Capítulo 04

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Édrilan


Eu estava inspecionando os tridentes no porão do navio quando, novamente, as mensagens telepáticas atrapalharam minha concentração.

<< Édrilan, é sério, onde você está? Volte logo pra casa, estou preocupado!>>

Eu já disse, Moyren, estou apenas em uma pequena viagem de caça, logo vou retornar com um peixe delicioso e exótico para você. Eu respondi, tentando ocultar minha impaciência.

<< O segundo irmão e o Rei Yun estão histéricos! Primeiro desaparece nossa muralha de bombas e depois todo o exército que deveria proteger Egarikena! Estamos em guerra, Édrilan, me diz que não tá envolvido nisso! >>

Eu verifiquei novamente a contagem de tridentes. Estranho, o número simplesmente era incompatível com a quantidade de soldados.

Não se preocupe, meu amor, não estou envolvido em nada perigoso. Eu falei por telepatia enquanto retornava ao deque do navio.

<<Eu quero acreditar nisso, Édrilan, mas você não facilita! Por que bloqueou sua mente para mim? Você nunca abusou dos seus poderes de Amalona, antes! Por favor, me explica o que está acontecendo. Já perdemos tantos filhos, eu não suportaria perder...>>

Eu bloqueei minha telepatia completamente e tentei ignorar o aperto de culpa no meu coração. Moyren compreenderia quando tudo estivesse terminado.

No deque do navio havia centenas de tritões Kampango e também alguns soldados de outros clãs. A maioria raspava o gelo que se formava nas estruturas metálicas ou então descansava, se preparando para a batalha iminente.

O navio trepidava ao colidir com as geleiras e a chuva caía tão pesada que era comum os tritões se transformarem por acidente. O céu cinza e o mar negro pareciam determinados a nos empurrar para o redemoinho massivo da Garganta do Demônio, mas aquele era o maior e melhor navio do exército de Egarikena então não havia nada a temer.

A temperatura não assustava nossos soldados, nem muito menos ao General Fran, que naquele momento conversava com a Tenente Mareleen bem na ponta da embarcação, onde o choque das ondas era mais violento.

Eu detestava aquele general arrogante, mas suportá-lo era um mal necessário para obter minha vingança. Eu me aproximei dele e da jovem tenente Kampango para prestar-lhes meu relatório.

"General, receio ter havido um grave erro nos seus cálculos, temos tridentes para apenas 78% dos soldados." Eu disse.

O General moveu a cabeça o bastante para eu saber que ele havia me escutado, permanecendo sério e sombrio como sempre. Ele era um simples ômega Gobio-Gobio, mas quem não reparasse em seus olhos verde-folha o confundiria com um Trevally ou Kampango, de tão obstinado e sedento por combate.

General Fran olhou adiante, sem piscar apesar da violência do vento. A bombordo do navio o oceano rodopiava brutalmente até desaparecer nas profundezas, mas nem ele ou a jovem Mareleen pareciam se importar com o pequeno inconveniente.

"Logo deixaremos a zona da Garganta do Demônio, então ao meu sinal quero todos os soldados nadando para Faerynga. O inimigo certamente já percebeu nossa invasão, então este será um ataque frontal em que vencerá o mais forte." Disse o General.

"Compreendido, General Fran." Mareleen prestou continência, quase derrubando o quepe de seu cabelo de pom-pons pretos. Ela endireitou o corpo e afinou seus olhos com uma ira que não deveria existir em uma garota de sua idade.

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora