Capítulo 02

587 91 31
                                    

Eu estava assistindo um filme no cinema com o Rayner quando alguém começou a me sacudir.

"Jovem oráculo, acorde, acorde!"

"Hnn... chega de beijos, Rayner, meus lábios doem..." Eu me virei pro outro lado. "Pode me beijar em outro lugar, se quiser..."

O mestre me sacudiu com força, me acordando de vez.

Eu esfreguei os olhos, estranhando a tensão no rosto dele.

"O que houve? Já é hora de treinar?" Eu bocejei alto e logo depois ouvi passos. "Nossa, já estão trazendo o almoço? Quanto tempo eu dormi?"

"Acorde de uma vez, seu garoto sem salvação! Tem algo errado. Passos demais, cedo demais." Disse ele.

O mestre me entregou o casaco e fingiu-se de morto na posição habitual. Eu rapidamente me vesti, alisei o cabelo com os dedos e fui espiar pela janelinha de grade.

Bernàr e Ripple surgiram no corredor com dois outros soldados. Nenhum deles estava trazendo comida nem equipamentos de limpeza.

Um dos soldados chegou à minha cela com um molho de chaves.

"É este aqui, Tenente Ripple?" Perguntou o soldado.

"Conhece algum outro tritão de olhos dourados, seu estúpido? Anda logo, meu pai odeia ficar esperando." Disse Ripple.

O soldado destrancou a cela e me puxou pelo braço.

"Ei, o que vão fazer?" Eu tentei travar no chão, mas aquele cara era grande e forte.

"Precisamos acorrentá-lo?" Perguntou Bernàr, enquanto agarrava meu outro braço.

"Nah, foda-se, o moleque fugiria pra onde? Vamos logo." Disse Ripple.

Os soldados me arrastaram pelas escadas rumo à superfície. Era a minha primeira vez deixando a cela em muitos meses, mas já implorava internamente para voltar.

Quando enfim deixamos o calabouço eu fui conduzido até a sala do trono. Meu estômago embrulhou com o medo de reencontrar aquele imperador sádico, mas o trono em si estava desocupado. O único naquele lugar era um selkie alfa bem velho e enrugado, de cabelos brancos desgrenhados e olhos tão sombrios quanto os daquele imperador. A julgar pelas muitas joias em sua toga de pele aquele cara era importante.

Além daquele velho, a única novidade era uma banheira de ferro dentro de uma jaula que mais lembrava uma gaiola de passarinho gigante. Descendo do topo da jaula havia diversos fios e correntes que terminavam a poucos centímetros da água. Do lado da jaula também havia diversos aparelhos com botões e painéis coloridos, tipo aqueles de hospital.

O velho estava fazendo anotações em sua prancheta e verificando o que parecia ser várias baterias de caminhão, uma em cima da outra. Os fios de dentro da jaula estavam ligados nas baterias.

"Já trouxemos o merdinha, pai. Será que eu posso ir, agora? Tenho a porra de um exército pra treinar." Disse Ripple.

O velho enfim olhou para nós. Ele sorriu quando me viu, mas havia algo congelante em seu sorriso. Assim como o imperador ele não sorria com os olhos, apenas com os dentes, igual a um boneco de cera.

"Ah, enfim nos conhecemos, Oráculo Leviathan. Eu sou o General Jitter Beaufort, mas pode me chamar do que quiser." Ele largou a prancheta no trono e destrancou a porta da jaula. "Pode dispensar seus soldados, Ripple, mas você fica. Preciso de ajuda com o experimento."

Ripple bufou e fez um gesto estúpido com a mão. Bernàr me soltou e foi embora junto com os outros dois.

Não havia algemas nos meus pulsos nem cordas nas minhas pernas, ainda assim eu permaneci mortificado no mesmo lugar. Ripple estava certo, para onde eu fugiria? E o que era aquele experimento?

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora