Capítulo 20

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Levi


Eu me sentei no o tapete macio e assisti o fogo da lareira ondular, abraçado nas minhas pernas. O senhor Wolfgang foi gentil em acender a lareira para mim, embora o frio noturno de Mowapiskat nem se comparasse à temperatura dos calabouços.

Finalmente a liberdade. Eu tentava me convencer de que o pior havia terminado, mas ainda parecia um sonho. Inúmeras vezes eu senti Rayner nos meus braços apenas para depois acordar no mesmo chão de pedra, eu tinha medo até de piscar, reabrir as pálpebras e dar de cara com o teto de gelo da minha cela.

O Mestre Daoshin e o Ronan foram minhas únicas companhias durante tanto tempo, agora um estava morto e o outro foi embora. Eu não deveria me sentir sozinho, mas era como se houvesse um buraco no meu coração. Conversar com os meus pais foi um alívio enorme, mas o Rayner nem quis saber de nada do que passei.

Meus olhos nublaram de novo. Será que o Rayner só sentiu falta do meu corpo? Não fazia sentido, ele nem podia sentir prazer ainda. E ainda assim ele sabia tantas coisas diferentes. Eu sempre imaginei que ao reencontrá-lo a gente continuaria de onde parou, errei ao pensar que ele continuaria o mesmo?

Não era como se Rayner fosse meu namorado, ele podia sair com quem quisesse, mas considerando-se que eu estava preso em parte por culpa dele, ele poderia ter me esperado.

Droga... Eu não deveria ter aceitado transar, pensei que eu fosse acabar curtindo, mas eu só me sentia um lixo usado. Eu tinha tanto a contar pro Rayner, tanto a ouvir, acabei dizendo que eu o amava chorando quando sempre pensei que falaria rindo, feliz nos braços dele. Que idiota eu era.

Eu só queria o Rayner de volta, o meu Rayner, das minhas memórias.

Alguém abriu a porta do quarto. Rayner enfim havia retornado depois de sumir sem motivo. Ele estava trazendo uma sacolinha que cheirava gostoso e outra sacola maior de papel, com um logotipo de loja.

Ele sentou ao meu lado e me entregou a sacola maior.

"O que é isso?" Eu enfiei a mão dentro e puxei um punhado de tecidos.

"Imaginei que estivesse sentindo falta de roupas. Desculpe se errei seu gosto, comprei de vários tamanhos para ao menos alguma calça te servir."

Eu abri por cima do colo uma linda calça jeans, daquelas com joelhos rasgados e cintura baixa. Era um modelo justinho e escuro, parecido com o que eu usei durante a viagem de carro. As camisas também eram do meu tipo favorito, estilosas sem exagero, e também havia um tênis Converse do meu número e diversas meias e cuecas. Rayner demorou porque estava escolhendo roupas pra mim?

"Obrigado, eu adorei." Eu sorri, tentando engolir a tristeza. "Mas também adoro esse casaco, tem o seu cheiro."

"Você sempre gostou do meu cheiro, não é?" Perguntou ele, enquanto tirava caixinhas de isopor da outra sacola.

"Seu cheiro faz coisas estranhas comigo, mas eu gosto. Sentia falta de verdade."

Rayner me entregou uma das embalagens. Eu abri intrigado.

"Cachorro-quente!" Meus olhos se iluminaram. Comida normal! Parecia tão delicioso, coberto com tanto queijo cheddar que até transbordava dos lados.

"Bom apetite." Ele pegou seu próprio cachorro-quente. "E me desculpe por antes."

Eu não sabia o que responder, então só comi o meu jantar em silêncio, olhando para o fogo. Era tão bom quanto parecia, a salsicha, o molho, o pão... dava vontade de chorar e eu nem sabia se era de alegria ou tristeza.

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora