Alguns dias antes
Cinnamon
O professor Belchior terminou de escrever o conteúdo na lousa e virou-se para a turma. Com a sua régua ele apontou para o mapa aéreo de Cratília.
"Muito bem, queridos, como eu estava explicando, a primeira cidade do Reino dos Selkies foi Roori, fundada pelo Arquiduque Rhemus antes mesmo do Imperador Macalor instituir Faerynga como a capital soberana da nossa raça. Fazendo divisa com Roori nós temos Blanche ao sul, Trysse a oeste, e, separada por vários quilômetros de geleiras ao leste..."
Um erro. Eu levantei a mão e acenei para ser visto, não que o professor Belchior tivesse problemas para me avistar no meio da primeira fileira de classes: era um posicionamento estratégico que me permitia ter 100% de aproveitamento do conteúdo letivo.
O professor sorriu para mim. Poucos professores apreciavam minhas correções, mas o professor Belchior era um ômega bondoso que lecionava História dos Selkies desde a pré-escola. Ele me concedeu a palavra com um gesto de sua régua.
"Pois não, Cinnamon?" Disse ele.
"Agradeço, professor. Embora o senhor esteja correto sobre a localização de Trysse é um equivoco considerá-la uma cidade de divisa com Roori, pois após a Grande Avalanche a cidade se dividiu entre Velha Trysse e Nova Trysse, esta última, sim, faz divisa com a capital onde residimos." Eu disse.
"Mais uma ótima observação, Cinnamon. Eu pretendia ensinar sobre Trysse na próxima aula, mas vejo que já decorou todo o livro didático deste semestre."
"É o mínimo que o senhor, como professor, deveria esperar de seus alunos." Eu disse.
"Mimimimimi mimimimi mi mimimimi." Imitou Taylor, um quase-alfa idiota que sempre sentava no fundão com seus amigos ignorantes.
Os outros colegas riram da idiotice dele.
"Gostaria de contribuir para a aula, Taylor Ganymede?" Perguntou o professor.
"Não senhor, professor." Taylor desceu as pernas de cima da mesa e endireitou a postura.
"É uma pena, porque seu boletim está precisando de uns pontinhos a mais. Um selkie de alta casta como você deveria seguir o exemplo do Cinnamon, que nunca tirou menos do que dez."
"O que eu poderia aprender com um rabo-de-escama asqueroso? A perder escamas e feder?" Debochou ele, o que causou ainda mais risadas da turma.
"Já chega, Taylor, já disse que não vou permitir preconceito na minha sala de aula. Quando o sinal tocar eu quero vê-lo na diretoria."
Taylor permaneceu bem calado e deixou o professor continuar sua aula.
Satisfeito por ter feito a minha parte, eu continuei anotando a matéria no meu caderno novo, que estava ficando ainda mais caprichado que os dois últimos que comprei naquele ano.
***
Quando o sinal tocou eu guardei meu material na mochila e deixei a escola. Era sexta-feira, então a maioria dos meus colegas havia se reunido em grupinhos para fazer planos para o final de semana.
Ninguém me procurou nem para dar tchau, não que eu me importasse. Finais de semana eram perfeitos para revisar o conteúdo da semana e tirar dúvidas com o papai Yoshan.
Havia nevado durante a aula, então uma camada de neve fofa cobria o pátio frontal da escola. Era bonito, embora fosse difícil de caminhar. Os meus colegas do clube de conchobol aproveitaram para fazer uma guerra de bolas de neve e algumas criancinhas da pré-escola se divertiam esculpindo bonecos. Fascinava-me ver o quanto todos gostavam da neve, quando neve era tudo o que existia em Cratília.
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O Arauto da Destruição [AMOSTRA]
RomanceAMOSTRA: 30% da história disponível. Leia completo na loja Kindle da Amazon! Dividido entre a normalidade de sua vida estudantil e a intensa, porém perigosa, jornada como Oráculo dos Tritões, Leviathan precisa tomar decisões que mudarão para sempre...