Capítulo 27

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Antes mesmo de o avião decolar a confusão começou. Devia ter umas dez poltronas livres naquele jatinho e Doppler escolheu sentar bem do meu lado.

Quando Rayner voltou do banheiro e se deparou com a cena pareceu que Doppler iria, sim, voando para Bobcat Hollow, só que arremessado pelos ares.

"O que significa isso?" Rayner perguntou para mim, que estava sentado quietinho na poltrona da janela. A culpa era minha, por acaso?

Doppler estava se divertindo demais para perceber as encaradas do Rayner. Ele abriu uma gaveta no braço da poltrona e deu um grito empolgado.

"Olha isso, tem latas aqui dentro!" Ele pegou as latinhas de Coca-Cola e agitou. "Faz um zunido por dentro! Ah, voar de avião é tão legal!"

"Nós ainda nem levantamos voo, Doppler." Eu ri nervoso, Rayner se enfurecia mais a cada segundo.

"É tão gratificante viajar com vocês! Nem acredito que vou conhecer mais territórios humanos e também o lar do meu grande amor." Doppler pegou minhas mãos e quase as beijou, mas Rayner agarrou o pescoço dele primeiro.

"Quer morrer?" Rayner expôs seus caninos ferais.

"Calma, bonitão, ciúme é um péssimo sentimento, o que o oráculo vai pensar de você?"

Na verdade eu só sentia alívio. Doppler era legal, mas não era no colo dele que eu pretendia dormir nas próximas oito horas.

"As poltronas ali atrás também são confortáveis, Doppler, e terá espaço para deixar sua mochila gigante." Eu falei com calma, não queria ser frouxo, mas também não queria magoá-lo.

"Tá bem, tá bem, eu preciso mesmo guardar estes peixes no freezer. Depois disso podemos jogar alguma coisa, dizem que durante as viagens..."

"Aqui está uma ideia melhor: você senta lá de boca fechada e eu não te arrebento." Disse Rayner. "E devolve nosso refrigerante."

As grosserias do Rayner me irritavam às vezes, mas pelo menos Doppler devolveu as latinhas e liberou a poltrona, fazendo beiço.

Rayner sentou ao meu lado e eu o abracei. O ar condicionado era gelado, o que deixava seus braços quentes ainda mais aconchegantes.

O piloto nos repassou instruções para durante o voo. Nós três afivelamos nossos cintos de segurança e logo depois o avião acelerou e tomou os céus.

Através da janelinha oval Mowapiskat foi diminuindo até sumir abaixo das nuvens. Eu realmente estava indo pra casa, era tão difícil de acreditar!

"E se o avião cair?" Rayner estava tendo sérias dificuldades de olhar para as janelas.

"Não vai cair." Eu disse.

"E se cair nós vamos morrer rápido demais para ter qualquer sofrimento." Disse Doppler, no banco logo atrás do Rayner.

Rayner me abraçou firme, suando frio.

Eu dei um beijinho na bochecha dele.

"Doppler só está brincando, calma."

"É sério, é mais provável sobreviver à uma avalanche do que a um acidente aéreo." Disse Doppler.

"Eu acho que preciso ir ao banheiro de novo." Disse Rayner.

"Deixa disso. Olha só, achei cobertores." Eu puxei um cobertor felpudo de baixo da poltrona e nos cobri com ele. "Que tal? Mais confortável?"

"E se nós sobrevivermos, mas sem as pernas?" Perguntou Rayner.

"Acho improvável, as artérias seccionadas escoariam todo o nosso sangue em questão de segundos." Disse Doppler.

"Chega, vocês dois!" Eu disse. "Rayner, por que não se distrai nos servindo um refrigerante?"

O Arauto da Destruição [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora