Capítulo 17

377 61 14
                                    

Rayner


Eu esperei Levi sumir de vista, contei até cinco, então agarrei o pescoço daquele animal e bati suas costas contra uma árvore.

"Explique-se." Eu rosnei na cara dele.

"Me explicar?" O imbecil sorriu com surpresa, como se realmente esperasse um agradável passeio pela cidade. "Não tenho nada a esconder. O bonitinho precisava de ajuda e eu o ajudei, só isso."

"Por que um Beaufort ajudaria o Oráculo? Espera que eu acredite que você é uma rara flor no meio daquele esgoto que é Faerynga?"

"Você me chamou de flor? Assim eu fico ainda mais apaixonado."

Eu soltei o pescoço daquele cara e me afastei, enojado. Qual era o problema dele? Era óbvio que estava ocultando algo, mas era impossível separar o fingimento da personalidade idiota dele.

"Faerynga sempre foi um mistério para os Cratilienses, é a capital do nosso império e ao mesmo tempo tão distante, envolta em mistérios e boatos sombrios. Imagine a minha surpresa quando um informante meu contou que todos os boatos eram verdadeiros, que Faerynga é uma distopia governada por um sociopata." Eu disse.

Doppler massageou o pescoço, ainda vermelho pelo apertão. Mesmo dolorido ele sorria como um estúpido.

"Este seu informante é o príncipe Rickett, estou correto?"

Eu estremeci e recuei um passo. Merda, como ele descobriu?

"Claro que não, sou um selkie foragido, mas não sou completamente desinformado quanto aos eventos do império. O príncipe Rickett foi executado após um terrível mal-entendido em Faerynga."

"Você é um péssimo mentiroso, Rayner Schwanz, eu gosto disso. Significa que você é naturalmente honesto." Ele riu baixinho, brincando com a conchinha em sua orelha. "Em Faerynga você também seria uma rara flor, uma que os faeryngos adorariam arrancar as pétalas."

"Pare de falar coisas esquisitas!"

"Meus pais costumavam me dizer que bons sentimentos devem sempre ser retribuídos, então por me revelar que Rickett Walrosse ainda está vivo, permita-me uma confissão: os poderes do oráculo não me interessam em nada."

"Então por que o salvou?"

"Era a ocasião perfeita para fugir de Faerynga e dizem que viagens são sempre melhores com boas companhias. Especialmente a companhia de um quase-ômega tão sedutor."

Meu coração acelerou. O que era este medo que me embrulhava as entranhas?

"Bem, se você queria fugir de Faerynga, já conseguiu. Fique longe do Leviathan." Eu apontei o dedo na cara dele.

Doppler notou a fúria nos meus olhos e riu alto, se divertindo.

"Este é você tentando me intimidar? Eu cresci em Faerynga, bonitão." Ele afinou o sorriso. "Admito que eu não pretendia envolver mais ninguém nos meus planos, mas o oráculo é tão fascinante... tenho certeza de que você concorda comigo."

"O que está insinuando?"

"Eu e o Oráculo conversamos sobre tantas coisas, alguns assuntos mais interessantes do que outros." Doppler estendeu a mão e, sorridente, afagou o meu cabelo. "Os seus cabelos negros são a parte mais bonita de você."

"Sai fora, cara." Eu estapeei a mão dele. Minhas pernas tremiam, o meu coração parecia ter agulhas. O que Leviathan contou a ele, exatamente?

Doppler admirou os arredores, provavelmente tudo para ele era uma novidade, incluindo os poucos carros que passavam e as galinhas que ciscavam ali perto.

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora