A Ordem

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Notas iniciais do capítulo

"Existem certas ocasiões em que um homem tem de revelar metade do seu segredo para manter oculto o resto." - Philip Chesterfield

–Então... Quando vai ser? – Pergunto.

Continuamos no mesmo lugar, sentados em cima do container. A névoa continua recobrindo a cidade e o cheiro da coisa queimada ainda permanece no ar desnorteando meus sentidos. Chang parece preocupado com o que vai falar, o que me deixa com mais medo do que seja. Se ele tiver coisas piores a me contar sobre esse lugar, coisas piores do que já vivenciei, nem sei o que fazer. E se ele souber alguma coisa sobre Mateus ou sobre Anette?

Chang respira fundo.

–Okay, mas por favor... Não me mate!

–Certo, não o farei.

–Bem... Eu nasci aqui, em Silent Hill.

–Sério? Ainda nascem pessoas aqui?

–Sim Matt. Ainda existem pessoas morando nesse lugar, pessoas que acreditam em algo...

–Pessoas que acreditam em quê?

–Ah Matt, seja esperto! – Ele aumenta o tom de voz. – Você não pode ser tão idiota a ponto de não perceber, de não conhecer as coisas profundas dessa cidade! Eu sei muito bem que você não veio parar aqui por acaso, diferente de Anette... Eu vi sua carta!

–Okay! Eu sei mais o menos o que está acontecendo aqui. Eu tive uma aula disso, foi isso que me fez vir até aqui.

–Então... Foi Thompsom que te deu essa aula?

–Sim. Foi ele.

–Ah, agora sim tudo faz sentido.

Começo a sentir certa irritação.

–Chang, dá pra me explicar logo? Estou cansado de ser o único a não saber o que se passa nessa droga de lugar.

–Você nunca ouviu os rumores de Silent Hill Matt? Por favor! Não se faça de idiota.

–Tá... Sei que cultuam um deus antigo aqui, que esse deus requer sacrifícios, que ele quer renascer e que essa outra realidade tem alguma coisa a ver com isso, mas não sei fazer relações tão profundas. Sei que houve uma miscigenação de religiões aqui e que tem uma tal de Ordem que quer fazer um deus renascer e talz... Mas não sei muita coisa.

–Matt... Eu faço parte da Ordem.

–O quê?!

–A essa altura do campeonato não posso mais esconder. É exatamente isso, Matthew. Eu nasci aqui, meus pais faziam parte da Ordem antes de morrerem.

–Mas... Mas... Como se pode viver em uma cidade como essa?

–Dizem que Silent Hill é uma cidade abandonada... Esse lugar nunca foi abandonado, Matthew! Além das pessoas que moram aqui, existem outras que chegam aqui por alguma razão, por algum motivo... Chegamos a vê-las, mas não nos é permitido interagir com elas.

–Não, espera aí... Então esse lugar... – Olho em volta, vejo pouca coisa com a forte névoa que recobre tudo – não é abandonado?

–Exatamente.

–Então... Porque ninguém sai daqui? Quem suportaria viver em uma situação dessas?

–Como eu te disse, acreditamos em algo.

–Mas... Você saiu!

–Eu sei... Mas eu saí exatamente porque era meu dever... Eu deveria encontrar alguém.

Silent Hill: O ArtefatoOnde histórias criam vida. Descubra agora