A sala de operação surgiu logo ao final do corredor, o sinal de em cirurgia estava desligado.
Era a minha primeira vez em um hospital desde que o papai Maikon precisou retirar o apêndice. Eu não gostava do fedor de iodo e do silêncio mórbido, que naquele hospital era idêntico ao de Bobcat Hollow. De qualquer forma, o aviso apagado significava que os visitantes já podiam entrar.
Eu segurei a barra de abrir e então Rayner pôs a mão no meu ombro.
"Vai na frente, Leviathan. Preciso ter uma palavrinha com..."
"Este cheiro." Ronan farejou o ar e expandiu os olhos. "Eu conheço este cheiro!"
"Ronan, antes que entre eu preciso prepara-lo para..." Começou Rayner.
Ronan empurrou Rayner para um lado, me empurrou para o outro e escancarou as portas da sala.
Lá dentro havia um monte de gente, uma médica loira, um enfermeiro com um olho de cada cor, aquele peste do Cinnamon e também o Doppler, que estava com um curativo na dobra do braço.
"O Oráculo." Disse o enfermeiro, como se eu fosse uma celebridade.
Eu não sei atenção a ele, porque o meu foco estava na cama ao centro da sala. Ronan já estava ao lado da cama, com a mão na boca e lágrimas derramando dos olhos.
Eu me aproximei com Rayner, mais temeroso a cada passo.
Deitado na cama estava um selkie de cabelos brancos raspados nas laterais. Havia olheiras escuras sob seus olhos cor-de-rosa e ele estava tão magro que dava pra ver os ossos das bochechas. Ele estava olhando para o Ronan emudecido, como se visse um fantasma.
"Ronan?" Ele começou a chorar. "Ronan, é você mesmo?"
"Rickett..." Ronan se jogou sobre ele e o abraçou, chorando tanto que não deu pra entender nada do que dizia.
Rickett o abraçou devagar, obviamente sob o efeito de remédios fortes.
"Calma, amor. Vai machucar ela."
"Ela?" Ronan se levantou e reparou em uma pequena trouxinha nos braços do Rickett. Eu mesmo não havia reparado antes porque era tão pequena, mas estava se mexendo.
Ronan abriu as abas da trouxinha e quase teve um troço.
"É ela?" Perguntou ele.
"Aham." Rickett sorriu, ainda choroso. "Nossa princesa Rosaline."
Ronan travou, mais parecia uma estátua. Após alguns segundos ele se inclinou para pegá-la e recuou, como se a bebê fosse se derreter ao menor toque. Então ele a afagou com a pontinha do dedo e desabou a chorar ainda mais.
"Ela é tão pequenininha." Disse Ronan.
"Sim, ela quis nos conhecer mais cedo. É impaciente como o pai alfa."
"Eu pensava que vocês... que vocês..."
"Shhh, está tudo bem, Ronan." Rickett segurou a mão dele, espiou na minha direção e voltou a olhar para ele. "Nós estamos juntos, agora."
"Ela abriu a boca. Ela abriu a boca, Rickett, ela não tem nenhum dente!" Ronan mexeu na trouxinha, por um momento de relance eu vi os dedinhos da bebê abrindo e fechando. "Ela fechou a boca de novo!"
Rickett meio que riu, estava dopado demais para rir de verdade.
Eu não conseguia ver nada e a curiosidade estava me matando, mas fiquei com Rayner próximo à porta, o casal merecia aquele momento entre eles.
Do meu outro lado ouvi alguém soluçando. Quando vi quem era eu me segurei para não rir.
"O quê, você está chorando, Cinnamon? Deste jeito vou pensar que existe um coração em você." Eu disse.
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O Arauto da Destruição [AMOSTRA]
RomanceAMOSTRA: 30% da história disponível. Leia completo na loja Kindle da Amazon! Dividido entre a normalidade de sua vida estudantil e a intensa, porém perigosa, jornada como Oráculo dos Tritões, Leviathan precisa tomar decisões que mudarão para sempre...