Capítulo 31

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Ela voltara ao mundo o qual não tinha sua filha.

Jo's P.O.V.

Abro os olhos e sinto a mesma merda da claridade. 

Momentos na banheira voltam à minha mente e me assusto. O motivo era pior. 

Uma enfermeira está ao meu lado checando as máquinas.

Pego em seu braço e ela dá um pulinho de susto.

– Olá, como se sente? – ela me pergunta.

Acabei de acordar num hospital depois de uma tentativa falha de cometer suicídio. Como acha que estou me sentindo?

– Bem.– respondo com o sorriso mais forçado possível, mas ela não sabe disso.

– Que bom! Meu nome é Jane e eu sei que estás mentindo.– ela diz.

– Como pode dizer que estou mentindo?– pergunto.

– Atuei como psicóloga por anos, mas uma paciente me fez desistir de tudo.

– Quem? Por quê? – perguntei

– Uma suicida. 

– Ah

– Sabe o que é se sentir inútil no nível mais extremo possível? Ela consultou comigo por dois anos. E eu achava que estava sendo eficiente… achei isso até o dia 16 de abril de 2004, o dia em que ela resolveu tirar a própria vida perto de uma caçamba ao lado do prédio do meu consultório.– ela disse, e eu podia ver a dor transcrita em seu olhar.

– Sabe que eu sou uma, né? – perguntei

– É, eu sei. Você se consulta com algum psicólogo?

– Não sobre isso

– Quer conversar sobre o que aconteceu? Digamos que tenho experiência no caso.

– Vou acabar como o dito cujo?

– Se não fôssemos nós da equipe médica, você poderia estar como o dito cujo agora mesmo!

– Você é enfermeira.

– Quer diminuir meu cargo?

– Longe de mim!

– Quer conversar sobre isso ou não?

– Por quanto tempo você exerceu sua antiga profissão?

– 13 anos.

– Uau. E desistiu por uma?

– Nenhum outro paciente meu havia morrido.

– Ah, sim.

– Quer conversar sobre o que aconteceu ou não?

– Sei que não estamos em nenhum consultório nem num divã, mas tem o bagulho da confidencialidade?

– Claro!

– Perdi minha filha e não achei justo continuar viva.

– Nada é justo na vida, Langford. Mas você continuar viva e ter uma nova oportunidade é o justo. A possibilidade de um bebê novo, ou uma criança adotada.

– Não tenho companheiro.

– E o coturninho preto que estava chorando na recepção até o médico dizer que estavas bem?

– Coturninho preto – repito e sorrio, lembrando dos belos coturnos que Hero nunca deixa de lado – Ia ser o pai da Sophie. – falo

– Conte-me sobre a gravidez.

– Bom, um dia eu sofri um acidente com o Hero e acabei com perda da memória retrógrada, então, lembro de poucas coisas. 

– E como tu lembras disso?

– Meu despertador relata isso. 

– Ah, entendi. E Hero? Gosta dele?

– Eu não sei. Mas eu sinto algo quando ele tá por perto, sabe?

– O quê tu sentes?

– Ele faz eu me sentir protegida, acolhida.. me faz sentir amada por alguém, entende? E eu não consigo distinguir o que eu sinto por ele, porque nos últimos quatorze dias eu só pensei na Sophie.

– Olha, não vou te pedir para esquecer o aborto ou tratar com menos importância, porque isso é impossível. Mas tenta pensar em outras coisas também, tente conversar! Saia um pouco, não sei. Mas, se tu veres que gostas do Hero, por favor, não o machuque! Tu significas muito pra ele e isso é extremamente perceptível. Eu nem o conheço, mas sei que gosta de ti. Tu és muito importante pra ele, isso é fato! E desculpe-me, estou enferrujada na psicologia.

– É bom ter uma psicóloga que mais fala como se fosse amiga minha. Muito obrigada! 

– Está falando sério?

– Muito sério.

– Eu não consulto alguém desde 2004.

– Tais nada enferrujada.

– É bom ouvir isso.

– Eu… posso ver alguém?

– Vou dar um jeito! – Jane falou, toda animada.

Alguns minutos se passaram e Hero entrou no quarto.

Seus olhos estavam extremamente inchados, seu cabelo desarrumado e sua jaqueta estava mal colocada. Ele abriu um sorriso tão grande ao me ver e começou a falar.

– Eu nunca pensei que iria falar isso pra alguém, mas eu tô tão feliz por tu não conseguires ter sucesso! – disse, e seu sorriso se expandiu, junto de lágrimas que escorriam.

Ele chegou mais perto.

– Me deixa te abraçar? – perguntou, e eu assenti.

Ele passou seus braços pelas minhas costas e me apertou contra seu peito. As reações do meu corpo foram à disparada. O alívio e conforto que senti ao tê-lo me abraçando foram indescritíveis. O abracei mais forte ainda e senti seu corpo relaxar enquanto ele caía no choro. Hero não merece passar por isso.

E Quando o Verão Acabar? - Livro 1 "O Fim das Estações" [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora