Capítulo 25

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Cinnamon


Ai, minha barriga doía. Eu me sentia um ômega grávido, exceto que meu suposto bebê era uns cinco bifes de beluga, que eu comi um após o outro durante a agitada festa no hotel.

Quando caçamos a baleia imaginei que seria apenas para nos alimentarmos, mas claro que o Oráculo decidiu transformar em um evento com música alta e luzes piscantes no pátio do hotel. Ele entristeceu quando o príncipe Ronan se recusou a comparecer, mas depois da terceira lata de cerveja ele já estava rebolando no colo do Rayner. Depravado.

Apesar de festas serem uma total perda de tempo eu me flagrei diversas vezes rindo e contando histórias irrelevantes, que o Oráculo e os outros ouviam com atenção enquanto a carne assava na fogueira.

Preocupado em ser contaminado com os hábitos culturais medíocres daquele oráculo, eu inventei uma desculpa qualquer para ir embora, agora me enraivecia notar o quanto eu estava arrependido. Já era final de tarde e a festa já devia estar acabando, eu não sabia quando me convidariam para outra novamente.

Ah, dane-se, tanto melhor que nunca mais me chamassem para eventos desnecessários. Um Amalona devia se preocupar em expandir seus horizontes científicos, e não aprender a rebolar para músicas de teor obsceno.

Além do mais, foi ótimo eu ir embora mais cedo, eu precisava mesmo limpar o barco e deixa-lo impecável para receber meus tios. Segundo as sábias palavras do papai Cordelen o nosso espaço pessoal é um espelho das nossas mentes. Eu queria causar a melhor impressão possível na tia Babelyn e no tio Taimen.

Só que após pouco tempo eu já havia organizado tudo, a sala de jantar do iate estava mais limpa do que quando comecei a viagem. Eu não queria pensar na festa que eu estava perdendo a troco de nada, então abri o livro do papai Yoshan sobre a mesa de refeições para ler novamente.

"História do Clã Makaira, um Estudo Genealógico..." Eu li o título em voz alta e folheei as páginas, tentando me lembrar em qual eu havia lido sobre certa Safira do Oráculo.

Era um palpite fraco, mas após ler o livro cinco vezes eu ainda não compreendia o porquê do papai Yoshan tê-lo emprestado para mim. O desgaste das páginas, a escrita artesanal e a capa antiga denunciavam que aquele era um tesouro inestimável, por mais que o meu pai confiasse em mim ele não me emprestaria apenas para me distrair durante a viagem. E então naquela manhã, durante a caçada, eu enfim sentia estar descobrindo a resposta.

Desde o primeiro momento eu estranhei a joia azul no pescoço do Oráculo, não estava ali quando o capturei e dificilmente teria sido um presente dos selkies durante seu aprisionamento. Eu presumi que fosse um presente de boas-vindas do Rayner, mas a minha conclusão se mostrou precipitada.

Não havia dúvidas, quando o Oráculo matou a baleia a joia brilhou. Se aquela coisa não era um pingente comum então errei ao ignorar certos trechos do livro, confundindo-os com mitologia.

Eu reencontrei a menção à Safira do Oráculo que eu estava procurando. Era na biografia de um antigo oráculo, ele havia utilizado seus poderes para destruir um monstro marinho que se alimentava de tritões. Com um gesto da mão ele transformou bolhas em cristais afiados, que perfuraram a criatura até que lembrasse uma rede de pesca.

Intrigante. Havia semelhanças, mas Leviathan não transformou nada em cristais. Ele mais parecia ter rasgado a água ao meio e com isso a baleia rasgou junto.

Talvez eu estivesse enganado. Se havia mesmo uma joia amplificadora dos poderes de um oráculo, eu já teria ouvido falar. A derrota do tirano Aurelian era um assunto recorrente em todo o império e ninguém nunca mencionou joia alguma em seu pescoço.

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora