Capítulo 12

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Levi


Nossa, dormir em uma cama normal era tão bom!

Após uma longa e confortável noite de sono eu me espreguicei e fui verificar Ronan no beliche ao lado. Sua pele já estava branquinha e sem marcas, foi uma boa ideia recuperá-lo com os meus poderes. Infelizmente não consegui acordá-lo, mas pelo menos ele parecia estar dormindo mais tranquilo sem todos aqueles machucados.

Quando será que ele iria acordar? Talvez a água marinha ainda fosse fria demais para curá-lo completamente, mas quando Ronan acordasse ele teria uma surpresa: eu aparei seu cabelo até a cintura e, com a ajuda do Doppler, também o alimentei com muitos peixes e refeições decentes para um tritão. Era um alívio vê-lo ganhar peso.

Aliás, Ronan não era o único parecendo mais saudável. Doppler também estava... bem diferente de quando o vi pela primeira vez. Talvez fosse rude questioná-lo, mas a cada dia eu ficava mais intrigado.

Eu arrumei o cabelo diante do espelho, vesti meu casaco e fui para o lado externo do barco. Doppler havia deixado no piloto automático e estava sentado na beirada, admirando o mar.

Eu me sentei ao seu lado.

"Pensei que dormiria até mais tarde." Disse Doppler.

"Acho que já descansei o bastante. E você? Ainda estava acordado quando fui dormir e já está de pé."

"Nunca gostei muito de dormir. Quando se vive em Faerynga até dormir é complicado."

"Você odiava morar lá, né? Quer dizer, não te culpo por isso, é uma cultura bem diferente."

"Eu não diria que cultura é a palavra certa." Doppler brincou com seu brinco de concha, distraído. "O Imperador Macalor acredita que apenas o ódio pode fortalecer os selkies contra o inimigo. Todos os Faeryngos aprendem desde cedo a odiar, desprezar, agredir... demonstrações de afeto são punidas cruelmente."

"Por isso você ficou tão doente?" Eu avermelhei ao perceber minha grosseria. "Digo, não que você parecesse um cadáver, aliás, não muito, ah desculpa."

Doppler riu e tirou algo do bolso. Ele colocou na minha mão um punhado de coisinhas gelatinosas e brancas.

"Eca, o que é isso?" Eu me controlei para não jogar tudo na água.

"São anêmonas-maniçoba. Quando frescas elas funcionam como analgésico e aliviam diversas enfermidades. Desde que os meus pais se foram o meu avô Ripple passou a coletar destas anêmonas diariamente para tentar me curar."

O nome daquele general desgraçado me fez estremecer.

"Bem... considerando-se que afeto é um crime em Faerynga, até que o seu avô era bem legal com você. Mas eu posso ser sincero? Você parece muito melhor agora que está longe daquele castelo."

Doppler riu. Havia um brilho misterioso em seus olhos sempre que ele olhava adiante, onde o céu e o mar se encontravam.

"Então você ainda não percebeu? Poxa, bonitinho, depois de ser capturado e aprisionado deveria ter ficado mais esperto."

"Como assim?"

Doppler vasculhou bem no fundo dos bolsos até encontrar o que procurava. Ele colocou em minhas mãos outra anêmona gelatinosa, mas esta era preta.

"O problema das anêmonas-maniçoba é que elas escurecem após certo tempo e se tornam bastante tóxicas. Os sintomas incluem apatia, ressecamento da pele, anemia, tontura e, em casos extremos, morte."

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora