. Vamos entrando um pouco e a porta ser fecha sozinha. É um hall sem nada, com apenas quatro paredes e mais uma porta à frente. De repente, uma voz começa a falar.

–Bem vindos A Mansão Assombrada Borley. Estamos felizes porque você veio!

Eu e Chang nos entreolhamos.

–Er... É coisa do brinquedo...

–Okay...

–Por favor, entre e dê uma olhada se você acha que está pronto para cruzar a porta.

Ouço um barulho de porta destrancando e logo imagino um brinquedo automático dando mais realidade ao lugar. Se nenhum outro brinquedo funciona nessa droga de parque, a mansão assombrada precisa funcionar... O que seria bem provável para tal contexto. Vamos até a porta e Chang a abre. Dou três passos para dentro do local e começo a ver. Isso aqui não parece mais um simples brinquedo, mas me lembra um lugar muito familiar, um lugar o qual vivi praticamente toda a minha infância, o lugar onde eu...

–Chang, mas o que é tudo isso?

–Er... É apenas um brinquedo.

–Mas porque estou vendo tudo isso? Parece...

–Parece?

–Minha casa!

[Acabo de entrar e ouço o barulho de soluços. Não era uma coisa muito estranha de se encontrar em minha casa, infelizmente. Minhas aulas acabaram mais cedo hoje fazendo consequentemente com que eu chegasse mais cedo em casa para a minha tristeza e arrependimento. Eu tinha aulas todas as manhãs e tardes, o que fazia com que meus dias fossem inteiramente dedicados ao colégio, mas nem tanto ultimamente, pois meus pensamentos agora ficavam resguardados em casa, particularmente minha mãe.

Ouço o barulho da porta da frente se fechar bruscamente às minhas costas e vou caminhando lentamente por dentro da casa não muito grande. Os soluços parecem vir de cima. Continuo até chegar à cozinha, me permitindo subir as escadas e dar de cara com um pequeno corredor iluminado unicamente pela luz do último quarto, o quarto dos meus pais. O barulho continuava e parecia ser emitido dali. Abri a porta do primeiro quarto, isto é, o meu quarto, jogando a pesada mochila em seguida para dentro e fechando a porta em poucos segundos. Minha respiração acelera junto com meus batimentos cardíacos e logo sou tomado pelo medo. Medo de alguém ter entrado em casa, medo de terem matado alguém, medo de terem roubado algo, ou então... Medo que meu pai tenha bebido novamente.

Tento andar devagar para que a pessoa que está emitindo o som não perceba que estou me aproximando, estragando assim a percepção dela. Minha mãe não pode saber que estou aqui, não até que eu a veja chorando pra ter certeza. Com cuidado, me coloco junto à parede, ouvindo assim um barulho mais alto de choro e soluços. Tento me colocar em frente da porta o suficiente para ver alguma coisa mesmo sabendo o que me espera dentro do cômodo. Meus olhos finalmente se deparam com a parte dentro do quarto, fitando uma mulher sentada em cima de uma cama de casal que parece chorar muito. É a minha mãe.

Silent Hill: O ArtefatoOnde histórias criam vida. Descubra agora