Levi
"Roda a bunda na vara e vai, roda a bunda na vara e vai..." Eu cantei e bati palmas empolgado, no ritmo da música. "Desce, desce, sobe, sobe... não, mestre, não é assim! Mais energia nestas suas reboladas!"
No lado oposto da nossa estreita cela, mestre Daoshin agachou seu corpo raquítico até sua coluna estalar. Ainda com a bunda empinada ele segurou as costas e gemeu.
"Jovem oráculo, creio que a cultura do seu povo esteja além da minha compreensão." Resmungou ele. "Qual o propósito de cantar enquanto rebola? Os humanos não sabem se reproduzir em silêncio?"
"Não é uma dança sexual, aliás, não necessariamente, e nos Estados Unidos nós temos rádios, aparelhos que cantam pra gente." Eu coloquei as mãos na cintura. "Qual é, você mesmo pediu que eu lhe ensinasse coisas legais, também."
"Eu pensei que o Digníssimo tivesse ensinamentos úteis!" Disse ele.
"Dançar funk é melhor do que útil, é divertido! Além do mais, esta não é uma música qualquer, é a nossa música." Eu esfriei o rosto nas mãos, sorrindo como um bobo.
Mestre Daoshin sentou-se no chão em posição de lótus, soltando um suspiro de desistência.
"Já está pensando em macho de novo. Que garoto sem salvação." Ele esfregou as têmporas.
"Não é qualquer macho, já disse que o nome dele é Rayner." Só de ouvir o nome saindo da minha própria boca eu ri sozinho e me sentei contra a parede, aquecido pelas lembranças. "Você nunca entenderia, mestre. Ele é lindo, atencioso, faz coisas burras às vezes, mas tem um coração doce que eu sei que bate apenas por mim."
"Claro que entendo, eu já fui jovem um dia." Mestre Daoshin limpou nossa tigela na poça do canto e a encheu com água limpa. "Claro que eu nunca me apaixonei pelo inimigo e fugi de casa para corromper meu corpo e ser sequestrado por um império de sádicos, mas entendo como se sente."
"Por que eu sinto que você está sendo sarcástico?"
"Já aprendi mais do que o suficiente, vamos voltar para aulas que não sejam idiotas." O mestre ajeitou a tigela diante de suas pernas cruzadas e me chamou com a mão.
Eu fiz um beicinho indignado.
"Se você conhecesse o Rayner não pensaria assim. Quando dancei esta música sabe como ele me olhou?"
"Completamente constrangido?"
"Não! Aliás, sim. Quer dizer, eu estava bêbado demais para me lembrar, mas acho que ele gostou porque naquela mesma noite nós fizemos amor e foi tão, tão, tão gostoso."
"Por tudo o que é sagrado vamos mudar de assunto. Se eu tiver que vê-lo de pau duro de novo vou bater minha cabeça nessa parede até me matar." Ele disse.
"Ué, desculpa se eu preciso ficar pelado, mas nós só temos um casaco e eu sou gentil com os idosos." Eu segurei o riso, adorava tirar o velho mestre do sério. "Tá bom, tá bom, qual vai ser minha aula de hoje?"
Eu sentei diante da tigela enquanto o mestre removia o tijolo frouxo na parede. Do vão logo atrás ele puxou a Safira do Oráculo, que pulsava em lindos tons de azul.
Foi difícil conter minha empolgação. Por muito tempo o mestre me proibiu de tocar na Safira, antes eu precisava aprender o básico, como expandir e controlar minha energia natural. Treinar com a joia era um progresso recente e emocionante.
Cuidadosamente eu peguei a joia das mãos do mestre. Eu ainda não podia usá-la no pescoço, mas o mestre já me permitia que eu a segurasse com as duas mãos.
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O Arauto da Destruição [AMOSTRA]
RomanceAMOSTRA: 30% da história disponível. Leia completo na loja Kindle da Amazon! Dividido entre a normalidade de sua vida estudantil e a intensa, porém perigosa, jornada como Oráculo dos Tritões, Leviathan precisa tomar decisões que mudarão para sempre...