Capítulo 07

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"Doppler, nós vamos afundar!!" Eu gritei lutei para segurar o leme no lugar enquanto o barco subia e despencava do topo das ondas. "Os icebergs, Doppler, o redemoinho! Faz alguma coisa!!"

"Calma, eu estou tentando." Doppler continuava apertando todos os botões aleatoriamente. "Vira o leme quinze graus a estibordo."

"Eu não sei o que é estibordo! E quinze graus é uma temperatura pra mim!"

O redemoinho crescia no nosso campo de visão, parecia o rodopio do ralo de uma pia, só que um zilhão de vezes maior. A chuva gelada e os trovões também não ajudavam em nada, o navio parecia um barquinho de papel alumínio perto de tantos icebergs.

"Hmm..." Doppler olhou para o painel, depois para o redemoinho, e de volta para o painel. "É, a gente se complicou."

"Não diz isso!" Eu gritei, tentando ser ouvido no meio do turbilhão. "Me diz que dá pra nos tirar dessa! Não tem outra rota, qualquer coisa?"

"Claro que não, se tivesse outra saída o Oráculo Aurelian não perderia tempo criando essa coisa." Disse Doppler.

"Oráculo Aurelian? O que nasceu antes de mim?" Era difícil pensar e lutar pela vida ao mesmo tempo, mas já estava se tornando um hábito. "Está dizendo que ele criou esta tempestade horrível?"

"Ninguém sabe como ele fez, mas depois que o bisavô Macalor quebrou a trégua e dizimou Zhang Qi o Oráculo Aurelian criou a Garganta do Demônio para que não se repetisse." Doppler riu, admirando os blocos de gelo que voavam por cima de nós, sendo jogados de um tsunami para o outro. "Claro, isso já faz bastante tempo, hoje existem barcos modernos capazes de atravessar tempestades assim."

"E este não é um destes barcos modernos, estou certo?"

"Este definitivamente não é um bom barco."

Um estrondo nos arremessou para trás. Um iceberg havia atingido a ponteira, por algum milagre não quebrou o barco ao meio.

Droga, eu deveria ter amarrado o Ronan naquela cama, e se ele se machucou ainda mais? Assim que o barco se endireitou eu me levantei corri para fora da cabine de comando.

"Espera, é perigoso sair!" Doppler tentou levantar para me segurar, mas patinou no chão molhado e caiu de novo.

"Já volto, preciso ver se o Ronan..."

Outro iceberg atingiu o barco por baixo e me catapultou no ar. Eu estendi o braço e tentei segurar a mão do Doppler, mas o barco seguiu adiante e eu despenquei de cabeça num bloco de gelo.

***

Enfim o tenho em meu abraço.

A taça entre cem ânforas.

Receptáculo da minha dádiva.

Eu abri os olhos devagar e massageei minha cabeça. Por algum milagre eu estava inteiro.

Por um tempo imaginei que estivesse sonhando, mas o cenário surreal era verdadeiro: O mar rodopiava furiosamente ao meu redor, arrastando consigo pedras, gelo, todo tipo de coisa, mas nada me acertava. Eu deveria estar sendo arrastado também, mas sequer sentia a corrente marinha. A minha cauda dourada oscilava sem esforço.

Então aquele era o mar... Eu me sentia estranho, nauseado, e ao mesmo tempo queria dar risada. Era uma sensação prazerosa, a correnteza brutal não passava de uma carícia na minha pele.

A Safira do Oráculo pulsava no ritmo do meu coração, liberando flashes azulados que desapareciam na distância escura. Ela queria que eu dissesse algo.

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora